Mau estado da BR-386 exige atenção em dobro

Descaso. Rodovia tem sérios problemas no pavimento e na sinalização desde o segundo semestre do ano passado

Usuários da BR-386, no trecho entre Triunfo, Montenegro e Nova Santa Rita, estão bastante insatisfeitos com o mau estado em que se encontra a rodovia nos últimos meses. Ao problema da ponte sobre o Rio Caí — bloqueada há mais de um ano e meio sem que nada fosse feito até agora —, se somam as condições ruins do pavimento. Tanto no sentido interior-capital quanto na direção oposta os condutores encontram dezenas de pontos de asfalto enrugado, que prejudicam a estabilidade dos automóveis e, numa situação de chuva ou no trânsito noturno, colocam a segurança viária em xeque.

O Jornal Ibiá percorreu trechos da rodovia no início desta semana e constatou que há diversas situações em que os “caroços” no asfalto chegaram a ser raspados em camadas superficiais. Entretanto, nenhuma operação de correção do pavimento foi verificada. Havia apenas dois homens roçando a margem da rodovia, no sentido capital-interior, nas imediações da alça de acesso à ERS-124.

Com o endosso da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o descaso com a BR-386 estava anunciado desde outubro do ano passado. Reportagem veiculada pelo Jornal Ibiá no dia 10 de outubro de 2017 dava conta de que a precarização era apenas uma questão de tempo. Intitulada “Dinheiro do Dnit acaba e situação da 386 vai piorar”, a matéria explicava que o orçamento para manutenção havia acabado e o governo federal se negava a suplementá-lo. O ano virou e a situação segue ruim.

Até mesmo o transporte público fica prejudicado pela situação. A Viação Montenegro (Vimsa), por exemplo, que faz linhas até a capital gaúcha, tem ônibus atrasados diariamente desde outubro de 2016 devido aos engarrafamentos junto à ponte sobre o Rio Caí, no limite com Nova Santa Rita. Como a obra não saiu do papel até hoje, a empresa se obrigou a alterar a grade de horários da linha Montenegro-Porto Alegre “para evitar prejuízos e insatisfação dos clientes pelo não cumprimento dos horários ofertados”, diz a coordenadora comercial da empresa, Aline Riffel.

Na opinião da Vimsa, quando forem executadas obras de recapeamento é preciso que o material e o serviço sejam de qualidade, porque da forma como é feito hoje o reparo não dura muito — inclusive em função do excesso de carga dos caminhões, que não são fiscalizados. “Esses fatores podem estar contribuindo para a constante deterioração do pavimento desta rodovia”, afirma a empresa.

Polícia lamenta a falta de manutenção preventiva
O chefe-substituto da 4ª Delegacia de Polícia Rodoviária Federal (DPRF), com sede em Lajeado e jurisdição também sobre o trecho montenegrino da BR-386, Paulo Reni da Silva, lamenta que a estrada esteja praticamente nas mesmas condições desde outubro do ano passado, quando foi anunciado o fim das verbas da Superintendência do Rio Grande do Sul do Dnit. “Apenas ações emergenciais têm sido realizadas, mas aquela manutenção preventiva, que costumávamos ver, essa não ocorre há meses, apesar de constantemente enviarmos ofícios pedindo providências”, lamenta. Na opinião dele, o atual estado da Tabaí-Canoas varia entre regular e ruim. Não é à-toa que as equipes da PRF passam boa parte do tempo prestando socorro a usuários que tiveram problemas devido ao descaso com a BR-386.

Ondulações no pavimento da Tabaí-Canoas trazem risco de acidentes e danificam veículos

O quadro se agrava agora em razão da proximidade do feriadão de Carnaval, que faz a estrada atingir seu pico de movimentação, como no final do ano. Segundo o policial, as “dobras” que se formam no asfalto muito em função da carga dos caminhões elevam o risco de acidentes e danificam os veículos. “Alguns desses caroços têm sido fresados da semana passada para cá, mas são reparos muito pontuais, ocorrendo nos pontos que, na avaliação deles, têm mais riscos. Sempre estamos em contato com a unidade de conservação do Dnit em São Leopoldo, mas eles argumentam que não recebem recursos para manutenção preventiva”, diz.

Reni também lamenta o desleixo com a sinalização — tanto vertical quanto horizontal. Faltam placas de limite de velocidade, repintura de linhas amarelas e brancas, reposição de “olhos de gato”, reforço na iluminação, entre outros problemas. “Fizemos um levantamento em agosto do ano passado e as deficiências, desde então, permanecem. Nas rótulas, então, a situação é muito preocupante, com riscos iminentes de acidentes.”

À PRF, servidores do Dnit em São Leopoldo informam que a unidade não recebe recursos ordinários para investir na sinalização da 386, porque estaria entre as contempladas pelo programa BR Legal, que no papel existe para qualificar a segurança de vias federais. “Na prática, porém, não se vê isso acontecendo”, alerta o agente.

Desabamento de árvores preocupa a PRF
Afora a má conservação do pavimento e a deficiência da sinalização, as guarnições da Polícia Rodoviária Federal que patrulham a Tabaí-Canoas enfrentam outro problema sério, principalmente em dias de vento. Trata-se das árvores altas que se derramam ao longo da margem da estrada. Em Triunfo, matos de acácia causam especial preocupação, porque têm baixa resistência à força dos ventos e, com isso, desabam sobre a BR-386 constantemente.

Policiais rodoviários precisam até fazer o corte de árvores que ameaçam desabar sobre a BR-386

O chefe-substituto da 4ª DPRF, Paulo Reni da Silva, recorda que essa é uma atribuição do Dnit, mas o órgão não faz simplesmente nada neste sentido. A saída encontrada pelos policiais — são eles que rodam pelo trecho, dia e noite, todos os dias — foi adquirir uma motosserra graças a um acordo firmado junto ao Ministério Público Estadual. “Quando precisamos fazer manutenção nos equipamentos, temos de correr atrás de apoio ou fazer uma vaquinha entre nós”, conta.

Os ofícios que a PRF encaminha à autarquia seguidamente não resultaram em nenhuma melhoria neste sentido. Fica a impressão de que a vida dos usuários da rodovia e dos policiais não tem nenhuma importância.

Dnit não se manifesta
O Jornal Ibiá contatou a assessoria de imprensa do Dnit na tarde de segunda-feira, dia 5, a fim de que o órgão explicasse os motivos do descaso com a rodovia. Até o fechamento desta edição, na noite de ontem, nenhum retorno foi dado.

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