Enquanto o poder público não age, voluntários se mobilizam em prol dos animais

Município alega não ter recursos para projetos nesta área. Já a sociedade promove ações para garantir castrações e um pouco de conforto aos bichos encontrados nas ruas da cidade

A Prefeitura de Montenegro não possui recursos destinados a castrações de animais de rua, tampouco convênio com entidades que prestam esse tipo de serviço. Diante disto, aumenta cada vez mais o número de bichos soltos pelas vias públicas. Segundo o secretário de Meio Ambiente do município, setor responsável por questões relacionadas aos animais, Adriano Chagas, durante uma reunião com o prefeito Kadu Müller foi apresentado um modelo de projeto de lei que institui e direciona esta atividade para receber recursos federais.

O modelo aponta também a possibilidade de aquisição de um castramóvel – um veículo equipado para realizar castrações de cães e gatos que presta serviços de forma itinerante. O secretário diz que irá se inteirar sobre este exemplo e anexar o modelo ao projeto que está em construção na cidade.

Enquanto o Governo faz planos para o futuro, diversos cidadãos “colocam a mão na massa” para encontrar formas de ajudar os animais de rua e também os que se encontram em casas de passagem. As amigas Viviane Wessner, de 33 anos, Taís Ferreira, 26, e Vanessa Santos, 29, são um exemplo disso.

Elas uniram forças para atuar em benefício dos animais. Nenhuma delas é integrante de ONG, o que motiva o gesto de solidariedade é o amor. “Nós três sempre fomos ‘cachorreiras’. Mas aí, no ano passado, nos deparamos com a situação de uma cadela com 12 filhotes, e achamos que tínhamos que tentar ajudar”, conta Vanessa.

As três amigas agem juntas para melhorar a qualidade de vida dos cães que são abandonados pelas ruas

Taís encontrou os animais e logo contatou as amigas, pedindo ajuda. A ideia inicial era doar os animais, mas eles estavam com parvovirose e a situação ganhou proporções maiores. “Tivemos que interná-los no mesmo dia. No primeiro dia, dois ficaram, depois mais dois e, no final, todos estavam internados A conta ficou enorme”, Lembra Vanessa.

As moças já haviam prestado ajuda para outros animais, mas este foi considerado o maior desafio, até então. “No início, usamos o nosso dinheiro para pagar a conta, mas quando chegou perto dos R$ 4 mil, vimos que não íamos dar conta”, lembra Taís.

Foi então que elas decidiram fazer algo para conseguir dinheiro e manter a ajuda à “família”. A ação começou com a venda de cones de chocolate. A produção era feita pelas três. Depois de prontos, elas dividiam os doces e cada uma vendia para seu grupo de amigos. O Facebook também ajudou na comercialização. O resultado das vendas foi positivo, mas ainda faltava dinheiro para quitar a conta na clínica veterinária. Então, outra ideia surgiu.

Com o dinheiro da venda dos cones, as voluntárias compraram produtos para fazer cachorro-quente. Com o apoio dos maridos e de amigos, elas conseguiram vender 200 unidades e finalmente encerrar a dívida. Porém, outros cães apareceram na história e os capítulos tiveram continuação. “Se eu encontro um bicho e quero ajudar, eu ligo pras gurias e elas se dispõem a fazer mais docinhos”, relata Vanessa. E assim, encontrando cães em situação de maus tratos ou abandono, elas foram ampliando as ações.

Atualmente, o grupo está fabricando brigadeiros e branquinhos. A produção ocorre sempre no início do mês, quando as vendas são melhores. Este mês, o valor arrecadado foi usado para a compra de 20 casinhas para cachorros. As “residências” foram doadas para uma acumuladora de cães. Além das casinhas, também foram doadas cobertas. O passo seguinte é fazer e vender mais doces para pagar a castração das 20 cadelas dessa senhora.

“Sopão Amigo” financia socorro e castrações

Os convites podem ser adquiridos na Ferragem Schenkel ou nos mercados Bruvini. Toda ajuda é considerada importante

Mais de 20 voluntários estão envolvidos em uma iniciativa idealizada por Claudete Eberhardt. Apaixonada por bichos, há cerca de três anos ela começou a ajudar animais de rua. Este ano, surgiu a ideia de vender sopa de ervilha para conseguir pagar castrações e, quando necessário, o tratamentos de bichos doentes ou feridos. “Uma cadela já foi castrada e outras quatro já estão na agenda para passar pelo procedimento. A prioridade são as fêmeas”, conta Claudete.

Os convites estão sendo vendidos ao valor de R$ 15,00 para serem retirados na residência de Claudete no dia 30 deste mês. A aquisição pode ser realizada com os voluntários ou na Ferragem Schenkel, localizada na rua Buarque de Macedo, ou nos mercados Bruvini.

Dependendo do resultado da venda dos convites, Claudete projeta dar continuidade a essa ação nos próximos invernos. “A ideia é fazer a sopa de ervilha uma vez por mês durante os meses de frio”, acrescenta a idealizadora da ação solidária.

Assim como as “meninas dos docinhos”, Claudete não faz parte de nenhuma ONG, mas sempre que pode auxilia no trabalho destas instituições. Ela possui oito cães, todos retirados das ruas, e dois deles estão disponíveis para adoção. Desta forma, ela abre espaço para conseguir acolher a outros animais abandonados nas ruas.

Projeto “Roupinhas Solidárias” surge para suprir a demanda de roupas para cães e gatos

A cadelinha Nenê foi a primeira a ser adotada por Cibele e já está na família há 13 anos

Os animais precisam mais do que comida e tratamento veterinário. No rigoroso inverno gaúcho, eles também necessitam de agasalhos. E os voluntários de Montenegro sabem disso. Por isso, cada um fazendo sua parte, a situação começa a mudar. Cibeli Alflen de Abreu, 32 anos, comoveu-se com a história de um cão abandonado ao lado de uma concessionária de veículos. Depois de alguns dias no local, ele acabou morrendo. O motivo do óbito ela não sabe, mas chegou a pensar que o frio pudesse ser um dos fatores que contribuiu para isso.

Dona de sete cães, mais uma vez ela voltou a pensar no frio que enfrentam os animais, quando foi comprar roupas para eles. “Cada roupinha custa de R$ 30,00 a R$ 40,00, imagina comprar roupa para todos eles. Tem pessoas que têm menos condições financeiras que eu e têm até 20 cachorros”, observa Cibeli. A situação fez com que ela resolvesse comprar tecidos e confeccionar as roupinhas. “Pensei em fabricar para meus cachorros e o que sobrasse eu doaria para os cães de rua aqui do bairro”, conta.

Cibeli não sabia costurar e procurou aprender confeccionando modelos de roupas simples. Logo uma amiga, moradora da localidade de Vendinha, dispôs-se a ajudar. Na sequência, outra amiga emprestou uma máquina de costura e Cibeli precisou, mais uma vez, aprender algo novo.

A iniciativa é recente, mas já apresenta bons resultados. Com o auxílio de outras cinco amigas, Cibeli já distribuiu cerca de 30 peças de roupa. O detalhe é que o projeto nasceu há apenas 15 dias. Na terça-feira, dia 19, Cibele chegou a fazer 22 unidades. Roupas para gatos também são fabricadas.

Na primeira semana, a voluntária vendeu os produtos por valores que variaram de R$ 8,00 a R$ 15,00. Várias pessoas adquiriram para aquecer seus próprios cães e também os de famílias carentes da cidade. Contudo, agora ela não quer mais comercializar. “Quem quiser roupinhas deve trazer dois metros de tecido soft. Com essa quantidade, consigo fazer 12 roupinhas, duas entrego para quem doar o tecido e o restante vou distribuir aos animais de rua”, explica.

Neste caso, o Facebook também é usado como meio de comunicação entre a voluntária e a comunidade. “As pessoas me informam que, no bairro delas, têm um animal que precisa de roupa, aí peço uma foto para ver o porte dele e faço a peça. Eu combino com o morador que ele deve cuidar para que o animal não fique com a roupa molhada ou com calor”, conta.

“Cada um pode fazer sua parte”, diz voluntária
Para as voluntárias, se cada cidadão ajudar um pouquinho, a vida dos animais pode ser bem melhor. “É muito difícil contar com a ajuda da Prefeitura. A gente conta com o apoio dos nossos amigos. Se cada um fizesse o que a gente faz, a situação seria bem diferente. É muito cômodo as pessoas acharem um cachorro na rua e dizerem que tem que ligar para a Amoga (Associação Montenegrina dos Guardiões dos Animais), quando poderiam comprar um saco de ração, mas não fazem isso por que acham que as ONGs que têm responsabilidade”, desabafa Vanessa. “A gente sabe que as ONGs estão sobrecarregadas. A gente não tem intenção de ser uma ONG, mas nos responsabilizamos por cuidar e doar os animais que encontramos.” comenta Viviane.

Claudete também defende a ideia de que cada cidadão pode ajudar. “Se cada um fizer pouquinho em seu bairro, as coisas mudam. A situação na cidade está cada vez pior, temos leis de proteção aos animais, mas elas não são cumpridas. Me sinto realizada em poder ajudar”, conclui.

Para Cibeli, gratidão é o sentimento que se manifesta em poder ajudar os animais. “Dá uma sensação de alívio. A gente deita e fica pensando nas crianças e adultos que passam frio, mas esses sabem como pedir ajuda. Já os animais precisam que a gente tenha sensibilidade em ver o que precisam.”

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