“AMORZÃO” e as formiguinhas do bem. Retalhos são transformados em peças únicas feitas com carinho pelas voluntárias
O Natal se aproxima e com ele aumenta o desejo das pessoas serem solidárias com quem necessita de ajuda. Porém, há quem mantenha acesa a vontade de ajudar o próximo o ano inteiro. É o caso das voluntárias do projeto “Amorzão”, que neste mês de dezembro entregaram cerca de 300 peças de roupas em creches de Montenegro. A mobilização do grupo ocorre de março a dezembro, de forma discreta, na Casa Amarela da Estação da Cultura, mostrando que caridade não precisa de holofotes.
O projeto “Amorzão” nasceu há aproximadamente cinco anos, quando Vera Zirbes, durante uma assembleia da Entidade de Filantropia, Cultura e Arte (Efica), perguntou se alguém gostava de costurar. Ilse Joner, aposentada do serviço público, já fazia roupinhas para doar e relatou isso ao grupo. “Comecei a fazer vestidinhos quando minha nora levou alguns retalhos para casa. Doava todos. Uma vez no Natal fomos ao bairro Estação e chamamos mães e seus filhos. Aquilo me deixou apaixonada por esse trabalho”, conta Ilse.
A iniciativa, inicialmente modesta, expandiu-se ao longo do tempo, contando com a colaboração de diversas voluntárias. Elas conseguem tecidos em malharias, produzem roupas para o inverno com sobras de uniformes e, de forma coletiva, fazem da costura uma verdadeira linha de produção solidária.
O nome “Amorzão” foi sugerido por Vera Zirbes, inspirado por um boneco de pano que se tornou símbolo do grupo. “A Lurdes Brandt tem uma netinha que tinha um boneco de pano, o qual dormia abraçada. Aquele boneco foi nosso símbolo, até hoje, é dele a foto do perfil do nosso grupo no WhatsApp. Fizemos uns 50 bonecos “Amorzão” e entregamos nas creches”, explica Ilse.
A paixão e o cuidado dedicados a esse projeto fazem com que as voluntárias se autodenominem “formiguinhas do bem”. O processo de produção das roupas ocorre todas as segundas-feiras, das 14 às 17 horas, onde cada voluntária desempenha um papel. Desde o corte do tecido até a finalização com botões e acabamentos, o grupo transforma pedaços de pano em peças de vestuário novas e cheias de amor.
A distribuição das doações é destinada a quatro escolas de educação infantil em Montenegro: Trilhos, Panorama, Esperança e Estação. A entrega de Natal consiste em kits contendo vestido e calcinha para as meninas, e camisa, bermudinha e cueca para os meninos. A compra das peças íntimas é feita com recursos arrecadados pelas próprias eficanas.
A entrega foi realizada na primeira semana de dezembro, com a certeza de que cerca de 300 crianças receberam não apenas roupas, mas um gesto de carinho e solidariedade. As voluntárias interrompem suas atividades neste mês e retornam em março, mas o impacto positivo das peças produzidas permanece ao longo do ano. “É tão bom quando a gente chega nas creches e entrega aquelas pecinhas de roupas feitas com carinho, é muito gratificante”, comenta Ilse.
Destino das doações
Ilse Joner explica que as roupas confeccionadas são entregues diretamente nas creches, onde as professoras, conhecendo as necessidades das crianças, selecionam aquelas que mais precisam. “Não interferimos nisso. Ninguém precisa saber quem deu, só queremos que a criança tenha uma roupa nova para usar no dia de Natal.”
A Unidade de Educação Infantil Nilton Moreira, localizada no bairro Senai e mantida pela Sociedade Beneficente Espiritualista (Lar do Menor), tem sido beneficiada pelo grupo Amorzão há vários anos. Algumas peças confeccionadas são mantidas na unidade, e distribuídas quando necessário.
“O grupo Amorzão dedica seu tempo com muito amor e carinho, pensando sempre em ajudar o próximo, deixando as crianças aquecidas e bem vestidas”, avalia Laureane Bolba, educadora da creche do bairro Panorama, outra instituição beneficiada pela ação.
Satisfação de quem faz
Oito voluntárias dedicam seu tempo e habilidades para confeccionar as peças de roupa para as crianças beneficiadas. Vera Rosa da Silva, integrante desde maio deste ano, compartilha sua experiência: “A Ilse perguntou se eu gostaria de me doar para o ‘Amorzão’, eu disse que queria. No primeiro dia já cheguei bem cedo. Entrei toda desconfiada, não sabia mexer em nada, mas aí me arrumaram como ‘marido de aluguel’. Faço tudo, estragou uma coisa eu arrumo. Chega segunda-feira eu acordo animada para vir para o projeto.”
Vera, que carinhosamente apelidou o grupo de “formiguinhas”, destaca a dedicação de todas em prol de um bem maior. “É tão bom entregar aquelas pecinhas de roupas feitas com carinho, é muito gratificante. Procurei um curso porque estava doente, queria ocupar minha cabeça para não pensar em nada referente a esse problema. Aqui não penso, as horas passam sem a gente notar”, conta. “Cada uma tem seu espaço, faz uma coisinha, uma ajuda a outra. O que uma sabe ensina para as outras, aprendemos juntas.”
Alzira Ribeiro Corrêa contribui passando e revisando. “Eu faço o controle de qualidade das peças. Chego aqui, analiso, e se não está legal, as meninas fazem o ajuste necessário. Passo, coloco elástico. Amo estar aqui ajudando e fazendo o bem”, conclui Alzira.