Maratá tem uma escola onde há liberdade para se aprender

Educação. Aulas do contraturno permitem que alunos do 6º ao 9º anos desenvolvam habilidades e talentos

Liberdade para aprender está no cerne das atividades de contraturno da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Pedro Cristiano Höher. Diariamente, cerca de 30 alunos da escola localizada na comunidade de Esperança, que atende os 52 alunos dos anos finais do ensino fundamental na rede municipal, se deslocam até as dependências da EMEF Albino Cassel – que foi desativada após uma realocação de estudantes feita pela secretaria municipal da Educação de Maratá – para participarem de oficinas de arte, música ou agroecologia e também para ter aulas de reforço em Matemática e Português.

Vitor (sentado) e Cristian construíram um banco junto com outro colega. Ideia do trio é produzir outro igual

As atividades no educandário de Linha Boa Esperança também incluem cuidar de uma horta, auxiliar na preparação do almoço, lavar os pratos e deixar limpo o espaço utilizado, além de criar o que mais for possível. Exemplo disso é um banco feito de pallet montado pelos estudantes Vitor Augusto Griebeler, Cristian Augusto Schommer e Eduardo Rodrigues da Rosa. “O Eduardo teve a ideia e queria montar, então fizemos o banco nas segundas-feiras e quintas-feiras”, contam Vitor, de 13 anos, e Cristian, 15.

Segundo os dois, a ideia é reunir o trio para fazer outro banco, passar verniz nos dois móveis e depois levá-los para o prédio da EMEF Pedro Cristiano Höher, onde poderão ser utilizados por todos os alunos da escola. Dentre as atividades preferidas de Vitor e Cristian está o trabalho com madeira – no qual eles têm liberdade para criar o que quiserem – e também a oficina de agroecologia. “O que aprendemos aqui levamos para casa”, destacam, apontando que as experiências do contraturno são compartilhadas com a família.

Diretora mostra com orgulho frutos da estufa construída com auxílio da comunidade

A diretora da escola, Anisete Schreiner, destaca que além da liberdade de poder trabalhar com o que quiserem, os alunos têm a disponibilidade de trabalhar todos os dias com artesanato, pintura e ter uma hora para estudos, além de seguir um calendário de oficinas. Nas segundas-feiras há encontro da banda marcial, aulas com instrumentos de sopro e reforço escolar de português e matemática. Nas terças-feiras, as aulas são de alemão e do grupo instrumental.

Quartas-feiras os alunos participam do grupo de teatro do Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) e apenas almoçam nas dependências da EMEF Albino Cassel. Quintas-feiras é dia de oficina de instrumentos de sopro, canto coral e reforço escolar. O reforço escolar volta a aparecer na agenda de sexta-feira, ao lado da agroecologia e culinária.

Oportunidade de desenvolver talento e cidadania
Conforme Anisete, as oficinas desenvolvidas no contraturno estão ajudando a desenvolver talentos. Inclusive, com algum resultado monetário já sendo conquistado. Algumas pinturas e fuxicos feitos pelos estudantes já foram comercializados e o lucro foi revertido para o Círculo de Pais e Mestres (CPM), retornando através dele aos alunos. “Hoje para eles é um aprendizado, no futuro pode ser o ganha pão”, reforça a diretora.

Aulas de reforço em Matemática e Português ajudam nos estudos dos alunos com mais dificuldades nestas disciplinas

Anisete salienta que os alunos têm a liberdade de escolher em qual oficina irão participar, no entanto é exigido que eles participem dela com dedicação. “Aqui também é um ambiente familiar. Conversamos e acabamos dando conselhos para eles. Os adolescentes precisam disso”, comenta. Além disso, o espaço serve para os alunos aprenderem mais sobre a vida em comunidade e solidariedade

Exemplo disto está na construção da estufa onde são plantados morangos, tomates e outras verduras, que foi construída com o auxílio de pessoas da comunidade. “Com o que produzimos em nossa horta já fizemos doações para o Hospital Montenegro, ao asilo de Brochier e para outras escolas do município”, destaca Anisete. A solidariedade também faz o caminho contrário, com a escola recebendo material doado para fazer as atividades de artesanato e outras.

Fuxicos e quadros feitos pelos alunos durante as atividades do contraturno já foram comercializados em eventos no município e o valor arrecadado foi revertido para o CPM, que investe na escola. Assim, trabalho dos alunos resulta em melhorias para eles mesmos

A diretora salienta que o projeto recebeu o nome de “Liberdade responsável” e tem como lema “resgatando valores, descobrindo talentos e preparando para a vida”. Professora de matemática responsável pelas aulas de reforço, Anelise Schmitt Pittelkow diz que vê avanços no desempenho escolar dos que participam do contraturno. “Os alunos dizem que conseguem entender mais por ser grupos menores em aula”, comenta.

“Quem não está vindo está perdendo”
Acostumada a trabalhar com alunos do 1º ao 5º ano, a merendeira Clara Regina Hummer Röder se assustou logo que começou a passar a trabalhar com os alunos adolescentes da EMEF Pedro Cristiano Höher. Hoje, a parceria com eles é bastante forte.

Clara conta com auxílio e orienta estudantes na cozinha da escola. Única restrição é na utilização do fogão e fornos

Sob a orientação de Clara, os alunos auxiliam a preparar as merendas e o almoço, além de lavarem a louça e arrumarem a mesa. A única restrição é o uso do fogão ou forno. “Em casa, muitas vezes, eles não iriam fazer isso e é algo que eles vão levar para a vida. Quem não está vindo está perdendo”, garante.

Garantindo que os alunos demonstram interesse por aprender a fazer massas, bolachas e pães, a merendeira conta que segue o cardápio estipulado pela nutricionista do município, mas aplica algumas adaptações. Como exemplo, ela cita panquecas coloridas feitas com beterraba, cenoura e espinafre oriundos da horta da escola e colhidas pelos estudantes. Inclusive, Clara observa que a produção da horta escolar é tamanha atualmente que só precisa pedir a compra de cebola e tomate para a escola.

Secretária: contraturno prepara para o futuro
Na visão da secretária municipal de Educação de Maratá, Clarine Pittelkow Luft, as aulas do contraturno ajudam a preparar os estudantes das séries finais do Ensino Fundamental para o futuro. “Todo o dia há algo que eles desenvolvem”, salienta. Ela reforça ainda que o retorno recebido por parte dos pais dos alunos que participam das atividades do contraturno é positivo.

Clarine explica que a ideia de utilizar as dependências da EMEF Albino Cassel para o contraturno da EMEF Pedro Cristiano Höher surgiu após o prédio ser desocupado depois que a secretaria municipal de Educação promoveu uma mudança nas escolas em 2017 concentrando os alunos do 1º ao 3º no educandário localizado em São Pedro do Maratá, os estudantes de 4º ao 5º ano na escola de Uricana e os de 6º aos 9º no colégio de Esperança. A ideia principal era eliminar as turmas multisseriadas. “Hoje algumas escolas (Macega e São Pedro do Maratá) ainda possuem turmas multisseriadas, mas pensamos em eliminar isso com o tempo”, afirma a secretária.

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