Ações para proteger recursos naturais influenciam no mercado profissional
A preocupação com a preservação ambiental ainda está longe do ideal, mas sem dúvida a população está mais consciente sobre suas responsabilidades. Essa percepção e a necessidade de medidas que freiem a degradação de recursos naturais impulsionam áreas de trabalho que se destacam por contribuírem para reduzir ou até mesmo eliminar impactos ambientais nas mais diversas atividades. São as consideradas “profissões verdes”.
Para o engenheiro ambiental Fabrício Weiss, as exigências legais ajudam o mercado de trabalho na sua profissão. “Muitas empresas, prefeituras, universidades, hospitais que até pouco tempo não possuíam profissionais habilitados com o olhar da sustentabilidade, agora estão contratando engenheiros ambientais”, acrescenta. Outro fator mencionado por Weiss, que favorece a profissão, é a adequação das empresas nacionais ao mercado internacional, onde o olhar ambiental é mais presente. “Exemplo disso é o crescente número de empresas com a certificação ambiental ISO 14.001”, cita.
É observada ainda a influência do comportamento do consumidor final, que tem considerado a preocupação das empresas com o meio ambiente, valorizando condutas e diretrizes que vão ao encontro dessa preservação. “Um termo inglês exemplifica essa preocupação: empresas “eco-friendly”, ou seja, amigável ao meio ambiente”, acrescenta o engenheiro.
Formado pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), ele trabalha como gestor ambiental da instituição. Sua função inclui a responsabilidade técnica pelo gerenciamento de resíduos, tratamento de água e efluentes (esgoto) e o licenciamento ambiental dos campis da universidade, entre os quais o de Montenegro. Weiss também coordena as questões de educação ambiental dentro da Unisc e nas comunidades onde ela está inserida.
A preocupação com o meio ambiente reflete em várias áreas profissionais através do trabalho conjunto. “A constante geração de novos bens de consumo, de novas facilidades acaba promovendo o desenvolvimento de novas substâncias e novos processos”, observa Weiss. “Pensar individualmente se tornou coisa do passado”, acrescenta. Esse trabalho multidisciplinar, com o olhar de cada profissional específico, mas com o entendimento de equipe, reflete positivamente em outras áreas de trabalho. “Engenheiros ambientais, biólogos, engenheiros agrícolas, engenheiros mecânicos e engenheiros eletricistas atualmente trabalham em conjunto”, afirma Weiss.
Qual sua avaliação sobre mercado de trabalho para engenharia ambiental?
Fabrício Weiss – O mercado de trabalho é concorrido, porém o diferencial se constrói dentro da própria graduação, dentro das universidades. Bons alunos tendem a ser bons profissionais. Bons estágios, boas ideias, pró-atividade e entender que as engenharias não envolvem somente números e fórmulas, mas também a gestão de pessoas, pois possivelmente o engenheiro será gestor de uma equipe. Tudo isso acaba abrindo portas e facilitando a entrada no mercado de trabalho. O cenário econômico está difícil para todas as profissões, mas cabe a cada uma a identificação de nichos de trabalho ou melhorias dentro das empresas onde esses profissionais estão inseridos. Um exemplo é o número crescente de profissionais da engenharia ambiental que acabam entrando na vida acadêmica como professores.
Atualização constante
A qualificação é uma exigência do mercado de trabalho em qualquer área, e isso passa pelo aperfeiçoamento constante. “Parar de se atualizar é a mesma coisa que estacionar no tempo”, observa o engenheiro ambiental Fabrício Weiss. “Acompanhar novas tendências e novas tecnologias promovem ao engenheiro ambiental estar na vanguarda de propostas e soluções dos desafios cotidianos”, acrescenta. Atualmente, ele cursa mestrado em Tecnologia Ambiental na Unisc e se diz surpreso com tudo que já existe de novo desde a sua formatura, em 2007. “Novos desafios geram novos conhecimentos”, afirma. A Unisc oferece curso de graduação em engenharia ambiental e o de mestrado e doutorado em Tecnologia Ambiental.
“O meio ambiente é uma extensão da nossa casa…”
Ao falar sobre a escolha da profissão, o engenheiro ambiental Fabrício Weiss menciona o dinamismo de interagir de forma constante com as pessoas, a possibilidade de estar em meio à natureza, mas principalmente em poder mudar para melhor o ambiente em que se vive. “Muitas pessoas não entendem que o meio ambiente é uma extensão da nossa casa, que está diretamente ligado com a qualidade de vida e com a nossa saúde”, resume.
Ele diz ainda que o mundo globalizado não se aplica somente a bens de consumo, que o impacto ambiental causado no outro lado do planeta, um dia, acaba refletindo no Rio Grande do Sul. “Exemplo disso é a ilha flutuante de resíduos no meio do oceano. Quando menos esperamos, as nossas praias estão cheias de lixo”, afirma Weiss. “Não nos damos conta que vivemos, consumimos, lançamos o nosso esgoto e descartamos o nosso resíduo no mesmo lugar – o Planeta Terra. Quando fazemos isso de forma irresponsável, estamos nos prejudicando. É um tanto quanto ilógico”, acrescenta.
Ciclo da reciclagem proporciona emprego direto e indireto
Nas várias etapas do ciclo de reciclagem, há trabalho para diferentes profissionais, desde catadores que circulam pelas ruas, passando pela triagem, transporte e transformação de resíduos através da indústria. Trabalhando nessa cadeia da reciclagem há cerca de cinco anos, Márcia Regina Motta, 39 anos, faz a separação de materiais na Montepel Assessoria Ambiental.
Ela gosta de estar inserida em um segmento que dá um destino certo aos resíduos, e inclusive mudou sua visão sobre o lixo desde que ingressou na empresa. “Acho esse trabalho importante para a comunidade”, observa. Márcia afirma que não tinha noção do quanto um material considerado lixo pode ser útil através da reciclagem, mas começou a separá-lo também em casa.
Sua colega Priscila Antunes, 38 anos, está na empresa há três anos e diz que fala inclusive com os vizinhos sobre a importância da separação do lixo. “Isso é fundamental, antigamente eu também colocava tudo junto”, afirma. Depois de passar a trabalhar nessa área, porém, ela percebeu o quanto o lixo pode ser útil.

O gestor da Montepel, João Batista Dias, observa que a preservação ambiental gera muitas oportunidades e lamenta a falta de incentivo. “Ainda há muito que explorar no Brasil, pois somente de 3% a 4% dos resíduos têm tratamento adequado”, afirma. “Temos muitas oportunidades de trabalho, mas requer investimento e vontade política”, reforça. Em sua avaliação, é mencionada a alta carga tributária que onera o setor e freia seu crescimento. Dias salienta que a reciclagem gera emprego inclusive para quem não tem qualificação nem avançou no ensino regular e, por isso, teria mais dificuldade de encontrar espaço no mercado de trabalho.
Sua empresa proporciona trabalho e renda direta e indireta. O quadro de recursos humanos tem oito funcionários e a Montepel compra material de cerca de 30 catadores cadastrados. Aproximadamente 30 escolas também vendem material reciclável à empresa, oportunizando geração de recursos a essas instituições, além da atividade estar relacionada à educação ambiental.
“Cada vez mais o mundo anseia por bons profissionais nessas áreas.”
Com curso técnico em meio ambiente e graduação em gestão ambiental, Joana Mara dos Santos tem mais de 12 anos de experiência, a maior parte deles com atuação em área petroquímica. Trabalhando atualmente na Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Joana defende maior comprometimento de todos na preservação ambiental e o pr

ofissional dessa área tem um papel importante nessa conscientização. “Todos precisamos nos unir na busca de mudanças de comportamentos e atitudes para que os resultados possam mudar verdadeiramente”.
Jornal Ibiá – O que levou-te a escolher a profissão?
Joana Mara dos Santos – O grande amor pelo meio ambiente e a vontade de fazer alguma coisa para melhorar o lugar onde vivemos, e é por esse grande amor e respeito pela natureza que estou tentando fazer a minha parte em busca de um futuro melhor para todos nós.
Como tu avalias o mercado de trabalho na área de gestão ambiental? E na área de técnica em meio ambiente?
Joana – Acredito ser uma área muito promissora, pois cada vez mais precisamos de pessoas com uma visão melhor e principalmente com hábitos e atitudes mais comprometidas em preservar e cuidar do meio ambiente, para que possamos deixar um legado positivo para nossos filhos e netos. Tenho esperança que estas áreas consigam trazer para o mercado de trabalho pessoas com garra, comprometidas e dispostas a fazer cada vez mais em prol de um mundo melhor de verdade, mas não somente estas áreas. Todos precisamos nos unir na busca de mudanças de comportamentos e atitudes para que os resultados possam mudar verdadeiramente.
Quais as principais atividades que normalmente são desenvolvidos pelos profissionais dessas duas áreas?
Joana – Depende um pouco do ramo que vai se atuar, se em empresa ou setor público. Aí, cada um tem suas particularidades e devem ser dadas as devidas atenções, mas tudo começa com um bom planejamento, criar ações que sejam eficazes, desenvolver atividades que chamem a atenção, propor atividades sempre que possível com alguma novidade, desenvolver formas diferente de manter a atenção e o foco nas ações, sempre reforçando para as questões mais importantes, utilizar métodos de fácil compreensão, dinâmicas, brincadeiras, vídeos educativos, palestras, treinamentos, teatros, incentivar as boas ações em todos os locais, buscar cada vez mais parceiros que possam levar os assuntos a todos os níveis, criar projetos visando cada vez mais consolidar as questões ambientais no nosso dia a dia. Controles eficazes são princípios básicos para uma boa gestão e nas questões ambientais isso se faz extremamente necessário, buscar alternativas para que possamos ter uma melhor qualidade de vida para todos, trabalhar para construir uma sociedade mais consciente e responsável pelos seus atos e formar cidadãos mais conscientes, que ao meu ver ainda é o nosso maior desafio nos dias atuais.
De modo geral, as chamadas “profissões verdes”, por estarem ligadas à sustentabilidade e preservação ambiental, estão com mercado de trabalho em crescimento?
Joana – Acredito que sim, pois cada vez mais o mundo anseia por bons profissionais nessas áreas e que venham para fazer a diferença em busca de um futuro melhor para todos. Até me atreveria a dizer que são profissões fundamentais para que possamos sobreviver e ter no mínimo alguma qualidade de vida no que chamamos de futuro.
Na sua avaliação, quais outras profissões e ou áreas, relacionadas ao meio ambiente, podem ser consideradas mais promissoras?
Joana – Acredito que todos os profissionais, independente da formação, devam ter uma maior preocupação com as questões ambientais, pois dependemos do meio ambiente para tudo, não só as profissões relacionadas ao tema, mas todos, de certa forma estamos interligados. Importante lembrar que precisamos ter um engajamento melhor entre todos os setores para que tenhamos cidades sustentáveis com empresas sustentáveis e para que isto possa acontecer cada um deve fazer a sua parte em busca de um mundo melhor com atitudes simples e muita conscientização. As engenharias, em minha opinião, precisam ter mais foco nas questões ambientais para que tenhamos, desde a concepção, projetos respeitando o meio ambiente em todos os seus níveis.