A cura que vem das plantas

Ervas medicinais. Modelo de cultivo promove conscientização e estimula melhoria da qualidade de vida dos seus adeptos

“Precisamos aprender a encontrar a raiz das nossas doenças, não apenas tratá-las de forma paliativa”, explica a agricultora Graciela dos Santos, 36, ao comparar a medicina tradicional e a alternativa com o uso das ervas medicinais.

Ainda na infância, Graciela aprendeu sobre o uso das plantas medicinais no dia a dia e a importância desse tipo de cultivo no desenvolvimento da qualidade de vida das pessoas. É o resultado de uma cultura passada de geração em geração. Ela aprendeu com sua avó, que na época era benzedeira e encontrava nas plantas o auxílio para a cura das mais diferentes enfermidades.

Hoje em dia, a agricultora lamenta que todo esse legado do curandeirismo esteja se perdendo. “Atualmente, é difícil encontrar uma rezadeira e foi graças a uma que pude aprender sobre a riqueza das ervas medicinais, algo tão próximo a nós, mas que muitas vezes não enxergamos” comenta Graciela.

A habilidade na lida e o gosto pela prática foram se enraizando e a agricultora passou dedicar a vida ao cultivo das plantas curativas. Atendida pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater), hoje ela desenvolve um trabalho voltado à medicina alternativa através do uso dessas ervas, seja por meio da alimentação, em forma de chás, ou tantas outras técnicas possíveis que elas oferecem. Para tanto, Graciela inicialmente realizou uma catalogação das plantas existente em sua propriedade, localizada na comunidade de Fortaleza, e fez cursos nessa área.

“A abundância de ervas encontradas aqui é incrível e essa valorização da biodiversidade local é extremante importante. Não precisamos buscar variedades de plantas em outros lugares, mas sim, reconhecer e compreender as funções daquilo que está perto de nós”, ressalta a agricultora. “O processo de classificação foi tão positivo que decidi cursar Biologia, buscando mais conhecimentos sobre o assunto”.

Quando se trata da medicina, Graciela reconhece e destaca a importância do tratamento convencional, porém, critica a forma como ele age. “As doenças são tratadas de modo isolado, assim, quando algo é curado, outro problema surge”, explica. “Quando falamos em medicina alternativa ou complementar, buscamos tratar além dos sintomas, mas também o motivo do problema”.

Apaixonada pelo assunto, a agricultora não mede esforços para buscar mais informações sobre o tema. As leituras diárias são apenas um dos tantos hábitos que se somam à rotina de total dedicação de Graciela, que hoje acredita e defende a ideia do poder da autocura, com base no equilíbrio da mente e aliado a um estilo de vida mais saudável.

Com o objetivo de buscar o aperfeiçoamento do uso das ervas curativas, a agricultura Graciela dos Santos, 36, está desenvolvendo em sua propriedade uma horta medicinal, conhecida na medicina chinesa por Relógio do Corpo Humano. Trata-se de uma estrutura composta de diversas plantas que faz relação entre o funcionamento dos principais órgãos do corpo humano em seus horários de pico de maior atividade e as plantas medicinais que têm ação farmacêutica sobre eles.

A agricultora ressalta a importância de compreender esse funcionamento do corpo para a eficácia de cada tratamento. “O fígado, por exemplo, funciona de forma mais acelerada entre 1h e 3h da manhã. Assim, para tratar esse órgão de acordo com o Relógio do Corpo Humano, é indicado o uso das plantas Cardo Mariano e alcachofra”, explica.

Nessa estrutura, há a representação do fígado, pulmão, intestino grosso, estômago, baço e pâncreas, coração, intestino delgado, bexiga, rins, circulação, sistema digestivo, respiratório e excretor, além da pele, que fica no centro.

Alimentação e saúde
Quando o assunto é medicina alternativa, a questão da alimentação é um dos alicerces que sustentam a prática. A agricultura Graciela dos Santos destaca que o alimento é responsável por direcionar o equilíbrio do organismo físico através daquilo que é consumido.

“Nós temos que entender que o nosso corpo funciona como uma máquina. Se alguma peça está com defeito, todo o resto fica comprometido. Dessa forma, se algum órgão fica com déficit de algum nutriente, ele não trabalha com todo seu potencial e irá sobrecarregar os outros órgãos”, alerta a produtora rural.

A falta de diversidade no prato dos brasileiros é um dos principais erros na hora de comer, segundo Graciela. “Consumir sempre os mesmos alimentos, como arroz, carne e feijão, garante às pessoas os mesmos nutrientes todos os dias”, relata a agricultora, que acrescenta a necessidade de mais saladas e sucos naturais na mesa da população.

Resgate cultural é uma das metas da Emater
Promover o resgate da sabedoria popular sobre os remédios naturais é um dos objetivos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater). Além disso, de acordo com o extensionista Everaldo da Silva, prestar apoio às propriedades que desenvolvem o cultivo das ervas medicinais é fundamental também para a promoção de uma consciência mais sustentável.

Em sua propriedade, a agricultora
Graciela dos Santos cultiva os mais
variados tipos de plantas medicinais

“O uso das plantas curativas faz parte das raízes culturais em nossa sociedade. Dessa forma, nós sempre buscamos desenvolver alguns trabalhos com grupos de mulheres que procuram por essa demanda”, comenta o extensionista. “Outra questão importante nesse processo é que as pessoas vão repensando seus hábitos, partindo de uma consciência mais sustentável”, relata.

Cuidados essenciais

Adepta da medicina alternativa, a agricultora Graciela dos Santos alerta para o cuidado no uso das ervas medicinais. “Entre o remédio e o veneno, a diferença está na dose”, ressalta. “É preciso conhecimento e cuidado, sem esquecer o nível de toxicidade presente em algumas plantas”.

Formas de uso das ervas medicinais
As ervas medicinais têm seu potencial curativo reconhecido há milênios pela humanidade, isso graças às inúmeras propriedades contidas nos mais diferentes tipos de plantas cientificamente comprovadas. Quando se trata de manuseio, elas também surpreendem pelas variadas formas utilização.Uma das maneiras mais conhecidas de consumo é o chá, feito em forma de infusão, onde a planta é colocada geralmente em uma caneca com água fervendo sobre ela. É recomendado que esse processo tenha duração de cerca de 10 minutos, com o recipiente fechado para alcançar um melhor resultado.

Tintura
Tinturas são extratos concentrados de ervas trituradas em um composto de álcool. Essa técnica é especialmente eficaz em conservar as principais propriedades das plantas, assegurando longa preservação dessa mistura.

Cataplasma
Cataplasma é uma pasta feita com as ervas medicinais socadas, formando uma espécie de gel, creme ou loção, aplicada diretamente sobre uma área afetada, dolorida, inchada, ferida ou no local onde se deseja realizar um tratamento de pele.

Compressa
As ervas são cozidas em pequenos punhados. Após este processo, são torcidas e aplicadas sobre a área afetada ou a parte dolorida.

Banho medicinal
As plantas são cozidas por cerca de 20 a 45 minutos. Após este processo, as ervas são misturadas à água para serem usadas no banho.

Inalação
Consiste em inspirar o vapor da fervura de determinada planta. Geralmente é indicada para aliviar as vias respiratórias.

Suco
As ervas são trituradas com um pilão, máquina de moer ou liquidificador com um pouco de água. Em seguida, tudo é passado por um coador e assim é feito o suco medicinal.

Gargarejo
É preparado um chá por meio de decocção e utilizado para gargarejo algumas vezes ao dia. Deve-se enxaguar bem a garganta.

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