O vendaval que atingiu a Região Metropolitana na noite desta terça-feira, dia 16, teve vento acima de 100 km/h e grande volume acumulado de chuva em poucos minutos. Segundo a Defesa Civil de Montenegro, a precipitação somou 56,4 m.m., em período aproximado de uma hora. Tomando como base divulgação da MetSul Meteorologia, no Aeroporto Salgado Filho o vento foi medido em 89 km/h; em estações particulares de clubes náuticos em Porto Alegre foi de quase 120 km/h; e na Base Aérea de Canoas a medição foi de 107 km/h.
O episódio deixou prejuízos e transtornos em diversos pontos de Montenegro; mas o cenário mais catastrófico foi na rua Cristo Redentor e parte da Rua dos Imigrantes (Trilhos), no bairro Santa Rita. A chuva extraordinária fez transbordar um córrego que corta a comunidade, que, em torno das 22h30min, gerou onda que varreu as vias paralelas, depois de cruzar por dentro de diversas residências. Vistoria da Prefeitura afastou a tese de um açude de empresa próxima ter transbordado.
Todos os moradores tiveram perdas, de móveis a eletrodomésticos, mas alguns de fato perderam tudo. A situação mais assustadora foi no lar da família Leite, onde uma das paredes foi derrubada pela pressão da água. Maura, de 45 anos, viu um “dilúvio” entrar pelos fundos do pátio, que é voltado para a Cristo Redentor, arrastando um muro do vizinho e se acumulando contra a parede.
Não dermorou para uma cachoeira invadir pela janela. Restou à moradora pegar as filhas, de 4 e de 20 anos, e correr para frente da residência, saindo na Imigrantes. Em seguida a parede foi abaixo, invadindo todos os cômodos.
Luiz Carlos, 40 anos, foi chamado no trabalho, mas quando chegou já não havia o que fazer. Ele mostrou uma porta interna, de ferro, que foi entortada pela vazão, e o banheiro que teve água retornando pelo ralo e vaso sanitário. O secretário de Serviços Urbanos, Neri de Mello Pena, vistoriou o local e prometeu ajuda.
Casa do vizinho segurou um pouco
Talvez os danos na casa da família Leite pudessem ter sido maiores, é o que acredita o casal Giovani Francisco do Nascimento, 23, e Ariane de Oliveira Rodrigues, 21. A casa deles faz fundos, voltada para a Cristo Redentor, de forma que acabou servido de barreira. Eles precisaram abandonar a casa de madeira, saindo pelo jardim com água na cintura e levando quatro crianças, de 1 a 5 anos, sendo três filhos e um sobrinho.
“Quando abrimos a porta (da frente) o cachorro estava com água no pescoço, o coitadinho”, lembra Giovani. Eles imaginavam a tragédia que seria se o anexo fosse jogado sobre a casa dos Leite; e acreditam ainda que a queda do muro do vizinho ao lado tirou ajudou a reduzir a pressão no dique formado.
Pequeno empreendedor perdeu seu investimento
Há alguns metros outro drama se desenrolava. Há cerca de 9 meses, Claudinei de Oliveira Soares, 34, e a esposa Adriana, haviam aberto um “delivery” de hambúrguer que tocavam no contra-turno de seus empregos. A onda que repentinamente cruzou a residência, inundando o trailer que ficava na frente e a cozinha comercial nos fundos. Naquele manhã os empreendedores contabilizavam a perda de todos os ingredientes perecíveis, embalagens e ao menos duas de três geladeiras.
“Foi muito rápido! Uns cinco minutos e subiu tudo”, recorda Adriana, que no começou chegou a usar o rodo, mas foi vendida pelo fluxo d’água. Ela ainda lamentou o azar de sua cunhada (na casa ao lado), que com nove meses de gravidez e sinais de chegada a hora do parto, viu a água destruir o enxoval e o quartinho do bebê.
Água precisou ser bombada do pátio
Na casa de Glaci Alves e Alvorino Brum, os Bombeiros Militares precisaram usar a moto-bomba do caminhão para drenar a água do pátio. A residência fica abaixo do nível das duas ruas, então foi invadida pelos dois lados. Ela mostrou uma parede lateral da qual jorrava água que vinha da casa do vizinho de parede.
Fabio Júlio Campos da Silva, 69 anos, foi acordado pelo barulho da água batendo contra a porta dos fundos. “Quando desci o degrau da cozinha (saindo do quarto), pisei dentro da água”, demonstrou.
Quem também foi acordado pela água invadindo foi o aposentado Valdir Ribeiro, 50, e sua esposa Aladir Lucia, 65. Ele está do lado oposto da Cristo Redentor, e de seu quintal é possível ver o córrego que vem de direção da RSC-287, recebendo água de áreas verdes. Ele revela que era dali que vinha a água, que saiu pela porta da frente. Com ajuda de vizinhos conseguiu subir geladeira, fogão e alguns móveis.