O uso correto da coleta seletiva em Montenegro ainda é um desafio. Os números da Prefeitura evidenciam que grande parte da comunidade não separa seu lixo em casa: de cada 100 toneladas de resíduos que chegam na Cooperativa de Reciclagem nos dias da seletiva, apenas 12%, de fato, é apto a ser reciclado. Em consequência, muita coisa reciclável vai parar no aterro e, por lá, leva dezenas, centenas de anos para se decompor. Um problema ambiental preocupante e que acabou sendo a semente para a criação do projeto do EcoPila.
Lançada em 9 de novembro de 2018, a iniciativa recém completou um ano. Se trata de uma moeda sustentável – um novo tipo de dinheiro, mesmo. Foi criada pelo Núcleo Socioambiental da Associação Comercial, Industrial e de Serviços (ACI) de Montenegro e Pareci Novo. O cidadão separa seu lixo reciclável, leva ao ponto de coleta para ele ser pesado e, em troca disso, recebe as cédulas de EcoPilas. Com elas, pode comprar mercadorias ou contratar serviços nas mais de 50 empresas participantes.
“Eu sempre digo que ele é uma moeda do bem”, define o coordenador do Núcleo, João Batista Dias. “Ele é gerado a partir de uma boa ação. Quando a pessoa separa seu resíduo em casa, o EcoPila começa a funcionar. Nós estamos injetando dinheiro na Economia a partir do lixo.” E dá pra fazer de tudo com esse novo dinheiro. Dá pra cortar cabelo, fazer a barba, ir no cinema, em bares, restaurantes. Dá até pra declarar Imposto de Renda e pagar o contador com o EcoPila.
As possibilidades são muitas e crescentes com a popularização da iniciativa em Montenegro e em Pareci. Neste um ano, foram mais de 14 mil EcoPilas pagos e injetados no mercado local. Na outra ponta, foram mais de 50 toneladas de resíduos corretamente descartados e que foram trocados pela moeda.

Resíduos têm a destinação correta garantida com a moeda
Toda quinta-feira, o projeto tem seu ponto de coleta na Praça Rui Barbosa, no Centro de Montenegro, independentemente das condições climáticas. É um “drive thru” para a entrega dos resíduos que funciona das 7h às 12h. Se feriado na quinta, a atividade é antecipada para a quarta-feira.
À frente do Núcleo Socioambiental, João Batista Dias também é proprietário da Montepel, empresa local de reciclagem em atuação em Montenegro desde 2002. É ela que operacionaliza o EcoPila. Recebe os resíduos deixados nos pontos de coleta e comercializa os materiais, garantindo sua destinação correta. Já há os compradores fixos e cada coisa vai para o seu lado.
Na reciclagem, as latinhas voltam a ser alumínio, transformadas em chapas. O papelão volta a ser papelão. O papel pode virar papel higiênico ou papel reciclado. Já as caixinhas de leite passam por um processo de separação de suas partes: o papel, o papelão, o plástico e o alumino que as compõe são segmentados, cada um com seu destino.
O óleo de cozinha, por sua vez, passa por um processo para ser transformado em biodiesel. O plástico mole (aquelas sacolinhas de mercado) vira saco de lixo ou outras sacolinhas coloridas. Aas garrafas pet têm uma série de possibilidades, podendo virar desde roupas até vassouras, segundo Dias. Os pontos de coleta do EcoPila também recebem vidros e equipamentos eletrônicos, embora estes não rendam a moeda.
Em média, 1,5 tonelada de resíduos por semana é corretamente destinado através do EcoPila

Do cinema ao bar: empresas apoiam a ideia
56 empresas de Montenegro e de Pareci fizeram a adesão ao EcoPila para receberem a moeda. Ao negociarem com ela, os empresários têm a possibilidade de também trocarem nos demais estabelecimentos participantes ou fazerem a troca, junto da ACI, por dinheiro “de verdade”. E além da preocupação com o meio ambiente, a visibilidade obtida com a participação no projeto é dada como um diferencial competitivo para os empreendedores.
O Lojão Oba Oba (hoje, a Clip) entrou nessa logo no começo. O auxiliar administrativo Nicolas Haubert conta que são, principalmente, as crianças que compram com o “Eco” na empresa. Incentivados pelas escolas, onde o projeto é bastante presente, os pequenos vão, com EcoPilas em mãos, comprar jogos pedagógicos no estabelecimento. “Para a loja, é muito importante”, avalia Haubert. “Pela sustentabilidade e o papel social de aceitar. A loja não é simplesmente uma loja. Ela tem um papel de ajudar clientes, colaboradores e a comunidade como um todo.”
Papel claro, também, para o proprietário do Cine + Arte Tanópolis. “É uma iniciativa muito boa, não só pelo incentivo à gurizada, mas pela reciclagem”, coloca o proprietário, Ewerton Brandolt. É que, por lá, também são os pequenos os que mais torram os EcoPilas, aceitos na compra de ingressos e também na bomboniere. “Eles ficam juntando. Mas perto das férias, eles vêm mais”, relata. “No Dia das Crianças, também usaram muito.”
Educação ambiental é importante braço do projeto
Usando o incentivo financeiro como ferramenta, mudar a cultura de montenegrinos e parecienses no que se refere à destinação correto do lixo é o principal objetivo do EcoPila. E é com essa finalidade que o projeto abraça, também, a parceria com diversas escolas da região. Através de gincanas e palestras, a iniciativa está dentro das instituições de ensino, buscando mostrar às novas gerações a importância, não só da separação, mas de pensar na diminuição da geração de lixo.

“Não é só trabalhar o EcoPila, mas fazer com que as crianças repensem suas atitudes”, explica João Batista. “Será que realmente eu preciso comprar tal coisa? Que resíduo eu vou estar gerando ao comprar esse material? Para onde eu vou mandar esse resíduo? Antes de reciclar ou mandar para o EcoPila, é preciso repensar os próprios hábitos.”
O coordenador do Núcleo Socioambiental da ACI já foi convidado para atividades até fora da área geográfica representada pela Associação. Já esteve em escolas de Triunfo e de São José do Sul tentando conscientizar os jovens e, por tabela, também os seus pais.
“As crianças têm sido grandes incentivadoras e, eu acho, nosso principal fator de sucesso”, afirma o responsável. Em Pareci Novo, foi uma ideia diferenciada: a Escola Municipal Beato Roque recebeu o projeto piloto da Gincana Socioambiental do EcoPila. A iniciativa engajou os estudantes a juntarem resíduos, rendendo a arrecadação de 1.200 “Ecos”. As turmas foram todas para o cinema com o dinheiro recebido através da conscientização ambiental. Agora, deve haver outras gincanas pelas escolas vizinhas.
Têm novidades no horizonte do EcoPila
As cédulas do EcoPila são impressas em uma empresa especializada em Porto Alegre. Elas têm uma série de itens de segurança, com selos holográficos, efeito imagic e nano letras, dentre outros. Tudo para garantir a segurança do usuário, evitando falsificações e garantindo a seriedade do projeto. Tanto que a moeda chegou a ser destaque em um blog especializado no estudo de moedas.
Até o momento, circulam cédulas de um, meio e cinco EcoPilas no mercado local. E há uma novidade à vista. Em breve, a ACI estará lançando a cédula de dez “Ecos”. Com o maior valor, o objetivo é diminuir a quantidade de cédulas entregues aos compradores, gerando mais economia com a impressão.
Outra iniciativa a ser posta em prática em breve é o “EcoPila – Movimentação Bancária”. Se trata de uma facilidade para que o empresário participante troque a moeda sustentável pelo Real. Como o “Eco” é quase um cheque ao portador, a ideia é que uma conta bancária sirva para a troca do dinheiro. Inovações para impulsionar ainda mais o projeto.
Boa visibilidade deve render modelo de franquia
No final de outubro, o EcoPila foi apresentado como case de destaque no Congresso da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul). Lá estavam reunidas associações empresariais de todo o Estado, em um espaço de discussão de ideias e tomada de decisões.
O projeto nascido em Montenegro foi buscado pela própria organização para ser inscrito no evento e acabou sendo escolhido para a apresentação. O evento aconteceu em Gramado e o projeto foi levado até lá por João Batista Dias e pelo presidente da ACI, Karl Kindel.
“Isso nos trouxe uma visibilidade interessante”, destaca Dias. “A gente já foi até chamado em outras cidades para conversar sobre o projeto e a possibilidade do EcoPila ir para outros municípios”.

A ideia é desenhar um modelo de franquia que possa ser comercializado pela Associação local para as cidades interessadas. Ali seria mantido o nome e a parte operacional do projeto, com todas as suas características. Estimulando o pertencimento à comunidade, a moeda só poderá ser gasta no município de origem da entrega do resíduo; e é preciso uma empresa de reciclagem que opere as destinações. Santa Cruz do Sul, Portão e algumas entidades de Porto Alegre já se mostraram interessadas em abraçar a causa.
Onde trocar o EcoPila
- Acerte;
- Alpendre
- Banca do Tiaguinho
- Banana Nanina
- Barbearia 1989
- Beto Silveira
- Biolo – Restaurante e Eventos
- Bocorni Hair
- Broda
- Casa dos Cereais
- CGC Contabilidade
- Chinatchê
- Cinderela Calçados
- Cine + Arte Tanópolis
- Degradée Decorações
- Dentsul
- Di Nápoli Pizzaria
- DMF Esportes
- Dobra
- Doc House
- Doc Photos
- Drograria Progresso
- Eletromont
- EML Assessoria Contábil
- Espetinho do Fritz
- Fachin & Ferla
- Farmácia Mottin
- Farmapop
- Ferragem Schenkel
- Flytour
- Gráfica Lutz
- HF Madeiras
- Ibis Hotel
- Imobiliária Kindel
- Krein Bier
- Loja Ever_Lupo
- Loja Seelig
- Mombach Supermercados
- Novo Citrus
- Oba Oba
- Ótica Rönnau
- Pilger Pet Shop
- Pix Moda Infantil
- Planeta Ecológico
- Poker Outlet
- Print DG
- Quiropraxia Colombo
- Riograndense Buffet
- River Club
- Santa Combinação
- Segundo Turno
- Sinoscar
- Soma Auto Posto (conveniência)
- Supermercado Via II
- UZ Shoes
- Vida Pet