Hostilizados após casos de Covid-19, índios pedem mais respeito e união

JÁ LIBERADA da quarentena, comunidade indígena tem passado por dificuldades

“Estão vivos ainda?” “Não sei como não morreram todos!” “Não era para vocês estarem aqui!” Essas foram frases gritadas na última semana por dois motoqueiros às 15 famílias de indígenas instaladas no terreno próximo ao Parque Centenário. Liberados da quarentena após 28, dos 52 indivíduos terem testado positivo para a Covid-19, os índios não têm que lidar apenas com a escassez de sua fonte de renda que é baseada, principalmente, na venda de artesanato. Também estão convivendo com um preconceito enraizado muito antes de qualquer pandemia e ainda com hostilidades como a vocalizada em frente ao assentamento.

“Vivemos um período de tristeza com essa pandemia que atingiu o mundo inteiro, onde todos nós sofremos. Os índios, os negros e os brancos”, reflete o índio Luiz Carlos da Silva, um dos curados do novo coronavírus na comunidade. “Mas no meio desse sofrimento todo, nós podíamos estar nos abraçando ao invés de estarmos sendo preconceituosos com o nosso próximo. Todos nós somos filhos de Deus.”

“Todos somos filhos de Deus”, disse índio

Num momento em que o movimento contra o racismo cresce no mundo todo, a comunidade de índios Kaingang instalada em Montenegro convidou a imprensa local e entidades para uma reflexão na tarde desta segunda-feira, 8 de junho. Segundo o vice-cacique do assentamento, Darci Rodrigues, a oportunidade ideal para tratar do tema e do que vem sendo vivido pela comunidade nos últimos dias. Crianças e adultos apresentaram uma dança tradicional do povo; e, após, entoaram uma canção sobre igualdade e irmandade. “É por mais respeito a nós, enquanto seres humanos”, ele resumiu.

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DIFICULDADES
Todos os índios que testaram positivo para Covid-19 no assentamento estão curados e liberados da quarentena desde 1º de junho. A testagem havia sido feita, apesar de nenhum dos integrantes ter apresentado sintomas, quando a população indígena foi incluída pelo Estado no grupo de aplicação dos testes rápidos. Isolados, os índios receberam doações de cestas básicas da Prefeitura, do Estado e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) para sobreviverem aos dias sem trabalho.

O vice-cacique Darci garante que as orientações foram todas cumpridas. E revela que foi contatado pela secretaria municipal de Saúde sobre índios estarem vendendo artesanato no Centro durante o isolamento; mas garante que não se tratavam de membros da comunidade Kaingang local. “Tem pessoal que vem de fora. Tem os de Tabaí, de Lajeado, que sempre passam por aqui”, conta.

Mas agora, sem restrições à venda, o problema é a diminuição dos negócios que afeta comerciantes em geral. “O pessoal tenta. Vai nos municípios vizinhos, como Pareci e São Sebastião do Caí, mas está tudo parado”, lamenta Darci. Ele diz que só os mais adultos têm saído para trabalhar; e sempre equipados com as máscaras. Opção importante de renda para muitos, o plantio e a colheita de alho e cebola na região de Flores da Cunha também foi prejudicado. “Agora, como está, nem tem como ir”, diz o vice-cacique.

Por estarem todos no mesmo endereço, apenas dois dos 52 índios conseguiram o auxílio emergencial de R$ 600,00 do Governo Federal. O dinheiro e as doações têm dado conta do sustento das famílias por enquanto, mas o futuro preocupa, especialmente com a chegada do inverno.

Os Kaingang seguem contando com o auxílio do Município e também da comunidade, que pode deixar doações de roupas quentes ou alimentos no posto de saúde do Parque Centenário para encaminhamento à comunidade. Uma oportunidade de fazer jus à música entoada pelo grupo nesta segunda, primeiro em sua língua tradicional e depois em português: “Nós não sabíamos que éramos irmãos, mas agora vivemos juntos”.

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