SUPERAÇÃO E ESPERANÇA em dias melhores
No contexto do final de ano, período tradicional de reflexão e esperança, muitas famílias residentes em Montenegro revisitam as memórias de 2023, um ano marcado por desafios. Em especial, as recentes cheias trouxeram consequências devastadoras para algumas famílias. Contudo, a esperança em dias melhores se sobrepõe ao medo de enfrentar novamente a fúria das águas.
A venezuelana Elieska Barros havia se mudado para a rua Menino Deus, no bairro Ferroviário, há apenas um mês quando enfrentou a primeira enchente de sua vida. Mas não parou por aí, em cinco meses no local, ela viu uma sequência de três eventos climáticos, inclusive uma das maiores inundações já documentadas na cidade.
Apesar de residir em uma casa elevada, Elieska e sua família, a qual é composta por cinco filhos, sua mãe e seu marido, foram forçados a abandonar o local, buscando refúgio no abrigo do Parque Centenário devido à quantidade de águas que ultrapassou a altura da janela. O retorno ao lar trouxe consigo a desolação de uma casa em desordem. “Até hoje minhas roupas estão guardadas em caixas. Não tenho ânimo para comprar um novo roupeiro, penso que pode vir uma nova enchente e vou perder de novo”, desabafa.
“Aqui pega enchente mais rápido que em outros locais. O primeiro lugar que chega é aqui, essa parte do bairro é baixa”, afirma a moradora. A meta da família para ter um pouco mais de tranqüilidade em 2024 é mudar de endereço, mas não está fácil conseguir um imóvel. “Estou procurando outra casa, mas é difícil por que tenho muitas crianças e as pessoas não querem alugar para nós. Falam que é muita gente”.
“Não tem o que fazer, só estar preparada”
Zeni Possonatto mora há 24 anos na rua Otaviano Moojen no bairro Industrial, tempo suficiente para ver muitas cheias do Caí. “Já tinha enfrentado situações anteriores, mas essa última me surpreendeu. A água chegou à altura da janela, inundando a casa e nos forçando a descartar muitos de nossos pertences”, conta. Zeni ressalta a importância da preparação psicológica diante dessas adversidades, salientando que, embora bens materiais possam ser recuperados, o bem-estar emocional é o mais importante.
“Tem que deixar vir, né, fazer o que? São coisas da natureza, a gente não pode atacar. Não tem o que fazer, só estar preparada psicologicamente, os bens materiais a gente consegue de novo. Tem que cuidar para não se abalar e ficar doente, tem muita gente que entra em depressão por causa disso”, acrescenta a moradora.
Família do Passo do Manduca tenta reerguer negócio
Em uma localização privilegiada, cercada pela natureza, porém perigosa, próxima ao Rio Caí, Melisa Lerner e Paulo Henrique Sá construíram sua vida e família nos últimos 15 anos. No entanto, 2023 apresentou desafios para o casal empreendedor.
Paulo investiu as economias de uma vida inteira em um negócio promissor, a chamada Cantina do Maduca. Ele comprou trailer e diversos equipamentos, instalou pergolado para melhorar receber os clientes. No entanto, as frequentes enchentes que atingiram a região tornaram-se um obstáculo. “Com medo de uma nova enchente, levamos nosso trailer para a Cervejaria Krein Beer, com quem temos uma parceria,” conta Paulo.
Com móveis ainda erguidos sobre paletes e o freezer protegido, eles se preparam para uma possível nova inundação. “É desesperador,” desabafa Melisa, mencionando a incerteza e a tensão que sente diante das previsões de um Verão que ainda sofre reflexos do El Niño.
Mesmo diante das adversidades, o casal mantém a esperança e a determinação. “Aqui constituímos nossa família e nosso negócio. Foi um ano atípico, mas não podemos reclamar. Vamos erguer a cabeça e seguir em frente,” afirma Paulo, enfatizando sua resiliência.
Com planos de reabrir a cantina em 14 de janeiro e uma perspectiva otimista para 2024, Melisa e Paulo demonstram que, apesar dos desafios, sua ligação com o local permanece forte. “Vamos acreditar. Vai dar tudo certo, é só o que queremos,” concluiu Paulo.