A hora do terror respiratório

É provável que nessa semana que passou você tenha vestido casacos pesados para sair de casa logo cedo. Talvez até tenha pensado em enrolar no pescoço aquela manta quando abriu a janela e sentiu o ar gelado. Mas então, por volta do meio dia, já usava blusas leves, talvez até tenha arriscado uma manga curta. São os termômetros das chamadas épocas de “meia estação”, características do outono e da primavera, quando as oscilações térmicas se ampliam e percebe-se um aumento de manifestações de problemas respiratórios como asma e rinite, além de muitos resfriados.

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Pneumologista Fabiana Barth Bauermann

A pneumologista Fabiana Barth Bauermann, esclarece que asma e a rinite são condições crônicas muito comuns, que afetam tanto crianças quanto adultos e podem se exacerbar nos meses de inverno e também durante a primavera. Fatores desencadeantes das crises em pessoas suscetíveis incluem questões genéticas e ambientais, além de sofrer variações em cada pessoa. A oscilação na temperatura, infecções virais, polinização, tabagismo (ativo ou passivo) e a poluição, entre outros irritantes, podem piorar a situação de uma pessoa, assim como não afetar outras tantas.

Na última terça-feira, 2, foi lembrado o Dia Mundial da Asma. Oportunidade utilizada por médicos para apresentar informações e dicas para prevenir crises, que por vezes levam a hospitalização. A especialista explica que o diagnóstico clínico da asma é sugerido por um ou mais sintomas: falta de ar ou cansaço, tosse crônica, chiado no peito, opressão ou desconforto torácico, sobretudo à noite ou nas primeiras horas da manhã. “As manifestações que sugerem fortemente o diagnóstico de asma são a variabilidade dos sintomas, o desencadeamento de sintomas por irritantes inespecíficos – como fumaças, odores fortes e exercício – ou por aeroalérgenos – como ácaros e fungos – a piora dos sintomas à noite e a melhora espontânea ou após o uso de medicações específicas para asma”, destaca.

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Broncodilatores oferecem alívio em crises de asma

A asma é caracterizada por uma inflamação crônica das vias aéreas que causa contração dos brônquios e bronquíolos. Isso pode ser desencadeado por, além dos fatores alergênicos já citados, a prática de exercícios físicos, estresse emocional e por mudança de temperatura. “Nesta época mais fria do ano, as pessoas tendem a se fechar nos ambientes e, por isso, as crises de asma podem ser mais frequentes. Além disso, cerca de 80% dos asmáticos têm rinite, considerada como um ‘ponto de partida’ para acessos de asma”, diz Fabiana Bauermann. Todos os anos, dois milhões de brasileiros são diagnosticados com asma e 350 mil são internados por causa da doença.

A rinite é uma inflamação da mucosa nasal, que sendo de causa alérgica é uma reação imunológica do corpo a partículas inaladas que são consideradas estranhas, os alérgenos. O nariz é a porta de entrada para o ar e substâncias carregadas por ele, e tem a função de filtrar as impurezas, além de umidificar e aquecer o ar que vai chegar aos pulmões.

“O indivíduo alérgico tem uma reação exagerada aos alérgenos. Seu sistema imunológico reage de forma intensa a estas substâncias estranhas na tentativa de defesa do organismo”, diz a pneumologista. Na crise da rinite, a pessoa apresenta obstrução nasal, coriza, espirros e coceira no nariz, lacrijamento nos olhos. “Se a pessoa tiver uma predisposição para asma, pode apresentar também uma crise de asma com falta de ar, tosse, chiado e opressão no peito”, complementa a especialista.

Como evitar e tratar?
Existe um componente genético nas alergias. Quando ambos os pais têm rinite, a chance de os filhos terem o problema chega a 50%. Quando a pessoa que carrega essa predisposição entra em contato com um alérgeno, passa a ser reativa a ele e não mais o tolerar. Essa reação em geral acontece nos primeiros anos de vida, mas pode ser mais tardia.

Várias substâncias presentes no meio ambiente são alergênicas, mas predominam a poeira, o pólen e alguns alimentos. A poeira doméstica é a principal responsável pela rinite em boa parte do Brasil. Esta poeira tem vários componentes, como restos de pelos de animais, descamação da pele humana e de animais e restos de insetos, bactérias, fungos e ácaros.

Pessoas que apresentam outras doenças alérgicas, como asma, eczema e a conjuntivite alérgica, carregam maior risco para rinite de origem alérgica.

Outros fatores de risco incluem: possuir familiares com histórico de alergias, frequentar locais mal ensolarados e mal ventilados, poluição do ar.

O tratamento dos sintomas para rinite alérgica melhora a respiração nasal, evita crises de rinite e infecções como sinusite e otite. Ele é composto por três pilares: higiene ambiental, medicamentos e imunoterapia (vacinas antialérgicas) para casos em que não houve melhora com as medicações objetivando dessensibilizar a pessoa para aquele alérgeno específico.

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cuidados com a casa são essenciais

Cuidar do ambiente é essencial
A forma mais simples de prevenir as crises de rinite alérgica é evitando o contato com a substância que desencadeia os sintomas. Carpetes, cortinas, tapetes e bichos de pelúcia podem armazenar poeira e ácaros, e não devem fazer parte do quarto. Os ambientes da casa devem estar sempre bem ventilados e ensolarados. De preferência, a limpeza deve ser feita com pano úmido. Também devem ser evitados produtos de limpeza perfumados, tintas, fumaça do cigarro e inseticidas. O tratamento medicamentoso inclui antialérgicos, descongestionantes nasais e corticosteróides. Estes últimos se aplicados no nariz são prescritos para tratamento em longo prazo e tem o objetivo de melhorar os sintomas de rinite.

Já no tratamento da asma são usados broncodilatores para alívio das crises e medicações anti-inflamatórias preventivas ( a “bombinha”) para indivíduos com asma mais persistente. O tratamento adequado permite melhorar a qualidade de vida do paciente, diminui as crises e evita hospitalização relacionada a doença. Evitar o contato com alérgenos já conhecidos e os cuidados com a limpeza do ambiente são boas estratégias para prevenir formas mais agudas da doença.É importante consultar o médico quando estes sintomas se apresentam para receber tratamento e acompanhamento adequados.

Não confunda rinite com gripe
O professor de Alergia e Imunologia Clínica do curso de Medicina da Univates, Luiz Bernd, diz que os resfriados e gripes são provocados por infecção de vírus, que têm manifestações de intensidade variável e evoluem por tempo limitado. “É comum que o quadro afete também colegas de trabalho e familiares”, explica. No entanto, Bernd chama a atenção para as pessoas que “vivem resfriadas”.

Segundo ele, apresentar espirros, secreção nasal, congestão e obstrução nasal, coceira no nariz e também nos olhos de forma frequente podem ser sintomas de rinite. “Existem numerosas causas de rinite, mas a mais comum é a rinite alérgica. Nessa condição, a pessoa se tornou alérgica a componentes do ambiente, como ácaros da poeira, fungos, pólen e alérgenos de animais domésticos, e, se não tratar, apresentará manifestações nasais diariamente, com variações de intensidade”, lembra o professor.

Esse grupo de pessoas também é mais suscetível às mudanças bruscas de temperatura, características do clima na região. “A primeira atitude para se proteger é buscar tratamento. Hoje existem medicamentos seguros e eficazes que podem proporcionar o controle dos sintomas e uma vida com qualidade”, diz.

A fiscalização do ambiente também é fundamental para a evolução favorável do quadro. Segundo Luiz Bernd, o ideal é retirar do ambiente do alérgico objetos que acumulam poeira, como estofados, carpetes etc., assim como controlar a umidade do ar e tratar a presença de mofo nas paredes. Nesse caso, não deixar o casaco no armário também é importante. “Não se deve relaxar no vestir: é importante não sentir frio. Portanto, proteger o corpo, mãos e pés com tecido que impeça a diminuição da temperatura corporal e proteja dos ventos é fundamental”, garante Bernd.

Entenda melhor a asma
A propósito do Dia Mundial da Asma, o médico PhD em pneumologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Marcelo Tadday, apresentou alguns temas importantes quanto a prevenção e tratamento dessa doença.

Genética: tem grande influência na asma e crianças de pais asmáticos possuem risco maior de desenvolver a doença. Se um dos pais forem asmáticos o risco é de 25%, enquanto se os dois tiverem o problema à probabilidade sobre para 50%;

Idade: a asma afeta pessoas de todas as idades, mas geralmente começa na infância;

Vilões: um dos principais fatores desencadeantes da asma são os ácaros, e micro-organismos que se alimentam de pele descamada e que habitam carpetes, cortinas e travesseiros;

Atividade física: é fundamental para um estilo de vida saudável. A natação, por exemplo, ajuda no fortalecimento da musculatura respiratória;

Animais de estimação: cuidado com eles. Não é apenas o pelo que pode desencadear uma crise asmática. A descamação natural do animal, assim como sua saliva e urina, são capazes de atuar como gatilhos para a doença;

Tabagismo: o fumo, mesmo quando passivo, leva à piora dos sintomas. Ou seja, mesmo se o asmático não fumar, ele pode ser prejudicado pela fumaça dos outros;

Cura: a asma não tem cura, mas pode ser controlada a ponto dos seus portadores levarem uma vida normal. Procure um pneumologista.

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