Elas comandam o futebol sete em Montenegro

Mulherada conquista seu espaço com respeito e conhecimento

Quando a bola rola nos clubes de Montenegro, todos os olhares se voltam para o campo, onde os atletas disputam cada centímetro do gramado em busca dos seus objetivos. Em muitas ocasiões, a arbitragem também se torna o centro das atenções, seja por decisões questionáveis ou reclamações dos jogadores. Apesar disso, quem comanda de verdade o futebol sete em Montenegro são elas. Se a mulherada não autoriza o início da partida, os árbitros não apitam e o espetáculo não ocorre.

Na beirada do campo, as anotadoras controlam a súmula, as substituições, o tempo de jogo, os gols marcados, as faltas cometidas e os cartões aplicados. Ou seja, tudo que acontece dentro das quatro linhas passa por elas. Os clubes Grêmio Gaúcho e Cantegril estão muito bem servidos nesse quesito. Com respeito e conhecimento, as mulheres conquistaram seu espaço e hoje são parte integrada do jogo.

Uma das representantes mais conhecidas nos clubes da cidade é Zilmara dos Santos Ramos Kerber, que foi adquirindo o respeito dos atletas no dia a dia. “Comecei a trabalhar no Grêmio Gaúcho há uns cinco anos. Sabemos que é um trabalho ‘masculino’, porque só trabalhamos com homens. Observei que precisava me aperfeiçoar, me qualificar. Depois de um ano trabalhando ali, fiz um curso na Federação Gaúcha de Futebol. O curso me ensinou como eu tinha que trabalhar, qual a postura eu devia ter”, ressalta.

“Quando me qualifiquei, vi que precisava investir cada vez mais nesse tipo de função. Para discutir algo, é necessário ter conhecimento. E em primeiro lugar vem o respeito. Respeito ao atleta e às equipes. Todos que estão lá querem ganhar. Depois, observei que tinha que entender as regras e o regulamento. Conviver com eles é um trabalho de formiga, tu ganha o respeito no dia a dia”, complementa Zilmara, lembrando que os atletas, dentro do campo, estão em uma situação de adrenalina extrema.

Apesar do conhecimento e do respeito adquirido, Zilmara entende que as mulheres são muito mais cobradas nessa função. “A gente nunca sabe tudo, sempre me qualifiquei. Estou me atualizando constantemente, pois a regra está sempre mudando. Fomos conquistando espaço através de muito trabalho. Como mulheres, somos muito mais cobradas, a gente não tem o direito de errar, principalmente em um esporte como o futebol. Eles nos cobram mais porque querem ver se a gente realmente sabe as regras”, frisa.

Mesmo com os ânimos – normalmente – exaltados dentro do campo, a mulherada mantém a cabeça no lugar e agem com naturalidade e firmeza, independente da circunstância. “É preciso entender que é um jogo e quando acabar cada um vai para sua casa. Sabemos que vamos ouvir algumas coisas que não queremos (ofensas), mas é da adrenalina do jogo. Não podemos retribuir”, enfatiza Zilmara.

“Qualificação e respeito são as palavras-chave para a gente poder fazer esse trabalho. Com o tempo, os homens vão vendo que a gente entende, que respeitamos o espaço deles, mas também queremos o nosso. A tendência é que apareçam mais meninas nessa função. Me sinto muito honrada de poder trabalhar nos clubes”, conclui.

Rozelaine dos Santos trabalha como anotadora no Cantegril há um ano e cinco meses

Tranquilidade em meio à pressão no gramado
Apesar de serem cada vez mais respeitadas pelos atletas, elas não têm sossego na beirada do campo. Além da pressão, a mulherada precisa estar atenta a todos os detalhes da partida. “Temos que ter tranquilidade, até porque nós, mulheres, somos mais sensíveis. Não podemos revidar quando o atleta estiver no calor da emoção do jogo, para que a partida prossiga de forma agradável. Nossa responsabilidade é grande”, afirma Rozelaine dos Santos, que trabalha como anotadora no Cantegril há um ano e cinco meses.

“Ao final das partidas, eles (atletas) vêm até nós para pedir desculpas por qualquer eventualidade. Os árbitros também elogiam bastante nosso trabalho, nos convidam para trabalhar em outras partidas fora do clube também. Aos poucos, estamos conquistando nosso espaço”, acrescenta Rozelaine.
Mesmo com apenas 20 anos, Eduarda Possenatto se diz acostumada com a pressão no Grêmio Gaúcho. “Acabamos nos acostumando com isso (pressão), sempre dando o melhor para não haver erros e, assim, fazendo um bom trabalho. Já ouvi muita bobagem, acho que no começo isso é crucial para qualquer um. Com o tempo, conseguimos impor respeito. Estamos sendo cada vez mais vistas no meio do futebol, tanto trabalhando, quanto jogando”, conta ela, que atua como anotadora no clube há dois anos e meio.

Assim como Zilmara Kerber, a anotadora Camila Lima trabalha há bastante tempo na função e tem seu esforço reconhecido por jogadores e árbitros a cada partida no Cantegril, resultado de muita dedicação.

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