Assentamento indígena tem casos confirmados do novo coronavírus

Prefeitura diz não haver motivo para pânico e que situação está controlada

Em transmissão ao vivo na página da Prefeitura de Montenegro no Facebook, a secretária municipal da Saúde, Cristina Reinheimer, confirmou, ao lado do prefeito Carlos Eduardo Müller, o Kadu, que há casos de indígenas infectados na cidade. O número de casos positivados no assentamento da tribo Kaingang não foi informado. Questionados diversas vezes sobre o dado, a prefeitura, através da Assessoria de Comunicação, informou apenas que “neste grupo, foram realizados 45 testes sendo alguns positivados”.

De acordo com Cristina, foram realizados testes na segunda-feira, dia 25, em ação promovida pela pasta. “No momento em que passamos o resultado comunicamos ao cacique, onde chamamos toda a população e passamos orientação a todos”, enfatizou a secretária. Além de orientar a comunidade indígena a não saírem do local onde se assentaram, no bairro Centenário, a secretaria municipal da Saúde (SMS), com apoio da secretaria municipal de Habitação, Desenvolvimento Social e Cidadania (SMHAD), levou aos índios alimentos, leites, fraldas e medicações para os que fazem uso para que eles não saiam do acampamento durante o período de quarentena. “Não existe motivo para pânico”, reforçou Cristina. A secretária destacou, ainda, a importância em manter o isolamento social, o distanciamento e o uso de máscara. “Os casos vão aumentando e a gente vai passar essas fases mais vezes, então temos que manter a calma e fazer o uso de equipamento de proteção individual (EPI)”, salientou.

O prefeito Kadu Müller observou que os casos positivados entre indígenas repercutiram no Município, mas assegurou que a situação é controlável devido ao isolamento domiciliar em que o grupo está. O chefe do Executivo também enfatizou que uma ação mais forte de acompanhamento de casos tem sido realizada em Montenegro desde a última semana. “Ações específicas da SMS fizeram testes em localidades, em residências e em pessoas com suspeita de Covid-19 e tivemos também uma ação mais efetiva junto à comunidade indígena que hoje se encontram em Montenegro”, comentou. Colaboraram na ação na comunidade indígena a Guarda Municipal, a Brigada Militar, a Fundação Nacional do Índio (Funai), a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e o Ministério Público.

Em balanço divulgado na terça-feira, 27, a Prefeitura de Montenegro informou haver 58 casos positivos na cidade – um aumento de 31 casos se comparado com o final de semana, e que causou preocupação e questionamento na comunidade. Desses, 22 são dados como recuperados. Há ainda um óbito registrado.

Sem respostas
A prefeitura de Montenegro não informou quantos, dos 45 testes aplicados nos integrantes da comunidade indígena, tiveram resultado positivo. A informação repassada pela assessoria de comunicação é de que não há esse dado dividido por grupos.
Questionada sobre o motivo para haver o salto de 31 casos confirmados na segunda e terça-feira, a Assessoria de Comunicação se limitou a afirmar que não são todos indígenas. “Desde a última semana, o Ministério da Saúde ampliou o critério para aplicação dos testes rápidos. Com isso, a Secretaria Municipal de Saúde aumentou as testagens incluindo, por exemplo, pacientes acima de 50 anos com sintomas gripais. Os índios, assim como outras tantas pessoas, foram testados.”

População indígena está em grupo indicado para testes
Desde a noite de segunda-feira, dia 25, uma mensagem que circulou pelo WhatsApp relatava a confirmação de casos de Covid-19 no assentamento Kaingang em Montenegro. Logo pela manhã de terça-feira, dia 26, a reportagem do Jornal Ibiá entrou em contato com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura buscando esclarecimentos do caso. Até a realização da transmissão ao vivo, o único retorno recebido foi o de que houve uma ampliação do critério de aplicação dos testes rápidos por parte do Ministério da Saúde e que, com isso, a SMS aumentou as testagens.

Conforme a Nota Informativa 9/2020 da SES, a população indígena faz parte do grupo com indicação para testes. Também fazem parte deste grupos pessoas com 50 anos ou mais, gestantes, profissionais que trabalhem em veículos de transporte de cargas e transporte coletivo de passageiros, trabalhadores do sistema penitenciário, da segurança pública, da assistência social e da saúde.

Comunidade suspende atividades que geravam renda
Pela manhã, a reportagem também foi até o acampamento. No entanto, em conversa com distanciamento, o líder da comunidade indígena preferiu não se manifestar no momento. À tarde, com a confirmação dos casos pela Prefeitura, o Ibiá retornou ao local e o índio Darci Rodrigues Fortes, uma das lideranças da comunidade, à distância, passou seu número de telefone para que a reportagem fizesse contato.

Via WhatsApp, Darci relatou que as atividades da comunidade indígena que geravam renda, como a venda de artesanato, foram suspensas em razão da necessidade de isolamento. Ele reforçou que a tribo está respeitando a quarentena e só em casos de necessidade extrema – e de uma pessoa por vez – está sendo permitida a saída do assentamento. Darci salientou que nenhum membro da comunidade apresentou sintomas graves da doença.

Com a impossibilidade de manter suas atividades econômicas, que era complementada por índios que trabalhavam na colheita de cebola, alho e uva na Serra Gaúcha, a principal preocupação da comunidade é a alimentação. Apesar de a Prefeitura fornecer alguns itens para a comunidade, a liderança reforça o pedido por doações de alimentos, material de higiene e limpeza, leite e fraldas. “Qualquer donativo que for enviado à nossa comunidade indígena nós receberemos com muito prazer”, afirmou.

Testes rápidos não têm função de diagnóstico
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os testes rápidos positivos indicam que a pessoa teve contato recente com o vírus (IgM) ou que você já teve Covid-19 e está se recuperando ou já se recuperou (IgG), uma vez que indicam a presença de anticorpos (defesas do organismo). No entanto, os anticorpos só aparecem em quantidades detectáveis nos testes pelo menos oito dias depois da infecção.

Testes rápidos indicam presença de anticorpos, que aparecem oito dias depois da infecção pelo novo coronavírus. FOTO: Divulgação/SES

Ainda assim, o teste pode ser positivo indicando que você teve contato com outros coronavírus e não com o SarsCoV-2/Covid-19 (falso positivo). O diagnóstico definitivo da infecção pelo novo coronavírus deve ser feito por testes de RT-PCR. Os testes de RT-PCR e de antígenos têm função diagnóstica, sendo o RT-PCR o teste definitivo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

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