Tabu na sociedade, o sexo na terceira idade passa por muito preconceito, que muitas vezes está relacionado com pressão estética ou vigor físico. É justamente por este motivo que o assunto é deixado de lado pelos mais velhos durante as consultas com profissional e até mesmo com o próprio parceiro dentro de casa. Isso porque falar sobre sexo movimenta sentimentos, experiências e emoções de quem fala e também de quem escuta.
Nadiessa Dorneles Almeida, ginecologista do Hospital Moinhos de Vento e mestre em Gerontologia Biomédica, explica que por toda a repressão histórica que o tema sofreu, ainda hoje as pessoas lidam com julgamentos, ansiedade e vergonha com o tema, principalmente na população idosa, que vivenciou de perto o impacto cultural desta repressão. “Um exemplo clássico desse tabu é pensar que idosos não têm vida sexual ativa, fato que já foi refutado por inúmeras pesquisas e que, como ginecologista, garanto que é uma grande inverdade”, enfatiza.
Vale lembrar que a sexualidade é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como parte integrante da qualidade de vida. Isso, claro, inclui a terceira idade. Nadiessa afirma que enquanto houver saúde, a pessoa pode manter sua vida sexual ativa, independente da idade. Ela diz que pesquisas sugerem que manter a vida sexual ativa na terceira idade é correlacionada benefícios físicos e emocionais. Dentre eles está a maior qualidade dos relacionamentos, taxas mais baixas de depressão e até mesmo a possibilidade da melhora de algumas condições clínicas de saúde, como a imunidade e a saúde cardiovascular. “Além disso, também há melhora da autoestima, do autocuidado e do sono em idosos sexualmente ativos”, acrescenta.
A transformação da sexualidade
Sendo assim, as pessoas devem entender que com o passar dos anos a sexualidade não deixa de existir, mas sim se transforma. É preciso ampliar o conceito de sexo na terceira idade. Nadiessa relembra que muitas vezes devido às mudanças físicas e emocionais, as práticas sexuais, os desejos e os interesses mudam. “A sexualidade na terceira idade de forma alguma se limita ao ato sexual. Ela também explora intimidade, afeto e inúmeras outras formas de expressão”, complementa.
Nadiessa relembra que para a mulher, a menopausa causa alterações importantes na região genital, como o ressecamento vaginal. “Se as práticas sexuais incluírem vulva e vagina, pode haver benefício de uma avaliação com a ginecologista para discutir tratamentos que melhoram a lubrificação e o trofismo da região e existem várias opções”, destaca. Além disso, no ato sexual em si, o lubrificante pode ser um aliado.
Já nos homens entre os 45 e 50 anos de idade, o corpo passa pelo que chamamos de andropausa, também conhecida como “menopausa masculina”. Esse período da vida é marcado pela diminuição nos níveis de testosterona no organismo, o que, dentre outras complicações, pode afetar a vida sexual do paciente. Conforme Nadiessa, é importante salientar que não realizem a ingestão de medicações que prometem melhora do desempenho sexual sem a recomendação e o acompanhamento médico adequado. “Para ambos, é sempre válido lembrar da importância do uso do preservativo”, alerta.
Nadiessa analisa que uma das melhores formas de estimular a sexualidade é abrindo espaço para debater o tema, esclarecendo dúvidas. “Percebo que, quando abro espaço de fala sobre sexualidade nas consultas, as idosas têm inúmeras dúvidas a respeito do tema e é uma oportunidade importante de conversa, ajuda e orientações. É muito comum pacientes idosas se sentirem mais seguras para retomar a vida sexual após orientações e reafirmação de que é possível, legítimo e principalmente, natural”, confidencia. Por isso, ela considera essencial que se aja com naturalidade sobre o tema e que as práticas sexuais sejam sempre adaptadas de acordo com as necessidades dos idosos.
Confira dicas para estimular a sexualidade
Nadiessa relembra que a idade não deve ser avaliada isoladamente quando se trata do tema sexualidade. “Uma pessoa idosa que se alimente bem, pratique atividade física, tenha suas condições clínicas controladas e apresente uma boa condição de saúde pode ter uma vida sexual plena e satisfatória, inclusive melhor do que muitas pessoas mais jovens. É fundamental avaliar o contexto”, enfatiza. Por isso, abaixo, veja algumas dicas para ter êxito na hora da intimidade a dois.
Escolha um horário que você esteja com energia
A energia do corpo aos 60 anos não é a mesma de quem tem 20. Com o passar da idade, o pico de energia tende a diminuir gradativamente. Como a relação sexual exige uma boa energia, a dica é praticá-la quando você está bem disposto.
Seja criativo
Deixar a rotina de lado e experimentar algo novo sempre é muito bem-vindo nas relações sexuais, principalmente para o sexo na terceira idade. Novas experiências podem desencadear substâncias químicas no cérebro e levar à excitação. Experimentar carícias diferentes pode ser uma ótima alternativa.
Invista nas preliminares
Na terceira idade, o homem pode precisar de mais estímulo para obter uma ereção. Não tenha pressa para realizar a relação sexual com penetração. Estimular o pênis antes do ato sexual, seja sozinho ou com a ajuda da parceira, ajuda a facilitar a ereção, além de melhorar o clima antes da relação sexual em si.
Saiba o que funciona
É consenso entre terapeutas que, após os 60 anos, a posição sexual mais recomendada é aquela mais confortável e prazerosa para os envolvidos. É importante observar os limites do corpo e eventuais desconfortos, pois se determinada posição estiver causando dor, será difícil focar nas sensações prazerosas. Também há como tornar as posições mais confortáveis usando travesseiros, almofadas e edredons.
O afeto importa
Geralmente, pacientes idosos se relacionam sexualmente com o parceiro de casamento, com quem têm uma relação de proximidade e cumplicidade durante muitos anos. Na terceira idade, valorizar o afeto existente com seu parceiro pode favorecer as relações sexuais. Uma conversa agradável, boas lembranças e intimidades únicas do casal podem ajudar a despertar o desejo para o sexo na terceira idade.
Pratique exercícios físicos
A prática de exercícios físicos é um fator essencial para o sexo na terceira idade, porque contribui para a resistência e a força muscular, ajuda a manter a autoestima e o bem-estar físico e mental. Além disso, exercícios regulares, quando feitos periodicamente e sob orientação, ajudam a manter a qualidade de vida. Lembre-se do mais importante: seja sincero consigo mesmo. Caso você não esteja totalmente à vontade, seguro ou animado com a ideia de fazer sexo em determinada ocasião, não faça! Além de redescobrir o prazer do sexo na terceira idade, que tal colocar em prática outras atividades que só tendem a melhorar sua qualidade de vida?
Preservativo é essencial
Muitos homens idosos têm dificuldade de adaptação à camisinha, se sentem constrangidos a adquirí-las e não querem utilizá-la por temer prejudicar a ereção. A ginecologista Nadiessa expõe que o uso do preservativo masculino nos idosos pode ser dificultado por algumas situações, por exemplo, costume de não ter utilizado ao longo da vida, ereção ineficiente e ausência de medo de gestação. “Por estes e outros motivos, estamos acompanhando muitos casos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) neste público. É fundamental orientar o uso, estimular e ensinar técnicas que possam facilitar essa orientação”, afirma. Uma dica que funciona em muitos casos é o estímulo ao preservativo feminino, que pode ser inserido antes do ato sexual em si e reduz o medo de perda da ereção.