“A cadeira de rodas tranca nos buracos da rua”

Moradores do bairro Estação têm dificuldades para sair com o filho, que é cadeirante, e colocam a casa à venda

“Quando nós viemos para cá, pensamos em ter uma vida melhor e realmente vivemos bons anos aqui, mas a falta de compreensão e o abandono de certas localidades me surpreenderam.” O desabafo é de Cassiano Carvalho, 36 anos, pai de Ygor da Silva Carvalho, de seis. Em 2007, ele e sua esposa se mudaram de Guaíba para Montenegro, após ele ter perdido seu emprego. O menino é cadeirante e os pais encontram dificuldade de locomoção, pois a via em que residem, Rua das Artemísias, é de chão batido e está esburacada. “As rodas travam porque o terreno não é plano, e daí vai dando balanços fortes no trajeto, o que machuca ele (Yuri)”, comenta.

Yuri tem paralisia no lado esquerdo do corpo e necessita do uso diário da cadeira de rodas. Sem um terreno plano, os pais têm dificuldades em sair com o filho no bairro

Em agosto do ano passado, Yuri conseguiu uma vaga para estudar na Escola do bairro Estação, mas não havia transporte e a mãe, Grasiela da Silva, de 33, levava o garoto todos os dias ao educandário a pé, empurrando a cadeira. “Às vezes, a trepidação machucava tanto ele que, no dia seguinte, não tinha mais vontade de ir à aula”, diz Grasiela. Tudo o que os pais pedem a Prefeitura é que a Rua das Artemísias seja asfaltada.
Cassiano conta ainda que, há cerca de quatro anos, o calçamento que existia estava danificado e foi completamente retirado por funcionários municipais, com a promessa de um asfaltamento. “Por duas vezes, nos disseram (os funcionários) que a verba para a obra estava em mãos. Não sei o que aconteceu, pois nunca realizaram o recalçamento nem asfaltaram a rua”, comenta. Com toda a dificuldade que surgiu e sem respostas do município, ele colocou seu terreno, com duas casas, à venda, pelo valor de R$ 100 mil. “Sei que vale mais, mas do jeito que o bairro está largado, poucos têm interesse em morar aqui”, resume.
A deficiência motora de Ygor foi identificada quando ele tinha três anos. Ele se desequilibrou e caiu dentro de casa. Na queda, quebrou o pé e o braço esquerdo. “Ele tem paralisia no lado esquerdo do corpo, porém faz alguns movimentos involuntários. E o caso é bem complicado, já que nenhum médico quer operar. Dizem que é muito arriscado”, diz Cassiano. Mesmo com tantos problemas, o pai, orgulhoso de seu menino, conta que ele recebe muitos elogios dos professores na escola e que consegue até jogar vídeogame nas horas de lazer. “Sempre tem notas boas e o pessoal conta que ele brinca com os colegas todos os dias”, afirma.

A renda da família é baixa. Só Cassiano trabalha, como operador de máquinas, e as consultas que Yuri precisa acabam sendo pagas pelo plano de saúde que sua empresa proporciona. Quando o plano não cobre, Cassiano precisa fazer acordos com a empresa, que tem sido solidária com ele. “Graças a Deus, eles sempre me ajudaram quando o plano não cobria, parcelando no salário depois”, conta.

A reportagem do Ibiá tentou contato com a Secretaria Municipal de Viação e Serviços Urbanos para falar sobre o problema, mas o titular da pasta, Ricardo Endres, não deu retorno à reportagem.

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