Volta da limpeza das casas após recuo das águas do Rio Caí

Moradores relatam perdas com a segunda enchente do mês

Em menos de uma semana, os moradores de Montenegro enfrentaram a segunda enchente, trazendo ainda mais prejuízos e desafios para a comunidade. O Rio Caí, que inundou diversas áreas da cidade, começou a baixar novamente nessa terça-feira, 14, permitindo que os moradores reiniciassem o trabalho de limpeza e recuperação de suas casas.

Cleusa Barros, de 68, moradora do bairro Municipal há 10 anos, conseguiu voltar para casa nessa quarta, 15, para limpeza e compartilhou a sua experiência com as enchentes recentes. “Foi terrível, porque a primeira foi no começo de maio, e aí agora deu essa forte de novo e perdemos tudo o que tínhamos conseguido recuperar em casa. Não tem mais nada”, relata.

Após a primeira enchente, Cleusa e sua família tinham conseguido retornar para casa e realizar a limpeza necessária. “A gente já tinha limpado tudo. Tava tudo arrumadinho de novo”, conta. No entanto, a segunda enchente, ocorrida poucos dias depois, voltou a inundar a residência. “Aí veio essa agora e entrou outra vez, nos deixando sem nada de novo”, completa.

Os danos foram extensos. Cleusa menciona a perda de móveis, roupas e outros pertences essenciais. “Móveis não temos mais nada. Roupa também, perdemos tudo”, disse ela. Os eletrodomésticos, como geladeira e televisão, ainda estavam sendo avaliados para ver o que poderia ser recuperado. “Estamos tentando organizar, limpar a geladeira, secar a televisão. A televisão conseguimos recuperar, só uma máquina que não deu”, diz.

Comparando as duas enchentes, Cleusa explica que a mais recente foi ligeiramente menos severa em termos de nível da água, mas ainda assim devastadora. “Essa veio abaixo da janela, um pouco. A outra foi bem maior, passou pela janela, passou por cima da grade e derrubou até o muro atrás da casa”, relata.

Apesar do sofrimento e das dificuldades, Cleusa se mantém resiliente. “A gente está lutando. O que dá para fazer, a gente está fazendo”, disse ela, destacando que os esforços de limpeza e recuperação estão sendo feitos novamente, menos de uma semana após a primeira enchente. “Agora torcemos para não vir de novo, para conseguirmos seguir em frente”, finaliza.

Retrabalho para limpar a casa
Silvania Becker é moradora da rua Próspero Mottin há 60 anos. Ela conta que no ano passado, a enchente havia entrado em sua casa, onde mora com a mãe e a irmã, mas nada comparado ao estrago das cheias dos últimos dias. “Toda a vida a gente morou aqui. Vinha água na rua, mas desde julho do ano passado foi um inferno”, desabafa. Muito consternada, Silvania destaca que perdeu tudo. “A gente levantou as coisas a mais de um metro de altura, mas quando chegamos em casa, tinha molhado tudo, estava tudo virado, no chão, tudo quebrado”, lamenta. Ela conta que após a primeira enchente deste mês, a limpeza já começou em sua casa. “Lavamos tudo na semana passada a balde e esponja, porque água era um fio quando tinha”. Para sua surpresa, a última enchente veio com tudo, entrando na residência pouco tempo após a primeira limpeza.

Após 60 anos residente do Ferroviário, Silvania Becker teme recomeço ao perder tudo nas últimas cheias

“Não tínhamos nem terminado de lavar tudo e chegou mais uma”. Nesta quarta-feira, 15, foi o primeiro dia que a família pôde começar a limpar o estrago com água o suficiente para utilização do lava a jato. Para ela, o recomeço é mais complicado para quem é de mais idade, mas a expectativa é que os móveis sequem e voltem a funcionar para facilitar o processo.

Em meio a tantas perdas, o recomeço é certo
“Eu nunca imaginei que a água ia entrar na minha casa”. Para Lúcia Cristina Dill Mazim, foi assustador acompanhar a água subir o degrau para entrar em sua casa pela primeira vez em 30 anos morando na rua Osvaldo Aranha. Ela, que mora com o marido e ao lado da sogra, conta que assim que terminou de limpar as duas casas, a enchente retornou. Desta vez, sua casa não foi prejudicada como na primeira, diferentemente da sogra, que sofreu por duas vezes.

Ela conta que em sua residência a água chegou na altura do joelho, para a desagradável surpresa da família. Na casa de Lúcia, a água das cheias nunca tinha entrado. “Foi uma experiência horrível, parece que a gente está em um pesadelo e ainda não conseguiu acordar”, afirma. A limpeza foi a pior parte, já que teve que ser realizada mais de uma vez. “Não tinha água, a gente limpou de conta gota, de baldinho, porque a água nunca veio enquanto o barro secava cada vez mais“, acrescenta.

Ela fala que, com o marido, levantou tudo que conseguiu de móveis, mas muita coisa não deu tempo. Ela relembra a cena assustadora quando às 3h da manhã na semana passada, ela e a sogra saíram de casa com os bombeiros, enquanto o marido tentava salvar mais alguma coisa. “Eu perdi muito, mas consegui salvar muito”. Confiante, Lúcia agradece pela saúde e afirma que o recomeço é certo.

Nessa quarta-feira, a Prefeitura recolhe o que sobraram dos móveis nas ruas dos bairros mais baixos

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