Você sabia que no mundo, segundo Relatório Mundial sobre Audição da Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 2,5 milhões de pessoas viverão com algum grau de perda auditiva até 2050? Ainda, a pesquisa prevê que pelo menos 700 milhões destas pessoas precisarão de acesso a cuidados auditivos e serviços de reabilitação, a não ser que medidas sejam tomadas para evitar o grande número. A perda auditiva impacta diretamente na vida do paciente, afetando não somente a audição, como também gera consequências na capacidade de comunicação, estudos e até mesmo relacionamentos pessoais.
Conforme a fonoaudióloga montenegrina Dra. Paula Marchetti, os principais sintomas da perda auditiva são a sensação de ouvido fechado e abafado; zumbidos; dificuldade de entender a fala, principalmente em ambientes ruidosos, dificuldade de equilíbrio, atenção e memória. Além disso, a profissional ainda destaca um ponto de atenção: pessoas que normalmente entendiam a fala muito bem, agora, aumentarem o som da televisão, rádio, ou pedir repetições frequentemente como “ã?”, “o que você disse?”. A partir destes sinais, a pessoa deve estar atenta e buscar por um profissional da saúde para investigação.
Paula ressalta que a perda auditiva não tratada gera inúmeros impactos na vida do paciente. Crianças, por exemplo, possivelmente terão atraso no desempenho da comunicação, incluindo dificuldades na fala, desenvolvimento da linguagem e aprendizagem da leitura e escrita. “Quanto maior o grau da perda e maior o tempo de privação auditiva (tempo que fica sem ouvir bem) maiores serão as dificuldades e o impacto na vida das crianças”, afirma.
No caso dos pacientes adultos e idosos, também haverá um grande impacto na comunicação e na saúde cognitiva. “A perda auditiva não tratada causa transtornos muitas vezes irreversíveis na atenção, na memória, no raciocínio e no convívio familiar e social desses pacientes. Hoje, a cada dia temos fortes evidências da relação da perda auditiva, com o isolamento social, depressão, ansiedade e os casos de demência”, explica.
Diagnóstico
O primeiro passo para o diagnóstico de surdez e perda auditiva consiste na identificação dos primeiros sinais de que algo não vai bem com a audição. Para isso, é importante que a própria pessoa esteja atenta a mudanças no seu padrão de escuta, ou que as pessoas a sua volta percebam essas alterações. A audiometria é considerada um dos principais exames no diagnóstico de surdez e acompanhamento de perda auditiva e deve ser realizada de forma rotineira, não apenas quando surgem problemas na audição.
O principal objetivo do exame é o de detectar o tipo e grau de perda auditiva. Ele é realizado pelo profissional fonoaudiólogo e dura cerca de 30 minutos. O paciente fica em uma cabine especial enquanto alguns sons lhe são apresentados por meio de um fone e um vibrador ósseo. Ele deve apertar os botões da cabine para indicar que percebeu algum som. Tais sons são emitidos em diversas frequências, o que permite que o grau da perda seja identificado.
Previna!
Evite barulhos altos: uma das principais causas de perda auditiva é a exposição ao ruído. Esse tipo de complicação ocorre porque as pequenas células ciliadas são danificadas quando um barulho muito alto atinge os ouvidos. Uma vez destruídas, essas células não podem ser substituídas;
Use fones de ouvido com cuidado: aumente o volume apenas até o nível suficiente para ouvir sua música confortavelmente;
Mantenha as orelhas secas: o excesso de umidade nos ouvidos pode facilitar a entrada de bactérias e um possível ataque ao canal auditivo. Consequentemente, podem surgir complicações como infecções que afetam a capacidade de audição;
Trate infecções adequadamente: é importante ficar atento sempre que perceber sinais de gripes, resfriados e dores no ouvido;
Consulte o otorrinolaringologista regularmente: uma das melhores maneiras de evitar a perda auditiva ou pelo menos amenizar os efeitos é com o acompanhamento regular de um profissional.
Não use cotonetes: ao colocar qualquer objeto dentro do canal auditivo, existe risco de danificar partes sensíveis, como o tímpano e causar perda auditiva;
A importância dos aparelhos auditivos
Os sistemas de amplificação são poderosos instrumentos que se utilizados adequadamente, muito podem fazer para amenizar os problemas relacionados à deficiência auditiva. As próteses auditivas ou aparelhos auditivos são amplificadores eletrônicos utilizados por pessoas que apresentam dificuldade de ouvir ou que não ouvem os sons na intensidade em que são apresentados. Eles possuem um ou mais microfones que captam o som do ambiente.
O sinal acústico é transformado em sinal elétrico, que é amplificado e adaptado de acordo com a perda auditiva. O receptor reconverte o sinal elétrico em sinal acústico e o direciona para dentro do canal auditivo. Os aparelhos auditivos melhoram a compreensão da fala em várias situações e dão suporte às muitas funções do sistema auditivo humano como localização sonora, compreensão, dentre outras.
A fonoaudióloga Paula ressalta que os aparelhos auditivos têm grande importância para pacientes com problemas de audição. “É possível manter a pessoa ativa, seja pelas questões de alerta (ouvir um carro na rua, escutar a chaleira chiando), de localização no espaço (de que lado está vindo o carro? Onde está meu telefone que está tocando), do equilíbrio e de compreender a fala”, destaca. Conforme ela, o uso dos aparelhos auditivos é que faz manter a comunicação e interação social, já que ouvir bem nos permite interagir com outras pessoas e estar em contato com o mundo. “Logo, quando temos uma perda auditiva, os aparelhos passam a ser nossos fiéis companheiros, aqueles que nos permitem manter o contato com quem amamos e convivemos, além de interagir com os ambientes em que estamos inseridos”.
A profissional salienta que é necessário que as pessoas saibam que o uso dos aparelhos é um tratamento de saúde que necessita de acompanhamento multidisciplinar de equipe qualificada. Ou, seja, é muito mais do que escolher um aparelho auditivo. “Uma avaliação rigorosa é fundamental para um diagnóstico fidedigno, o qual irá permitir a seleção adequada dos aparelhos auditivos de acordo com as necessidades de cada caso”, confirma. “Muitas pessoas acham que neste ponto termina o atendimento nos casos de uso dos aparelhos auditivos. Na verdade, aqui começa o tratamento efetivo, o cuidado com o paciente que precisa aprender e entender o funcionamento e o manuseio dos aparelhos auditivos, o uso contínuo, o acompanhamento com os profissionais, além do treinamento auditivo, o cuidado e atenção que cada caso necessita”, conclui.
Doenças que causam perda auditiva
Otite
A otite é uma infecção no ouvido médio (espaço que fica atrás do tímpano). Ela costuma ser dolorosa por conta da inflamação e do acúmulo de secreção na região. É causada por vírus ou bactérias e pode afetar um ou os dois ouvidos. Geralmente, as crianças são as mais afetadas em razão da menor imunidade e do posicionamento das estruturas anatômicas relacionadas à audição. No entanto, qualquer pessoa está propensa a essa enfermidade. Causa dores, vermelhidão, inchaço e dificuldade auditiva. Embora seja facilmente tratada, a otite pode se tornar crônica e levar à perda auditiva.
Doença de Ménière
Está relacionada a uma falha no sistema linfático, portanto, no mecanismo que regula a produção, circulação e/ou absorção do líquido do ouvido interno, impedindo que a drenagem ocorra corretamente. Desta forma, pode ocasionar infecções e alergias que danificam o órgão. Se não tratada, a condição afeta até mesmo o equilíbrio do paciente, levando a queixas de vertigem e náuseas.
Otosclerose
É uma doença que provoca a reabsorção e crescimento anormal de tecido ósseo e impede a movimentação dos ossículos da audição, interferindo na condução desse som para a orelha interna. Por impedir que as estruturas funcionem adequadamente, há interferência na capacidade de ouvir. Embora seja uma enfermidade hereditária, há relatos de casos de pacientes que não têm histórico da otosclerose na família. Dependendo do caso, o tratamento poderá ser cirúrgico ou com aparelho auditivo.
Tinnitus
O tinnitus nada mais é do que um zumbido persistente que nada tem a ver com alterações psíquicas. Ele pode ser na cabeça, em um ou nos dois ouvidos. O zumbido pode ser passageiro, como nos casos em que a pessoa fica muito tempo exposta ao som bem alto, como num show. Nesses casos, o indivíduo ouve o zumbido durante algumas horas e, após, ele passa. Já no crônico, é como se o paciente ouvisse uma campainha, buzina, assobio, entre outros, por 24 horas diárias, o que gera um grande incômodo. A causa primária e mais comum dessa doença é a perda auditiva, mas ela também pode ser causada por outros fatores, como drogas, comorbidades, estresse e lesões na cabeça. Os efeitos colaterais do zumbido incluem estresse, fadiga e depressão.
Labirintite
A labirintite é um distúrbio do ouvido interno que causa a inflamação do labirinto – região interna do ouvido ligada à audição, noção de equilíbrio e percepção de posição do corpo. Doenças do labirinto podem ser causadas por infecção viral ou bacteriana, e podem comprometer tanto o equilíbrio quanto a audição.
Hipertensão
A hipertensão é caracterizada pelo aumento da pressão sanguínea dentro dos vasos. Sendo assim, todo o corpo sofre com o impacto causado pelo fluxo do sangue na parede das veias, artérias e capilares, incluindo as do ouvido interno, e, assim, levando à perda da audição de maneira gradual.
Diabetes
A diabetes é uma doença que resulta em altos níveis de glicose no sangue. Essa condição danifica os vasos sanguíneos, prejudicando o organismo como um todo, inclusive o ouvido interno, levando aos problemas de audição.