Sala de controle: Como funcionam as emoções das crianças?

Divertida Mente 2 foi lançado na última semana e tem levado milhares aos cinemas de todo o Brasil. Desde o primeiro filme, a história mostra o funcionamento da sala de controle dos sentimentos da pequena Riley desde o seu nascimento, com surgimento e amadurecimento de emoções. Mas na vida real, como funciona esta relação entre as crianças e suas emoções? A montenegrina Taís Scheffer, 35, mãe de Pedro Scheffer Lampert, 5, compartilha suas observações sobre como as emoções do seu filho têm evoluído ao longo dos anos.

Ela conta que desde bebê Pedro expressava suas emoções de maneira simples, com sorrisos e lágrimas. À medida que crescia e ganhava autonomia, Taís percebeu que ele começou a lapidar suas emoções de forma mais sofisticada. “Quando ele era um bebê, o choro significava muitas coisas. Conforme ele foi aprendendo a falar e a se expressar melhor, conseguimos notar claramente quando ele está cansado ou triste. Ele aprendeu a gerenciar melhor essas emoções”.

Família se entende muito bem através do diálogo e introdução do lúdico no dia a dia

Na rotina diária de Pedro, Taís e Lisiano Lampert, 37, seu marido e pai do menino, trabalham intensamente com afeto para manter um ambiente emocionalmente equilibrado. Eles buscam orientação de terapeutas e referências na internet para garantir que Pedro tenha um dia a dia tranquilo. “Acordamos ele de forma lúdica, com carinho e brincadeiras.

Evitamos imposições abruptas, como mandá-lo tomar banho ou sair de uma festinha sem aviso. Preparar ele para as transições ajuda a evitar tristeza e frustração,” explica.

A mãe afirma que Pedro é uma criança muito emotiva. Quando está triste, chora e precisa conversar para entender o que aconteceu. “Sempre que ele expressa tristeza, procuramos entender o motivo e explicamos que essas situações fazem parte da vida. Já a felicidade dele se manifesta principalmente através da música. Ele canta e dança quando está feliz e isso é um sinal claro de sua alegria”, acrescenta.

Reconhecimento das emoções e apoio familiar
O pequeno também tem aprendido a reconhecer e nomear suas emoções. Com o apoio da escola, ele participa de atividades que ajudam a identificar sentimentos, como olhar para o espelho e descrever se está feliz, triste, bravo ou chateado. Em casa, Taís e sua família reforçam essa aprendizagem com diálogos constantes. “Ele já consegue dizer quando está triste, feliz ou cansado. Esse entendimento é um grande avanço”. Taís conta que algumas linguagens são usadas dentro de casa para que Pedro também se adapte e entenda melhor o que sente, como “seu coração está triste”. A mãe conta que o filho, ao estar chateado por alguma situação, já utiliza a frase para conversar sobre o assunto.

Mudanças na rotina são desafiadoras para Pedro. Taís e Lisiano procuram manter uma rotina consistente durante a semana para evitar ansiedade. Quando algo diferente está para acontecer, eles seguram a informação até o mais próximo possível do evento para que ele não fique ansioso. Pedro precisa de tempo para se adaptar a novos ambientes, mas uma vez adaptado, ele se solta e brinca com os outros.

Em ambientes novos, o menino tende a ficar tímido e retraído, principalmente se não conhece as pessoas ao redor. Ele se sente mais seguro em ambientes familiares e com pessoas conhecidas. A mãe comenta que lugares ao ar livre, como parques e a beira do Rio Caí são tranquilos para ele, mas sempre prefere que ele tenha a companhia de alguém de confiança para se sentir à vontade.

Para ajudar Pedro a entender e expor suas emoções, a família mantém diálogos constantes, sempre questionando como ele está se sentindo e porque. “Procuramos fazer ele entender suas emoções através de comparações com nossas próprias experiências. Livros sobre maternidade e terapia têm sido recursos valiosos para nós. Procuramos sempre estar presentes e disponíveis para ele, respeitando seu tempo e suas necessidades emocionais,” conclui Taís.

Capacidade de regular emoções evolui
Durante a adolescência, há uma repetição do movimento de separação-individuação que começa por volta dos três anos. “Esta fase é a primeira fase de separação-individuação do ser humano. É a fase das crises de birra e do negativismo, e prepara o indivíduo para a vida de relacionamentos com outros. Esse movimento de separação-individuação se repete na adolescência, período no qual os adolescentes formam grupos identitários, com suas próprias regras, a rebeldia, a moda e os trejeitos se assemelham, na tentativa de se diferenciar do mundo dos adultos,” observa Lorena. Essa fase é crucial para o crescimento e definição da individualidade, preparando o adolescente para a entrada na vida adulta.

À medida que as pessoas acumulam experiências ao longo da vida, sua capacidade de regular as emoções tende a evoluir. “Eventos desconhecidos muitas vezes desencadeiam ansiedade. À medida em que a pessoa acumula experiências de vida, passa a ficar menos ansiosa, por já saber que terá condições de enfrentar as adversidades,” diz Lorena. No entanto, ela adverte que a ansiedade intensa pode se tornar incontrolável, como mostrado em uma cena de Divertidamente 2. “Quando a ansiedade se instala de forma intensa, pode se tornar um sentimento além do controle da força de vontade do indivíduo.”

Entenda como as emoções surgem
As emoções são uma parte fundamental da nossa experiência humana, influenciando desde os primeiros anos de vida até a idade adulta. Segundo Lorena Caleffi, psiquiatra do Hospital Moinhos de Vento, entender como as emoções surgem e se desenvolvem é essencial para promover um crescimento emocional saudável. “As emoções, do ponto de vista biológico e fisiológico, são combinações refinadas, delicadas e dinâmicas de nossos neurotransmissores. Um pouco de serotonina, um tanto de noradrenalina, uma pitada de ácido gama-aminobutírico e dopamina, e voilá: reconhecemos de imediato um sentimento. O nome que daremos a ele vai depender de nossa cultura, do ambiente no qual nascemos e da forma que fomos ensinados”, explica.

Nos primeiros anos de vida, a formação das emoções está intimamente ligada ao ambiente e às interações com os cuidadores. “A mãe (ou a pessoa responsável por esse papel) nomeia para o bebê as primeiras sensações e sentimentos, desde o reconhecimento de sono, fome, calor, frio, até tristeza, alegria, contentamento, preocupação – e toda a riqueza de sentimentos que o ser humano é capaz. Nesse período, onde tudo é vivido pela primeira vez e tudo é novidade, é o ambiente que dará o “tom” – de seriedade ou não – para esses determinados eventos,” detalha. Este período inicial é crítico, pois é quando a criança começa a formar suas primeiras associações emocionais.

Os marcos emocionais na infância são numerosos e significativos. Lorena explica que, como marcos de desenvolvimento, temos o nascimento em si, seguido da alimentação (mamar no peito ou na mamadeira, desmame, introdução alimentar, etc), que pode ser experienciado de diferentes maneiras, desde uma forma leve e progressiva, uma conquista da criança, até como um sofrimento, um estresse para o bebê e para a família. Ela acrescenta que a partir do momento em que a criança começa a caminhar, ela adquire uma nova perspectiva do mundo. “Brincadeiras de esconde-esconde e de jogar um brinquedo e buscar são comuns nessa fase e auxiliam a criança a perceber que é um indivíduo em separado e que as pessoas podem se afastar e retornar,” explica. A fase do controle esfincteriano também é crucial, pois marca o desenvolvimento de novas capacidades de comunicação e de individualidade.

Relacionamentos são fundamentais
Conforme Lorena, os relacionamentos familiares e sociais desempenham um papel fundamental na formação das emoções desde a infância. “Uma infância segura, plena de amor e cuidado, o que independe de condição financeira, tem mais chance de garantir uma passagem proveitosa pela adolescência e consequente entrada em uma vida adulta produtiva e feliz,” ressalta. Um ambiente amoroso e de apoio é crucial para o desenvolvimento emocional saudável. Por fim, Lorena destaca a importância de compreender e promover o desenvolvimento emocional desde os primeiros anos de vida. “A promoção de um ambiente seguro e amoroso é essencial para que as crianças cresçam emocionalmente equilibradas e preparadas para enfrentar os desafios da vida adulta,” conclui.

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