Um ano após a instalação do protocolo que tornou HM referência no atendimento, os ganhos são visíveis
Desde que implantou o protocolo de atendimento, em abril do ano passado, o Hospital Montenegro acolheu a 157 pessoas vítimas de Acidente Vascular Cerebral (AVC). A incidência é alta e representa quase um caso a cada dois dias nos 14 municípios da região. A doença é a segunda causa de morte no mundo, mas graças ao serviço especializado oferecido no HM, aqui, a grande maioria dos pacientes sobreviveu. Alguns, logicamente, com sequelas.
Os números de salvamentos deste primeiro ano de funcionamento do serviço ainda estão sendo tabulados, mas o neurocirurgião Carlos Adamy, coordenador do programa, tem certeza de que os resultados são excelentes. As chances de salvar uma vítima de AVC são muito maiores se o diagnóstico for confirmado até 4 horas e meia depois da ocorrência. Com o atendimento médico sendo realizado na região, o que dispensa as demoradas e difíceis remoções até cidades maiores, a taxa de óbitos certamente caiu.
A implantação do protocolo transformou o Hospital Montenegro em referência no tratamento dos AVCs. Até então, chegavam à instituição de três a seis pacientes por mês com este tipo de diagnóstico e praticamente todos eram mandados para Canoas e Porto Alegre. Hoje a média é de quase 15. Eles ficam em torno de 24 horas na unidade e depois são encaminhados para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou para os quartos.
O tempo médio de internação varia muito de um caso para o outro. Segundo Adamy, há pacientes jovens que, dois ou três dias após o primeiro atendimento, já podem ir para casa. Pessoas mais velhas e com outros problemas de saúde, agravados pelo AVC, chegam a ficar mais de dois meses internadas.
O médico Fabrício Fonseca, diretor técnico do Hospital Montenegro, explica que, para prestar o serviço, a instituição recebe uma verba mensal de R$ 98 mil do Ministério da Saúde. Com o recurso, mantém uma equipe em prontidão, como neurologista 24 horas por dia sete dias por semana, além de outros profissionais, como enfermeiros e técnicos. “O custeio da Saúde é tripartite. Significa que a manutenção do serviço de AVC deveria ser custeada pelo governo federal, pelo Estado e pelo Município, mas apenas a União contribui”, lamenta.
O elevado número de casos diagnosticados na região, segundo Adamy, tem relação direta com o estilo de vida da população. Sedentarismo, consumo de álcool, tabagismo e alimentação rica em gordura predispõem as pessoas a doenças que podem resultar em acidentes vasculares cerebrais.
Por outro lado, a existência de um serviço de referência no HM levou a equipe a desenvolver um amplo trabalho de conscientização junto à comunidade, para que as vítimas recebam socorro o mais rápido possível. Antes, algumas pessoas chegavam a óbito porque não se tinha maior conhecimento sobre os sintomas e nem eram encaminhadas aos serviços médicos. Adamy entende que as secretarias municipais de saúde da região deveriam fazer mais campanhas junto às suas comunidades para reduzir ainda mais a quantidade de mortes.

Preste atenção aos sintomas
O diagnóstico do Acidente Vascular Cerebral, em geral, não é difícil se a pessoa que estiver com a vítima prestar atenção aos sintomas. Na maioria dos casos, o paciente apresenta dificuldade de falar, perda de força nos braços e nas pernas, confusão mental e assimetria facial (boca torta, por exemplo). O familiar, amigo ou colega que identificar estas características deve procurar levá-lo ao Hospital com rapidez. “Se for acionar o Samu, por exemplo, já na hora da triagem, é importante relatar estes sintomas, para dar aos socorristas a indicação do que se trata”, afirma o neurocirurgião Carlos Adamy.
Os AVCs são divididos em dois tipos. O isquêmico, mais comum, é a obstrução de uma artéria cerebral, o que impede a circulação do oxigênio e dos nutrientes. Nestes casos, quando diagnosticado, o paciente recebe uma medicação para dissolver a placa. Já o hemorrágico é caracterizado pelo rompimento de um vaso, provocando um derrame na caixa craniana. O tratamento consiste em drenar o sangue. Nas duas situações, quanto mais rápido for o atendimento, maiores são as chances de cura e de redução das sequelas.
A prevenção, segundo Adamy, é a combinação de alimentação equilibrada, atividade física e hábitos de vida saudáveis. Pessoas que fumam, em geral, têm seis vezes mais chances de sofrer um AVC do que os não fumantes. A hipertensão aumenta essa predisposição em cinco vezes; e a diabete, em três.

Efeito “colateral” positivo
A implantação do serviço de referência em AVC no Hospital Montenegro trouxe um efeito colateral positivo para as comunidades da região. Com o plantão neurológico 24 horas instalado, a instituição passou a atender também a praticamente todas as vítimas de acidentes de trânsito do Vale que apresentam traumas de média complexidade. É comum, nas colisões e capotagens, motoristas e caroneiros baterem a cabeça. Hoje, o HM tem condições de tratar a maioria destes casos, reduzindo, também nesta área, os índices de mortalidade.
O diretor técnico do Hospital, Fabrício Fonseca, lamenta apenas que o governo não remunere estes serviços. “Não recebemos nada por estes atendimentos de trauma, mas as comunidades da região estão sendo beneficiadas”, comenta.
Em breve, a unidade de AVC será ampliada, com a criação de cinco leitos específicos para cuidar dos pacientes após a fase aguda. Eles terão acesso a serviços dirigidos de fisioterapia, fonoaudiologia, nutrição, enfermagem, equipe clínica e arterapeuta.
Tudo o que você precisa saber sobre AVC
O que é AVC
O Acidente Vascular Cerebral, mais conhecido pela sigla AVC, é uma séria condição médica que acontece quando o suprimento de sangue que vai para o cérebro é rompido. Isso ocorre porque, como todos os órgãos, o cérebro, para funcionar adequadamente, necessita de oxigênio e determinados nutrientes que provêm do sangue. Portanto, quando há um rompimento no fluxo sanguíneo, as células do cérebro começam a morrer, ocasionando diversos problemas cerebrais, podendo até chegar à morte.
Por ser uma das doenças que mais matam no mundo, o AVC é uma urgência médica e necessita de tratamento imediato, pois quanto antes diagnosticado o que está acontecendo, menos danos o paciente sofrerá. No Brasil, o AVC é uma das principais causas de morte entre os adultos. São 130 mil pessoas que morrem vítimas da doença. Além disso, estima-se que, em 2030, o número mundial de mortes pode chegar a 7,8 milhões.
Tipos de AVC
O AVC pode ser classificado de duas maneiras: isquêmico ou hemorrágico.
AVC Isquêmico
Tipo de AVC mais comum – acomete cerca de 80% dos pacientes –, o AVC Isquêmico se deve à falta do fluxo sanguíneo para o cérebro. Isso pode ocorrer por três motivos:
– obstrução arterial, através de um trombo ou um êmbolo;
– queda na pressão de perfusão sanguínea, como em casos de choque;
– obstrução na drenagem do sangue venoso – como acontece na trombose venosa –, o que dificulta a entrada do sangue arterial no cérebro.
É importante salientar que, nos primeiros momentos em que o AVC ocorre, não há morte do tecido cerebral, mas, por conta da falta de suprimento sanguíneo, ele se degenera muito rapidamente. Porém, há uma região em volta do acidente que possui um fluxo de sangue reduzido e que se mantém viva por um tempo ainda. A ela, dá-se o nome de penumbra e é justamente nela que os esforços terapêuticos se concentram na hora do tratamento.
Dentro do AVC Isquêmico, há ainda um subtipo, chamado Ataque Isquêmico Transitório (AIT). O AIT se caracteriza por um entupimento passageiro em um dos vasos sanguíneos, mas que não chega a causar lesão cerebral. Ou seja, é um déficit de sangue momentâneo que se reverte em poucos minutos ou em até 24 horas, sem deixar sequelas. Caso o tempo de 24 horas ultrapasse e o AIT ainda não tenha se revertido, ele passa a se chamar Acidente Isquêmico Vascular por Definição.
AVC Hemorrágico
Esse tipo de AVC é o menos comum, porém não deixa de ser grave. Ele acontece quando há uma ruptura de um vaso sanguíneo localizado dentro do crânio do paciente, causando uma ação irritativa por conta do contato do sangue com tecido cerebral. Além disso, essa inflamação, juntamente com a pressão que o coágulo faz sobre o tecido nervoso, prejudica e degenera o cérebro, bem como a sua função.
A hemorragia intracraniana acontece por um desses dois motivos:
– ruptura dos aneurismas de Charcot-Bouchard – pequenas bolsas das artérias cerebrais que se formam por hipertensão arterial descontrolada ou não tratada;
– sangramento de aneurismas cerebrais no espaço liquórico ou subaracnóideo (partes formadoras do cérebro) – provavelmente possuem origem congênita.
Causas do AVC Isquêmico
Como esse tipo de AVC acontece por conta da falta de sangue no cérebro, alguns fatores podem ser extremamente perigosos para que ele acometa uma pessoa – ainda mais se ela já for um pouco mais velha: tabaco, hipertensão arterial, obesidade, alto nível de colesterol, histórico familiar de doenças cardíacas ou diabetes e uso abusivo de bebidas alcoólicas.
Causas do AVC Hemorrágico
A principal causa do AVC Hemorrágico é a hipertensão arterial, condição que acaba enfraquecendo as artérias do cérebro, tornando-as mais propensas à ruptura. E vários são os fatores que podem aumentar a sua pressão arterial:
– estar acima do peso ou ser obeso;
– beber álcool de forma exagerada;
– fumar;
– não se exercitar;
– estresse.
Além da hipertensão, outra causa comum do AVC Hemorrágico é o acontecimento de um trauma na cabeça. Na maioria dos casos, a causa é óbvia. Porém, há alguns que não apresentam sinal algum de trauma na região do crânio, especialmente em pessoas idosas.
Fatores de risco
Além dos fatores que acabam por agilizar o acontecimento das causas do AVC, há também diversos outros que podem ser classificados da seguinte forma:
Gênero
Os casos de AVC são mais comuns em homens do que em mulheres, a não ser que se trate da terceira idade, pois aí o problema acomete mais as mulheres do que os homens. Supõe-se que isso acontece pelo fato das mulheres viverem mais do que os homens e o AVC ser mais comum em pessoas de mais idade. Além disso, a gravidez e o uso de pílulas anticoncepcionais podem aumentar ainda mais o risco de um AVC nas mulheres.
Raça
Americanos nativos, hispânicos, asiáticos e afroamericanos possuem maior chance de terem AVC do que os brancos – porém, essas chances diminuem conforme a idade vai avançando.
Idade
Adultos com mais de 65 anos são os que possuem maior risco de serem acometidos por um AVC, especialmente se são hipertensos, diabéticos, sedentários, obesos e fumantes
Sintomas do AVC Isquêmico
– Perda repentina da força muscular e/ou da visão;
– sensação de dormência no rosto, braços ou pernas;
– dificuldade em se comunicar e compreender;
– fala arrastada;
– tontura;
– formigamento num dos lados do corpo;
– alterações da memória.
Sintomas do AVC Hemorrágico
– Dor de cabeça repentina;
– edema cerebral;
– aumento da pressão intracraniana;
– náuseas e vômitos;
– déficits neurológicos bem parecidos com os do AVC Isquêmico.
Diagnóstico
Caso suspeite de que você ou alguém que você conheça está tendo um AVC, um diagnóstico caseiro pode ser feito no ato para verificar se o caso é o acidente vascular ou não. Esse diagnóstico se chama FAST (do inglês: face (rosto), arms (braços), speech (fala) e time (tempo) e é um teste eficaz, pois 9 em cada 10 casos de AVC podem ser identificados desta forma.
Rosto: peça à pessoa para sorrir. Um dos lados do rosto está com aspecto “tombado”?
Braços: peça à pessoa para levantar ambos os braços. Um dos braços insiste em ficar mais baixo ou é incapaz de se levantar?
Fala: peça à pessoa para dizer uma frase bem simples. Ela está falando de forma estranha ou arrastada?
– Se observar qualquer um desses sinais, chame socorro imediatamente.