Novembro Azul: tabu é inimigo do diagnóstico precoce

Dando continuidade à série de entrevistas sobre o Novembro Azul, desta vez o urologista Daniel Melecchi, que atua na Omedic de Montenegro, foi o convidado especial para a entrevista na Rádio Ibia Web dessa quarta-feira. Ele destaca que este mês é especial para lembrança da saúde do homem como um todo, e não apenas atentar para o câncer de próstata. “É um mês para podermos analisar e fazer medidas preventivas”, afirma.

Em 2011, o Instituto Lado a Lado pela Vida iniciou a campanha Novembro Azul com o objetivo de alertar para a importância do diagnóstico precoce do câncer de próstata, o mais frequente entre os homens brasileiros depois do câncer de pele. Aproveitando as celebrações em torno do tema, o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional de Câncer (INCA) começaram a divulgar ações importantes e a data transformou-se no maior movimento em prol da saúde masculina.

Um dado importante trazido por Melecchi é o aumento da busca por atendimentos no Novembro Azul. “Por ser um mês de campanha, vai o irmão, o amigo, o parente, e é o que a gente chama de efeito manada. Esse espaço que a mídia dá para o mês é super importante para poder ajudar a população a tomar as decisões corretas com relação à nossa saúde”, afirma.

Foto: arquivo pessoal

Os fatores de risco para o câncer são idade (chance aumenta muito após os 50 anos), raça negra e hereditariedade. O urologista enfatiza que 10% dos cânceres de próstata são hereditários, mas 90% são esporádicos, ou seja, o homem tem uma predisposição e algum fator externo faz com que o gene modifique e fique mais agressivo. “Os fatores de risco estão correlacionados com o desenvolvimento, mas a gente não sabe qual é o momento que ocorre esta mudança da célula e ela se transforma em maligna”, explica.

Melecchi afirma que analisando com atenção, é possível notar que mudanças nos hábitos de vida, como parar de fumar, realizar atividade física, dieta regular, entre outras, isso não só reduzem a chance de ter determinados tumores como o câncer de próstata, mas também melhora a qualidade de vida. Ele enfatiza os problemas causados pelo consumo do cigarro. “O tabagismo é mais correlacionado com o câncer de bexiga do que com o de pulmão. O paciente que fuma e tem o câncer de próstata tem a doença mais agressiva do que o paciente que não fuma. Mas a tendência, a chance de cura, também é menor. Por isso, o tabagismo deve ser amplamente combatido”, confirma.

Chance de cura chega a 90% com diagnóstico precoce
Após o diagnóstico precoce, com alteração dos exames de PSA e/ou de toque, passa para a segunda etapa que é realizar exames de imagem, como ressonância e biópsia da próstata e então sim o diagnóstico definitivo. “Quando o diagnóstico é realizado precocemente, a chance de cura da doença, realizando um tratamento cirúrgico, é mais de 90%. Por isso é super importante a realização de um tratamento precoce”, determina. Ele ainda pontua que cerca de 75% dos cânceres de próstata vão apresentar PSA elevado, porém os demais 25% vão apresentar irregularidade apenas no exame de toque. Por isso se diz que os dois exames são complementares.

Tabu é um grande problema
Melecchi afirma que geralmente o paciente que vai até o consultório já vai preparado para a execução dos exames. “O problema é o paciente que não chega ao consultório. Aquele que não vai pelo tabu, pelo medo de fazer o exame”, alerta. Ele explica que não há necessidade de constrangimentos ou pré-conceitos. “É um exame que dura cerca de cinco segundos, indolor. É um pouco desconfortável, mas não dói e não tem essa mística toda. É um medo que não tem o menos sentido”, destaca.

Outro e talvez um dos maiores tabus entre os homens ainda é o medo da impotência e incontinência urinária após os tratamentos do câncer de próstata. O urologista diz que existem várias formas de tratamento para o câncer, desde radioterapia, até cirurgias e terapias focais. “Na grande maioria das vezes os pacientes optam pela cirurgia e a mais atual é a robótica. Nesta, a chance de impotência e incontinência caíram vertiginosamente. O que antigamente era um problema muito sério com disfunção erétil e incontinência, após a cirurgia reduziu muito”.

foto: freepik

Melecchi pontua que com a cirurgia robótica, cerca de 75% dos pacientes após dois anos de cirurgia não precisaram tomar nenhum remédio para disfunção erétil. “Temos uma gama de tratamentos para disfunção erétil, de leve, moderada e intensa, que fazem com que este tipo de sequela fique cada vez mais minimizada. Mas isso depende muito da técnica cirúrgica e do cirurgião”, salienta.

O importante é lembrar que esta doença, se não tratada, pode gerar infecção local e começar a invadir órgãos locais, como intestino grosso, reto e bexiga; pode dar metástases, que são ínguas internas, mas principalmente lesões nos ossos. “A doença quando não tratada e evolui realmente é bem complicada”, determina.

Congelamento de esperma
Melecchi pontua que todo paciente que faz cirurgia da próstata perde a capacidade reprodutiva, porque é retirada a próstata. Assim, ele não ejacula mais e sim terá o chamado orgasmo seco. É a partir desta realidade que é indicado o congelamento de esperma.

Segundo o urologista, pacientes jovens que fazem a cirurgia para retirada de tumor de testículo e que eventualmente vão realizar quimioterapia para tratamento sistêmico são os pacientes que têm maior indicação de realizar congelamento de esperma. “Isso porque eventualmente são pacientes que não têm filhos ainda. Isso tem que ser levado em consideração pelo urologista, porque permite que, em algum momento durante a vida do paciente, ele tenha filhos. Com os espermas congelados, a fertilização in vitro é factível”, resume.

Nestes casos, o próprio urologista pode encaminhar o paciente para as clínicas especializadas no assunto. Sendo viável a coleta, o esperma pode ficar no centro de congelamento por muitos anos.

IST’s não estão ligadas ao câncer de próstata
O urologista destaca que as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s) não estão relacionadas ao câncer de próstata. “Na próstata, pode-se ter três doenças: câncer, hiperplasia prostática benigna e prostatites. As IST’s estão ligadas com esta última, mas não com o câncer”, define.

 

 

 

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