Bebê nasceu com apenas 900 gramas e seguiu 54 dias internado
A montenegrina Patrícia de Lara, 33, é uma das mães que têm uma verdadeira história de luta e muita garra até, finalmente, conseguir ter o tão esperado primeiro filho em seus braços. Com 26 anos de idade, um bom companheiro e a vida estabilizada, Patrícia e o marido Carlos Vinicius Rodrigues, 30, decidiram que teriam um filho. Pouco tempo depois, o casal já descobriu a gravidez e a alegria tomou conta do lar. Patrícia seguiu gestando seu bebê por apenas sete meses, mais especificamente 32 semanas e quatro dias.
Com uma gravidez muito tranquila e a realização de todos os exames necessários durante a gestação, como pré natal e ecografias, Patrícia e Carlos não esperavam o que estava por vir. “Quando eu fiz a ecografia morfológica solicitada e descobri que ia ser menino, a doutora pediu a outra eco. Foi quando ela viu que meu filho estava pequeno e não tinha ganhado peso”, detalha.
Ela afirma que com sete meses, o bebê estava com apenas aproximadamente 830 gramas. “Nas palavras difíceis escritas no resultado do exame, dizia que tinha alguma coisa errada que só a médica soube ver. Foi quando ela me pediu uma eco de emergência”, acrescenta. Após a ecografia, ela foi encaminhada para Porto Alegre com a justificativa de que precisava ficar por lá até os nove meses e tentar “segurar” o nascimento do pequeno, além de investigar as causas do não crescimento.
Foi neste período que Patrícia viu o mundo desabar. “Eles identificaram que meu filho mal se mexia, então correram a fazer outra eco e a doutora falou para mim que iam ter que tirar meu menino, que eu não tinha quase nada de água na minha bolsa”, conta. “Até aí não me assustei, mas quando ela falou para mim “mãe, é meu dever como médica e eu preciso te dizer”, foi aí que o desespero começou a tomar conta de mim. Quando ela disse “mãezinha, talvez a tua criança não nasça viva”, aquilo me chocou a alma, não sei explicar”, relembra, emocionada.
A partir daí, Patrícia entregou seu futuro e do bebê nas mãos de Deus. “Os médicos disseram para mim não me apegar no bebê, porque se nascesse com vida podia morrer logo depois. É nessa hora que a gente diz que se apega com Deus. Foi neste momento que eu entreguei meu filho para ele”, afirma. “Na minha oração, que eu nunca vou esquecer, falei: Senhor, se for para me dar ele com vida, me dá ele perfeito. Pode ser pequeninho, eu crio. Se for para ele estar sofrendo neste mundo, eu também prefiro que o Senhor o leve”. Pode até ter parecido egoísta em um primeiro momento, mas a gente vê tantos inocentes sofrendo, não quer mais um”, enfatiza.
“Eu tinha muito medo de perder ele”
Foi aí que começou a correria e Patrícia precisou ser submetida a uma cesariana de emergência. Após todo o procedimento, Carlos Gabriel de Lara Rodrigues nasceu com 900 gramas e depois de desinchar ficou com 825 gramas totais. Surpreendendo a todos, Carlos, apesar de pequeno, seguiu firme e forte lutando pela vida. O bebê nasceu com meningite grau quatro e anemia grau sete e logo passou por uma transfusão de 23 ml de sangue. “Ele era minúsculo, quase transparente, só pele e osso. O pezinho dele dava o polegar do meu marido”, relembra a mãe, emocionada. “Eu percebi que ele parecia muito com o pai dele e que ele tava realmente ali. Eu sempre orei par Deus para que ele sobrevivesse”, pontua. A mãe conta que ele era o menor de todos os bebês nascidos na ala e que, de tão pequeno, foi apelidado carinhosamente de chaveirinho e pequeno polegar.
Patrícia ainda relembra da dificuldade em produzir leite materno. Segundo ela, em quatro dias após dar à luz, seu leite apenas pingava algumas gotas. Pela grande dificuldade de amamentar, a mãe retirava o leite para alimentar o filho. “Durante a semana, eles tinham a maquininha para tirar o leite, mas no fim de semana, não. Então me deram uma seringa e eu tinha que sugar o leite com aquilo. Era uma tortura. Eu cheguei a deixar meus seios em carne viva, saindo sangue. Mas as enfermeiras sempre me diziam a importância do leite materno, que ele faz milagre pela criança. Como Deus já tinha me concedido o milagre do meu filho ter vindo com vida, eu me esforçava bastante”, detalha. O esforço era tanto que Patrícia relembra que até de seu único vício ela teve que abrir mão: o café.
A mãe conta que Carlos Gabriel ficou internado por 54 dias e ela não arrastou o pé de seu lado. “Eu tinha muito medo de perder ele”, desabafa. Durante esse período, Patrícia foi recebida por uma casa de acolhimento, onde ficava das sete da noite às sete da manhã, para logo voltar ao encontro do filho no hospital. “Foi graças a esta casa que eu consegui fazer tudo junto com o meu menino”, agradece.
O dia 25 de dezembro de 2016 foi marcante para Patrícia. Foi quando ela pôde pegar seu filho nos braços pela primeira vez. Um grande presente de Natal. “Essa história me emociona muito, porque todo mundo, quando vai para a maternidade, já sabe que o bebê vai nascer, vão colocar ele em cima de ti então tu vai beijar, colocar para amamentar. Mas eu demorei mais de um mês para pegar ele. Felizmente eu consegui tirar ele daquele hospital e ele veio para casa bem”, conta, muito emocionada.
A volta por cima
Em casa, o tratamento de Carlos continuou, principalmente com sulfato ferroso, que tomou até os três anos de idade e vitaminas, além de ser acompanhado por diversos especialistas. Patrícia destaca o grande empenho do marido durante todos os momentos. “Meu marido foi um guerreiro, eu nunca vou esquecer. Só ele sustentou a gente. Mas, graças a Deus meu filho veio bem povão, pôde usar a fralda mais barata, tomar o leite mais barato e a gente sempre se apertando, se sacrificando, mas conseguimos criar esse lindo menino e superar tudo”, destaca.
Agora com seis anos de idade e no primeiro ano do ensino fundamental, Carlos Gabriel foi diagnosticado com TDAH, o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, mas para a mãe, nada que possa ser grave. “Com tratamento, fica tudo certo. Ele é completamente saudável. Uma criança cheia de energia, para dar e vender e é isso que eu sempre peço a Deus, para que conserve isso”, conclui.
Patrícia relembra que durante todos estes anos não pôde trabalhar. “Não pude trabalhar por anos, aqui em Montenegro era de quinze em quinze dias as consultas e já cheguei a ir sete vezes pra Porto Alegre consultar com os médicos no mês. E as creches não podem dar remédio pra crianças”, relembra. Ela conta que quando deu a luz, ainda trabalhava “frio” e, por pagar o INSS, conseguiu o auxílio maternidade, mas seu desejo era ser contratada. Após muitas angústias, Patrícia está voltando ao rumo de sua vida e está empregada, segundo ela, praticamente contratada. “Poder voltar a trabalhar e assinar minha carteira de trabalho é uma grande conquista para a gente”, finaliza.