Carlos Eduardo Müller observou que é preciso fazer todo o esforço para manter a unidade funcionando na cidade
A necessidade de o campus da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) ter um espaço próprio em Montenegro para poder crescer foi destaque nas manifestações durante a audiência pública realizada na noite de quarta-feira, na Câmara Municipal. Diante do plenário lotado por acadêmicos, estudantes de Ensino Médio, professores e lideranças políticas, o prefeito em exercício Carlos Eduardo Müller, o Kadu, prometeu o repasse de uma área para a construção de uma sede da universidade.
Ele afirmou que já solicitou a sua equipe um estudo sobre áreas do município que possam ser utilizadas para essa finalidade e acredita que, até o final deste ano ou no próximo, já tenha sido definido local e vencidas as etapas burocráticas para o repasse ao Estado. Kadu salientou o interesse em manter a instituição na cidade. “Montenegro é parceira e não quer ver a Uergs fora do município”, frisou. O prefeito de Triunfo, Valdair Gabriel Kuhn, se dispôs a colaborar, sugerindo uma parceria na construção em local junto à BR-386, na divisa entre os dois municípios.
Ao final da audiência, por sugestão do deputado estadual Tarcízio Zimmermann (PT), ficou definido que será criada uma comissão com representantes da Uergs, da Prefeitura, da Câmara, da Fundarte e do Diretório Acadêmico para estudar alternativas de um novo local para a Uergs em Montenegro. O grupo, a ser formado, deverá realizar este estudo até o final do ano.
O presidente do Diretório Acadêmico, João Pedro Corrêa, lembrou as reportagens do Jornal Ibiá, com declarações do diretor regional da Uergs, Rodrigo Koch, sobre a possibilidade de transferência do campus e lamentou sua ausência na audiência. Em manifestação oficial do diretor, através do site da instituição, ele falou sobre a realização de estudos que consideram a possibilidade de mudança para outro município, mencionando que o custo de aproximadamente R$ 50 mil mensais pelo uso das instalações da Fundarte não se encaixa nas dificuldades econômicas do governo. João observa que essa situação gera instabilidade e que a expectativa é de uma posição da reitoria mais firme em relação ao governo do Estado. O acadêmico salientou a boa estrutura oferecida na Fundarte, mas lembrou que a Uergs precisa crescer.
A reitora em exercício Eliane Maria Kolchinsqi observou a importância da Fundarte para que a Uergs chegasse ao patamar atual e confirmou a necessidade de mais espaço. Ela acrescentou que os investimentos não são simples, pois a infraestrutura deve atender às características dos cursos. Eliane esclareceu que o orçamento da instituição para o próximo ano está em construção e disse que a união de esforços auxilia na negociação com o governo do Estado para ampliar o recurso da universidade.
A presidente do Diretório Central de Estudantes, Laura Ramos, salientou que é importante que os cursos de Montenegro tenham as condições disponíveis hoje na Fundarte. Ela lembrou que cursos de engenharia, que contavam com laboratórios da Fundação Liberato, em Novo Hamburgo, foram transferidos para Porto Alegre sem manter a mesma infraestrutura. Laura salientou que educação não pode ser vista como gasto, pois se trata de investimento.
“Precisamos resistir e chegar ao final desse governo”
O deputado Juliano Roso (PCdoB), que lidera a Frente Parlamentar em defesa da Uergs, observou a falta de vontade política do governo do Estado em investir na universidade. Por isso, ele acredita que a existência de um terreno não será suficiente para que haja uma sede própria da universidade em Montenegro.
O parlamentar diz que já participou de encontros sobre outros campis e que o problema é o mesmo. “Apenas muda de endereço”, afirma. Roso salientou que o momento é de resistência para evitar o desmonte da Uergs. “Precisamos resistir, chegar ao final desse governo”, afirmou. “O prefeito (de Montenegro) pode ter a melhor intenção, mas o governo não vai construir nada”, reafirmou.
Roso lembrou que há dinheiro já depositado na conta do governo, oriundo de emendas orçamentárias do senador Paulo Paim (PT), para ser usado na Uergs. O recurso está disponível e há risco de ser perdido por não ser utilizado. Ele lançou a ideia de criação de um consórcio intermunicipal, com Montenegro, Triunfo e mais dois ou três municípios da região, para participar da gestão do campus.
R$ 10 milhões perdidos
A presidente do Diretório Central de Estudantes, Laura Ramos, esclareceu sobre os recursos disponíveis na conta do governo do estado para serem usados na Uergs. Em 2012, através de emendas ao orçamento da União, foram disponibilizados R$ 13,5 milhões ao governo gaúcho para essa finalidade, com uma contrapartida de R$ 800 mil. O valor seria repassado em parcelas, conforme fosse utilizado. A primeira parcela, R$ 3,5 milhões, foi depositada em 2014, mas expirou o prazo e não foi usada. No ano passado, a universidade conseguiu prorrogação de mais 500 dias, mas até agora ainda não utilizou. Laura observa que R$ 10 milhões já foram perdidos, pois não há mais tempo hábil para uso e prestação de contas. A luta é para que não se perca ao menos os R$ 3,5 milhões da primeira parcela. “Por falta de uma contrapartida de R$ 800 mil, perdemos R$ 10 milhões”, declarou Laura.
Limite de espaço
A vice-diretora da Fundarte, Júlia Hummes, recordou a instalação da Uergs no município e a participação da entidade nesse processo. “Montenegro tem uma história ligada a essa área (de artes)”, afirmou. Ela entende que no município não há outra instituição para abrigar os cursos da unidade local da Uergs com a mesma estrutura da fundação.
Júlia observou, porém, que tanto a Fundarte como a Uergs não têm espaço para crescer compartilhando o mesmo prédio. Para ela, a transferência do campus para instalações próprias deve ocorrer, mas aos poucos, havendo um período de transição. “Construir e sair aos poucos, para não ser impactante para ninguém e cada uma possa crescer”, resume.