Zé Fagundes: a vida dedicada à família, animais e tradicionalismo

“Zé” faleceu há uma semana, vítima de um atropelamento, no interior de Montenegro

Muito conhecido e querido na cidade, José Carlos Fagundes, 72, faleceu na tarde da última terça-feira, 19, após ser atropelado na Estrada Geral de Santos Reis, interior de Montenegro. Ele deixa esposa e cinco filhos, três do primeiro casamento (Marcos, Carlos e Fernando), e dois da atual união (Gabriel e Artur). A morte causou muita comoção em Montenegro, e muitas homenagens foram prestadas nas redes sociais. “Zé” era conhecido por auxiliar entidades no acolhimento e cuidados de cavalos em situação de maus-tratos. No próximo dia 10 de junho ele iria completar 73 anos.

Montenegrino de berço, Zé Fagundes nasceu e foi criado na Volta do Anacleto, e há cerca de 35 anos residia na rua Alencastro Goulart Flores, no bairro Olaria, próximo à Lomba do Camboim. No local Zé era referência. “O endereço da rua mudou com o tempo, e as pessoas não sabiam. Era só dizer que era nos Fagundes, lá no Zé Fagundes, aí todo mundo sabia. As pessoas diziam o Zé do caminhão”, conta a ex-vizinha da família, Joziane Ferreira, 41. “Era pai amoroso; vizinho prestativo; homem de fundamento”, completa.

Pai amoroso e dedicado deixa só lembranças boas para aqueles que passaram na sua vida. “O pai não foi só um pai, mas amigo”, diz Fernando Fagundes, 34. Com os olhos marejados e orgulho na fala, o filho relembra histórias marcantes com José. “Teve uma vez que o pai saiu às três da manhã na chuva pra buscar um boi. Ele laçou o boi não sei como, no escuro, chovendo. Ai eu perguntei pra ele, porque de fazer aquilo se ele não ganhava um real, e ele respondeu: ‘vai que uma família se acidenta’”. Fernando relata que o pai conseguia educar com poucas palavras, e sempre era sábio no que dizia.

Dizem que só quem não viveu não tem histórias para contar. Nesse caso, Zé Fagundes viveu muito bem, pois a família e os amigos lembram felizes os momentos que tiveram juntos. “A história sempre começava com eu não tenho cavalo, vai lá no Zé Fagundes; eu gosto de cavalo, vai lá no Zé Fagundes, era um formigueiro de guri até hoje”, diz Fernando.

Muito brincalhão, Zé adorava pregar uma peça nos amigos. “Quantas vezes eu vi gente correndo por causa das sacanagens dele”, brinca o sobrinho, Manoel Fagundes. Manoel morou junto com o tio no interior, e conta que muito ele o ajudou. “Tudo ele resolvia sorrindo, era o nosso amigo. Se precisava de uma carona até o colégio era com ele”.

Sempre com amigos reunidos em sua casa, Zé cuidou como filhos muitas crianças da vizinhança. “Ele ajudou a criar o meu filho. O meu filho tinha doze anos voltava do colégio e ia direto pro Zé Fagundes”, fala o amigo, Édson Titano. Segundo ele, Fagundes deixou um legado que ficará para todo o Estado. Ex-agente da Polícia Rodoviária Estadual, Titano relembra que muitas vezes atendia chamados de gados na faixa, e era Zé que normalmente recolhia, sempre com o seu caminhão boiadeiro e o laço firme.

Fagundes amava o tradicionalismo

Amante do tradicionalismo e dos animais
Parceiro das causas animais, Zé ajudou muitas entidades do município, como a Amoga e a Brigada Militar. “O Zé Fagundes era uma pessoa muito legal. Ele nos ajudava a recolher o cavalo e ia com aquele caminhão boiadeiro dele e colocava nos campos dele, dava medicação e engordava” relembra a presidente da Amoga, Maria Luiza Rodrigues Kimura.

Com um carinho especial pelos animais, Zé dava nome com significados para as suas vacas, cachorros e cavalos, e sempre ajudava ao próximo. “Tinha muitos cachorros eram largados na propriedade dele e ele tratava. Ele era uma ótima pessoa, todo mundo ficou muito sentido com a morte dele, e ainda mais nessa forma”, fala Maria Luiza.

Se precisava pegar um boi brabo que ninguém conseguia, era só chamar o Zé e os filhos. O montenegrino sempre dava um jeito para ajudar, seja na chuva, no sol, de manhã ou de madrugada. Segundo Fernando, a Brigada encontrava um animal na rua, ligava e ele ia com o próprio caminhão buscar, deixava no campo dele até aparecer o dono e se precisasse tirava dinheiro do próprio bolso para medicar os animais.

Fundador do Piquete Lenço Preto, ele realizou diversos rodeios, e estava sempre presente nos eventos campeiros. “Dentro do município de Montenegro, na parte campeira, não existiu e nem vai existir quem ganhe troféu como o Lenço Preto”, fala o filho. Mesmo com 72 anos, Zé ainda laçava e dava show na cancha, sendo exemplo pra muitos jovens.

Um pai pra todos
Fagundes tinha extremo carinho pelas crianças e jovens. Como foi dito anteriormente, muitos se criaram com ele, na lida do campo e da vida. João Lucas da Silva, 29, ex-vizinho, cresceu ao seu lado e desabafa que todos perderam um pai. “Só faltou ele me registrar como filho, porque eu me criei ali com ele e foi um paizão sem palavras. Nas horas mais difíceis ele me acolheu”, diz.

No domingo anterior a morte, Zé preparou um churrasco para a família

João aprendeu a laçar, andava de caminhão e tomava chimarrão todos os dias pela manhã com o pai de coração. “O que a gente leva desse mundo não é mansão, não é carro novo, não é nada, é uma boa da amizade; isso que ele dizia”.

Fernando junto ao pai, Zé Fagundes

Zé sonhava que todas as crianças e jovens de hoje tivessem vivência campeira e fossem laçadores de rodeio. Inclusive muitos laçadores de Montenegro iniciaram a trajetória no seu campo, como é o caso de Rafael Fanho. “Todo mundo achou que ele foi um pai, mas a verdade é que ele foi pai pra todo mundo. Todo mundo pode curtir ele”, relata.

Criado junto com Fernando, o vizinho da família, Jeferson costa, se tornou médico veterinário graças ao ponta-pé de Fagundes. “Os meus pais moram aqui nessa rua, e nós não tínhamos terra, era só o terreno e a casa. Mas eu gostava e eu queria uma oportunidade de andar a cavalo, de lidar com boi”. E foi Zé quem oportunizou essa chance pro garoto.

“Desde pequeninho enchendo o saco, limpava cocheira, trabalhava, fazia cerca, e o que ganhava era bóia, a volta a cavalo, ele levava pra rodeio”, diz. Em seu trabalho de conclusão de curso, Fagundes foi homenageado, e segundo Jeferson ele foi um grande pai/amigo. “A essência do Zé é essa, ele te abraçava e te levava como filho”.

Últimas Notícias

Destaques