Após um mês intenso de divulgação de informações a cerca do Outubro Rosa, chegou o Novembro Azul. Como no mês passado, a Rádio Ibiá Web recebe, durante todas as quartas-feiras do mês, especialistas e pessoas que já passaram pelo câncer de próstata, sempre a fim de conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce. No Novembro Azul, também é mês para desmistificar alguns pontos que ainda são “tabus” para os homens em sociedade, como sua saúde no geral.
O urologista montenegrino Isachiel Kautz foi o primeiro entrevistado do programa. Ele conta que o Novembro Azul tem este nome levando em consideração que já existia o Outubro Rosa, então, seguiu a mesma linha. Ele explica que o movimento iniciou na Austrália, em 2003, quando um grupo de amigos resolveu alertar a população dos riscos do câncer de próstata. Isachiel afirma que a fim de chamar atenção das pessoas, resolveram criar um símbolo que os identificasse e era pouco utilizado na época: o uso de bigode. Por isso, o bigode é utilizado durante toda a campanha mundo afora. No Brasil, o movimento chegou em 2008.
PSA e toque retal
Conforme Kautz, o tabu a cerca dos exames de rastreamento do câncer de próstata já foi maior, isso porque as informações repassadas através da mídia e profissionais da saúde têm conscientizado os homens cada vez mais. O grande problema deste câncer é que nos primeiros momentos é majoritariamente assintomático. Por isso, a importância do diagnóstico precoce. Os dois exames de rastreamento são o PSA e o toque retal.
O PSA (Antígeno Prostático Específico) é um marcador de exame de sangue que indica possíveis alterações na glândula, que normalmente costuma ser menor que 4 mg/mL. Se houver qualquer alteração no nível, o médico deve avaliar se há a possibilidade de o paciente estar com câncer de próstata. A chance da doença surgir aumenta conforme o nível de PSA no sangue cresce. Desta forma, pode ser necessário realizar exames complementares para se chegar a um resultado mais claro.
É por este motivo que o PSA não substitui o importante toque retal, pois ambos se complementam. Ao serem utilizados em conjunto, é possível detectar cerca de 90% dos casos e, principalmente, diagnosticar o câncer de próstata precocemente. Até porque o exame do toque identifica pequenos tumores que, muitas vezes, não aparecem nos níveis do PSA. Isso ocorre porque o PSA é um biomarcador imperfeito e pode gerar falsos diagnósticos. “O PSA é muito sensível para detecção, mas pouco específico”, acrescenta Kautz.
Fatores de risco, sintomas e prevenção
Isachiel Kautz afirma que é muito comum que seja diagnosticada a hiperplasia prostática benigna (HPB). Se trata de um aumento não canceroso (benigno) da glândula prostática, que pode dificultar a micção. A glândula da próstata aumenta conforme o homem envelhece. Os homens podem ter dificuldade em urinar, jato mais fraco de urina e ter a sensação de que precisam urinar mais vezes e com mais urgência. Apesar da hiperplasia não significar um fator de risco para desenvolvimento do câncer de próstata, vale lembrar que é possível desenvolver as duas doenças ao mesmo tempo. Aliás, os sintomas descritos também podem servir para o câncer de próstata, além de sangue ao urinar.
Hoje em dia, o urologista afirma que homens a partir dos 50 anos devem iniciar o rastreamento do câncer e homens com histórico familiar e negros com 45. Kautz analisa que além destes dois fatores de risco, ainda existe a idade. Assim, os três fatores não são modificáveis. Ele ainda destaca que sempre se recomenda uma vida saudável, atividade física, controle do álcool e não ao tabagismo, mas que no caso do câncer de próstata, o maior foco ainda é a realização dos exames de PSA e toque retal do que prevenção com bons hábitos em si.
Um dos últimos testes desenvolvidos que está ligado com a prevenção está em fase de testes e trata-se de um exame de saliva. A partir da coleta do material, os cientistas do analisam mais de 150 marcadores de DNA e desta maneira, será possível analisar mais de 150 marcadores de DNA e encontrar quais os pacientes com maiores chances de desenvolver a doença. O novo exame já está sendo realizado em fase de testes em alguns hospitais do Reino Unido por clínicos gerais. O objetivo é reduzir a quantidade de casos da doença em homens que pertençam ao grupo de risco.
Infertilidade e impotência?
Segundo o urologista Isachiel, é mito que o câncer de próstata possa causar infertilidade ou impotência, porém, os tratamentos podem afetar nestas áreas. Os tratamentos tradicionais para combater o câncer de próstata podem acabar resultando na perda da fertilidade masculina. Além do tipo de tratamento, a infertilidade definitiva é influenciada por três fatores principais: a dose medicamentosa, a duração do tratamento e a localização do tumor. Mesmo assim, ele salienta que os riscos vêm reduzindo com os métodos disponíveis hoje em dia. Por isso, tudo gira em torno do diagnóstico precoce: quanto antes diagnosticada a doença, menor o risco destas situações acontecerem. Geralmente, é indicada a cirurgia radical da próstata, mas há vários tipos de cirurgias. Kautz analisa que a menos agressiva é por robótica.
A disfunção erétil também é uma grande preocupação dos homens. O estímulo para ereção chega ao corpo do pênis por um conjunto de nervos muito delicados e frágeis, que ficam localizados na região póstero-lateral da próstata. Em alguns casos, com a retirada cirúrgica da próstata, os feixes nervosos podem ser comprometidos, o que acaba ocasionando a disfunção erétil.
Mesmo que os tratamentos cirúrgicos para o câncer de próstata avancem constantemente, possibilitando a prevenção da disfunção erétil, é importante continuar considerando a possibilidade do problema. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), técnicas introduzidas desde 2012, como a cirurgia robótica, são minimamente invasivas e podem diminuir o risco do comprometimento do desempenho sexual.
Tratamentos: Radioterapia
Considerada um dos tratamentos mais comuns, a radioterapia pode destruir as células responsáveis pela produção de espermatozoides, sobretudo se o tratamento for realizado em doses radioterápicas elevadas. Além disso, as células da próstata irradiada e as vesículas seminais passam a produzir menor quantidade de sêmen, que por sua vez, não tem a mesma capacidade de transportar os espermatozoides.
Quimioterapia
Alguns medicamentos utilizados no tratamento quimioterápico podem impedir que os gametas cresçam e se dividam rapidamente. Isso acontece porque as células dos testículos são danificadas e perdem a capacidade de produzir espermatozoides maduros. Doses elevadas de medicamentos aumentam ainda mais os riscos de interromper a produção de esperma de maneira permanente. Em alguns casos, a produção de espermatozoides pode retornar dentro de quatro anos, mas dependendo da idade, tipo e dose de medicamento, a produção é cessada completamente.
Prostatectomia
A cirurgia para a remoção da próstata – denominada prostatectomia radical – é indicada para pacientes que possuem câncer de próstata localizado, ou seja, quando a doença está confinada na próstata e dentro dos limites da cápsula prostática. Como a próstata é responsável por produzir parte do líquido seminal que serve para nutrir e transportar os espermatozoides, sua remoção implica no fim da fertilidade.