Setembro Amarelo: suicídio tem prevenção!

Em meio às atividades do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio, Daiana Gallas, psicóloga e diretora de Saúde Mental de Montenegro cedeu uma entrevista à Rádio Ibiá Web abordando a relevância da campanha, os sinais de alerta para comportamentos suicidas e a situação atual da saúde mental na cidade. Ela explica que a campanha vai além de oferecer apoio às pessoas em risco: “O Setembro Amarelo nasceu com o impulso de reduzir o suicídio, que é uma epidemia global desde os tempos antigos.

O suicídio é uma das principais causas de falecimento entre jovens adultos e tem aumentado ao longo dos anos. Portanto, o foco é sensibilizar e promover a compreensão sobre saúde mental e diminuir o estigma associado aos transtornos psicológicos.”

Daiana Gallas. Foto: arquivo pessoal

São registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão no mundo. Trata-se de uma triste realidade, que registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens. Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias. Com esses números, o suicídio encontra-se entre as três principais causas de morte em indivíduos com idade entre 15 e 29 anos no mundo. O Brasil é um país com taxas crescentes, apesar da escassez de indicadores epidemiológicos, corresponde a mais de 5% das mortes por causas externas.

Embora o suicídio não seja um transtorno por si só, está frequentemente associado a transtornos psicológicos. “Não podemos considerar o suicídio como um transtorno em si, mas ele está profundamente ligado a vários transtornos que podem levar a pensamentos e atos suicidas. É importante notar que, além das pessoas com transtornos diagnosticados, indivíduos sem diagnóstico também podem enfrentar pensamentos suicidas.”

Identifique os sinais de alerta
Ela ressalta a importância de reconhecer os sinais de alerta e a diversidade de fatores que podem influenciar esses comportamentos. “Os fatores que levam ao suicídio são múltiplos e complexos. Mudanças abruptas na vida de uma pessoa, como perda de interesse em atividades antes prazerosas, dificuldade para manter uma rotina, ou isolamento social, são sinais que devem ser observados.”

Identificar sinais de alerta é crucial para a intervenção precoce. Daiana explica que mudanças no comportamento, tanto para tristeza quanto para euforia, podem ser indicativos de um problema mais profundo. “Mudanças bruscas no comportamento são um sinal de que algo não está bem. Por exemplo, uma pessoa que antes era muito ativa e de repente se torna apática ou vice-versa, deve ser cuidadosamente monitorada. Agitação excessiva, dificuldade para dormir e declarações de grandeza também podem ser sinais de que a pessoa está enfrentando uma crise.”

Ela também observa que a tristeza profunda e a dificuldade em realizar atividades diárias podem ser sinais de alerta, especialmente se a pessoa não busca ajuda. “Muitas vezes, as pessoas que enfrentam problemas de saúde mental não revelam diretamente seus sentimentos. Elas podem mostrar tristeza, desmotivação ou dificuldade para se envolver em atividades sem mencionar explicitamente o desejo de se machucar.”

A pandemia e outras crises podem servir como gatilhos para transtornos mentais. Gallas menciona: “Eventos como a pandemia e as enchentes podem ser fatores estressores significativos que, para pessoas já vulneráveis, podem atuar como a gota d’água que desencadeia uma crise. No entanto, não se pode considerar esses fatores isoladamente, pois a saúde mental é influenciada por um conjunto complexo de fatores.”

Importância da conscientização e educação
A psicóloga enfatiza a necessidade de promover a conscientização e a educação sobre saúde mental em diferentes ambientes. “É fundamental que a conscientização sobre saúde mental esteja presente nas escolas, locais de trabalho e até mesmo nas mídias sociais. Essas campanhas educativas ajudam a reduzir o estigma e incentivam as pessoas a buscar ajuda antes que a situação se torne crítica.”

Ela destaca que a prevenção deve ser uma prioridade, não apenas a intervenção em casos críticos. “Precisamos de uma abordagem proativa, abordando a saúde mental desde os primeiros sinais de dificuldade e não apenas quando a pessoa já está em um estado crítico. A educação contínua e a conscientização são essenciais para mudar a percepção pública e aumentar a procura por ajuda.”

Serviços de Saúde Mental em Montenegro
Daiana oferece um panorama dos serviços especializados de saúde mental disponíveis em Montenegro. São três: o ambulatório de saúde mental na Secretaria Municipal de Saúde, o CAPS Adulto na Timbaúva e o CAPS Infantil no bairro São Paulo. Estes serviços oferecem apoio especializado para diferentes faixas etárias e necessidades. Ela detalha o processo para acessar esses serviços: “Para procurar ajuda, é necessário um encaminhamento inicial pelos postos de saúde, que fazem a triagem e direcionam para os serviços especializados. Isso garante que as pessoas recebam a assistência adequada de acordo com suas necessidades.”

Ela destaca os desafios enfrentados pelos serviços de saúde mental na cidade. “Temos uma demanda crescente que supera a capacidade dos serviços disponíveis. Embora o número de profissionais tenha aumentado após a pandemia, a demanda por atendimento ainda é muito alta.” A profissional também aborda a necessidade de expansão dos serviços e de maior acesso. “Estamos trabalhando para expandir nossos serviços e melhorar a capacidade de atendimento. No entanto, a demanda continua a ser um desafio significativo, e a prevenção continua sendo uma prioridade para reduzir a necessidade de intervenções emergenciais.”

Ela conclui com uma mensagem de esperança e encorajamento: “É crucial que continuemos a trabalhar juntos para aumentar a conscientização e oferecer suporte adequado. Cada um de nós pode fazer a diferença na vida de alguém, ajudando a prevenir o suicídio e promovendo a saúde mental de forma geral.”

Se precisar, ligue!
CAPS – (51) 3632-5317
Ambulatório Interdisciplinar de Saúde Mental (Ament) – (51) 3632-1342
Centro Infanto-Juvenil – (51) 3632-6691

Principais transtornos mentais
A saúde mental é uma questão de extrema importância, e conhecer os transtornos mais comuns pode ajudar a entender melhor os desafios enfrentados por milhões de pessoas ao redor do mundo. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), existem mais de 300 tipos de transtornos mentais catalogados, abrangendo desde quadros leves até condições graves. Aqui, veja os principais transtornos que afetam a saúde mental.

Depressão
A depressão é um dos transtornos mentais mais prevalentes no mundo, afetando aproximadamente 300 milhões de pessoas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). A depressão é uma doença incapacitante que pode impactar profundamente a qualidade de vida. Essa condição é caracterizada por um estado de humor persistentemente deprimido, sentimentos de desesperança, culpa, e baixa autoestima, que podem durar semanas ou até meses. O indivíduo com depressão também pode apresentar ganho ou perda significativa de peso; alterações no sono (insônia ou sonolência excessiva); fadiga constante e perda de interesse nas atividades; dificuldade de concentração e ideações suicidas.

Transtornos alimentares
Entre os transtornos alimentares mais comuns estão a bulimia e a anorexia nervosa. Na bulimia, o indivíduo ingere grandes quantidades de alimentos e, em seguida, adota comportamentos compensatórios, como a indução ao vômito, para eliminar as calorias consumidas. Já na anorexia, há uma recusa em se alimentar devido ao medo intenso de ganhar peso e uma distorção severa da imagem corporal. Esses transtornos são frequentemente associados a padrões estéticos irreais propagados pela mídia e podem afetar gravemente a saúde física e mental.

Esquizofrenia
A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico que afeta a percepção de realidade, fazendo com que o indivíduo experimente alucinações e delírios, perdendo a distinção entre o real e o imaginário. Essa condição altera profundamente o comportamento e a interação social do portador. Seus sintomas são divididos em categorias:
Sintomas positivos: incluem alucinações (como ouvir vozes), delírios, pensamentos desordenados e distúrbios de movimento.
Sintomas negativos: apatia, perda de prazer, dificuldade em iniciar atividades e falta de demonstração emocional.
Sintomas cognitivos: problemas de aprendizado, memória, isolamento social e abandono escolar.
Sintomas neurológicos: movimentos desajeitados, tiques faciais e desorientação.
Sintomas comportamentais: tendência ao suicídio, agressividade, comportamentos repetitivos e atividades solitárias.

Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
O transtorno obsessivo-compulsivo é uma condição marcada por pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos repetitivos. Os pensamentos intrusivos geram ansiedade, e a pessoa sente a necessidade de realizar rituais para aliviar essa tensão. Exemplos comuns incluem preocupações excessivas com limpeza, organização e simetria.

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)
O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) é caracterizado por uma preocupação constante e excessiva, que perdura por mais de seis meses e está associada a sintomas físicos como fadiga; irritabilidade/ tensão muscular; insônia; taquicardia e sudorese. Essas preocupações são desproporcionais à realidade, causando intenso sofrimento e interferindo nas atividades diárias.

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