CITROS. Retirada da bergamotinha verde qualifica safra e dá renda extra
Em meio ao calorão atípico deste Verão 2024, os citricultores do Vale do Caí deram início ao raleio da bergamotinha verde. Este é um procedimento técnico que consiste na retirada das primeiras frutas que surgem, e que resulta no fortalecimento das plantas e melhoria dos aspectos da frutas que serão colhidas ao longo do ano. O raleio representa ainda ganho extra aos agricultores com a venda da mandarina para as indústrias de extração de óleo essencial.
A extensionista da Emater-RS/Ascar em Montenegro Luísa Leupolt Campos classificou, em 31 de janeiro, o processo como em fase inicial. O secretário Municipal de Desenvolvimento Rural de Montenegro, Ernesto Kasper, destacou a importância econômica da mandarina ao Município, por ser uma matéria-prima para as indústrias de processamento, o que gera valor agregado. Ele destaca ainda o diferencial em mercados internos e externos desta fruta verde.
Outro importante aspecto do período do raleio diz respeito ao ganho financeiro extra as famílias agricultoras. “Por ser uma produção que vem em período quando não se tem vende de frutas, gera uma renda que auxilia nas despesas com investimentos em adubação e mão-de-obra”, completou Kasper.
Alguns integrantes da Associação dos Produtores Rurais de Campo do Meio e Região, a “Citruscampo, já haviam iniciado em dezembro a retirada das variedades “do cedo”, mas estavam “largando no chão” ao invés de vender. Com o início da compra pelas indústrias em janeiro, agora a maioria dos associados tem optado pela comercialização. Segundo o representante da Citruscampo, Jaime Kochenborger, o processo de raleio está nos pomares da variedade Caí, primeira vendida aqui no Vale, entre maio e abril.
Safra de “verdinha” será boa
A previsão é de uma boa safra de fruta verde, o que garantiu a manutenção do preço praticado pela indústria no ano passado, de R$ 15,00 por caixa entregue na propriedade. Kochenborger comenta que “preço é mercado” e nem sempre é o que o produtor espera, então precisa trabalhar com aquilo que lhe é ofertado diante da necessidade do setor. “Nós da Citruscampo trabalhamos para a fruta madura! Não é negócio para nós a fruta verde. Ela é um descarte, mas que infelizmente nos obrigamos a fazer”, explica.
No ano passado os citricultores de Campo do Meio adotaram a estratégia de poda forçada dos pés de bergamota. Os resultados da redução da galhada, especialmente dentro da copa, é a queda de quantidade, mas ganho no tamanho das frutinhas, que, por ficarem mais por fora da planta, diminuem o tempo dedicado ao raleio. O sistema dá ainda mais rentabilidade na venda da verdinha e mais qualidade a safra devido ao desenvolvimento precoce das frutas.
Citricultor de São José queria preço melhor
Questionada, a técnica social da Emater de São José do Sul, Rogéria Flores, garante que o estresse hídrico do ano passado não impacta na qualidade do óleo extraído de frutas nascidas no período. Por outro lado, aponta alteração de quantia, pois em função do clima haverá carga menor nas plantas.
Quem confirma é Rudi Albino Colling, que está com o raleio a pleno. O citricultor explica que a falta de dias ensolarados derrubou as frutas da parte de dentro da galhada. Ao menos aquelas que restaram por fora da bergamoteira “estão muito boas”. Ele projeta tirar 3.000 caixas de 28 quilos, o que soma 40 toneladas de verdinha.
Mas Colling lamenta o preço de R$ 15,00 por caixa que recebe do atravessador, afirmando que desta forma não paga nem a mão-de-obra. “Mas o raleio tem que ser feito! Caso contrário não tem bergamota graúda”, declarou.
Chuvarada de 2023 não alterou o óleo essencial
São José do Sul marcará o período com o evento técnico “Abertura da Safrinha 2024”, promovido por Secretaria da Agricultura e Meio Ambiente e Emater, na tarde desta sexta-feira, 16. O encontro será na propriedade do agricultor Cacildo Lerner, na localidade São José do Maratá, para promover conhecimento a cerca da importância do raleio para o sucesso da safra.
A técnica social do escritório da Emater, Rogéria Flores, explica que a retirada das primeiras frutas verdes é um manejo que evita a alternância de produção. “Com a carga excessiva de frutos num ano, o pé de bergamota entra num estresse tamanho que, no outro ano, precisa desenvolver-se vegetativamente para garantir a floração e produção de frutos”, explica.
Nesta rotina, as folhas são a reserva da planta e corresponderão, proporcionalmente, ao potencial de carga de frutos para o próximo ano. Com a retirada das frutinhas em desenvolvimento, se mantém a planta nutrida e equilibrada para os próximos ciclos produtivos (safra da madura), com mais qualidade e aumento de produtividade.
Maratá também relata menos frutas verdes
Em Maratá, a retirada das mandarinas iniciou na última semana de janeiro. Com base em dados do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), repassados pela Emater local, o valor médio pago pela indústria é de R$18,00 por caixa. “Alguns produtores estão relatando uma carga menor de frutos na variedade Montenegrina”, confirma a extensionista Mariane Conrad Karlinski.
Todavia, ela assinala que há variantes de propriedade para propriedade, em razão da alternância de produção. A respeito de qualidade da fruta após os episódios de estresse hídrico do segundo semestre de 2023, aponta que, por enquanto, conseguem avaliar apenas a carga e o tamanho das frutas.
Biocitrus está comprando
No Vale do Caí, as empresas Aripe Citroworks e Biocitrus formam a maior processadora de bergamotinha verde, e que neste ano está pagando 60 Centavos pelo quilo no pomar (mais o custo do frete). O responsável pela compra e abastecimento da fábrica, Aliston Ricardo Kussler, afirma que a qualidade do fruto está boa, mesmo após o período de chuva excessiva do final de 2023. “A safra está 20 dias antecipada e as variações de clima impactam nas características do óleo essencial; mas não que isso mude a qualidade de forma significativa”, avalia.
Muitos citricultores estariam procurando Aripe Citroworks para vender, sendo raros os casos que avaliam não ser uma opção atrativa. Kussler reitera que este negócio é uma fonte de renda em um momento em que ainda não há fruta madura. Isso ajuda o produtor a custear despesas do período. Novos citricultores ainda podem procurar a BioCitrus, pelo telefone (51) 99709-9116.
Na avaliação da equipe técnica da empresa, revela Kussler, neste ano haverá uma excelente oferta de fruta madura no Vale. “Temos uma excelente carga na Caí e Pareci esse ano. Já a Montenegrina se mostra mais fraca a carga nos pés”, confirma.