Novembro Azul: a saúde do homem em foco

O Novembro Azul é um mês dedicado à conscientização sobre a saúde masculina, especialmente focado na prevenção do câncer de próstata, um dos tipos mais comuns entre os homens. Durante a entrevista com a urologista Lívia Rodrigues, na Rádio Ibiá Web, a médica discutiu os principais aspectos dessa campanha, os desafios da saúde masculina e a importância da detecção precoce do câncer de próstata.

Lívia Rodrigues

A campanha teve início em 2003, na Austrália, quando um grupo de amigos decidiu deixar crescer o bigode como forma de chamar a atenção para a saúde masculina. A ação foi tão bem-sucedida que em 2004 a ideia foi transformada em uma mobilização voltada para a prevenção do câncer de próstata. A campanha ganhou força em 2006, quando a saúde mental masculina também foi incorporada ao movimento. Em 2008, o Novembro Azul chegou ao Brasil, e desde então, o mês de novembro passou a ser uma oportunidade para falar sobre a saúde do homem de maneira mais ampla.

A urologista Lívia Rodrigues explica que, embora o Novembro Azul seja uma mobilização anual, a conscientização sobre a saúde do homem deve ser trabalhada o ano inteiro. A campanha não é apenas sobre a prevenção, mas também sobre a detecção precoce do câncer de próstata, um dos maiores inimigos da saúde masculina.

Um ponto interessante abordado na entrevista foi a presença de mulheres na urologia, uma área predominantemente masculina. A doutora Lívia, uma das poucas urologistas mulheres da região, comenta sobre como a presença feminina no campo tem sido bem recebida por muitos pacientes. Embora haja uma certa resistência inicial, muitos homens se sentem mais à vontade para consultar uma médica mulher. Lívia acredita que essa mudança pode contribuir para quebrar tabus e estigmas, ajudando a aumentar a busca por cuidados preventivos na saúde masculina.

Câncer de próstata: um inimigo silencioso
O câncer de próstata é o segundo mais frequente no Brasil, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. O problema é que o câncer de próstata, em sua fase inicial, raramente apresenta sintomas. Por isso, a detecção precoce é essencial. Como explica a doutora Lívia, a maior parte dos casos de câncer de próstata não causam sintomas óbvios e muitos homens podem ter a doença sem saber.

A próstata é uma glândula exclusiva do corpo masculino, localizada abaixo da bexiga. Ela tem várias funções, como a produção de parte do líquido seminal e a produção do PSA (antígeno prostático específico), um marcador importante para o diagnóstico precoce do câncer de próstata. Lívia destaca que, com o envelhecimento, a próstata pode aumentar de tamanho, o que pode levar a problemas urinários, como dificuldades para urinar e a necessidade de se levantar frequentemente para urinar durante a noite. Porém, esses sintomas muitas vezes são causados por um aumento benigno da próstata, e não necessariamente pelo câncer.

Prevenção uma questão de estilo de vida
Embora o câncer de próstata tenha um forte componente genético, a doutora Lívia Rodrigues destaca a importância de um estilo de vida saudável para prevenir a doença. Alimentação balanceada, atividade física regular, controle do peso, evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool são medidas que podem ajudar a reduzir o risco de desenvolver o câncer. A urologista sugere que mudanças graduais, como perder de 5% a 10% do peso, podem ter um impacto significativo na saúde masculina.

A importância dos exames: toque retal e PSA

Fotos: Freepik

Para detectar o câncer de próstata de forma precoce, dois exames são fundamentais: o exame de sangue (PSA) e o exame de toque retal. A doutora Lívia aborda a importância desses exames, especialmente o toque retal, que ainda é visto com resistência por muitos homens. Ela explica que o exame de toque, apesar de ser frequentemente mal interpretado, é extremamente eficiente para identificar alterações na próstata, como nódulos e endurecimento. Embora o exame de PSA seja importante, ele pode não ser suficiente sozinho, já que nem todos os cânceres de próstata aumentam os níveis de PSA.

O toque retal, por sua vez, permite ao médico perceber alterações físicas no órgão, o que pode indicar a presença de câncer, mesmo quando o PSA está normal. A urologista ressalta que, no caso de um PSA muito elevado, o câncer de próstata já pode estar em estágio avançado, o que torna a detecção precoce ainda mais importante. A combinação dos exames de PSA e toque retal é a forma mais eficaz de identificar a doença antes que ela se espalhe.

Tratamento
O sucesso do tratamento para o câncer de próstata depende do diagnóstico precoce, por isso é tão importante consultar o médico regularmente e fazer os exames de rotina conforme solicitados. Os tipos de tratamento variam de acordo com alguns fatores, como a idade e saúde geral do paciente, se ele deseja ter filhos ou não, estágio do tumor, tamanho da próstata, entre outros. Eles podem ser:

Observação vigilante – é apenas um acompanhamento rigoroso do avanço do câncer por meio de consultas regulares ao médico, que iniciará o tratamento apenas quando a doença se tornar mais agressiva. Essa abordagem é indicada em casos de tumores poucos agressivos, com desenvolvimento lento.

Cirurgia – é indicada para retirar tumores que se localizam dentro da glândula da próstata, oferecendo mais chances de cura. A abordagem pode ser minimamente invasiva, por meio da cirurgia robótica, que garante mais precisão ao médico e recuperação mais rápida ao paciente.

Radioterapia – por meio de aparelhos próprios, a radioterapia usa uma radiação de alta energia (raios-X) para combater as células cancerígenas. Existem equipamentos de alta precisão, que permitem diminuir a quantidade necessária de sessões, evitando a exposição à radiação.

Terapia hormonal – é aplicada com o objetivo de controlar o nível dos hormônios masculinos (testosterona) que estimulam o desenvolvimento do câncer. Ela pode ser feita por meio de injeções, cirurgia ou comprimidos e é indicada para pessoas que não podem ou não desejam realizar tratamentos mais agressivos, como pacientes com metástase (cujo câncer já se espalhou por outras partes do corpo), ou em conjunto com algum outro tratamento.

Quimioterapia – indicada para homens que possuem câncer de próstata em metástase e não respondem a outros tratamentos, a quimioterapia consiste na combinação de medicamentos específicos que destroem as células cancerígenas.

Papel da família no diagnóstico
Um dos pontos importantes discutidos na entrevista foi o papel fundamental da família no processo de diagnóstico e tratamento do câncer de próstata. Lívia afirma que o apoio da família é crucial, especialmente quando o homem precisa passar por uma cirurgia ou enfrentar os efeitos colaterais do tratamento, como a impotência ou a incontinência urinária. Ela também menciona que muitos homens, ao receberem o diagnóstico, podem passar por dificuldades emocionais, e o apoio da família nesse momento é essencial para o sucesso do tratamento.

Fotos: Freepik

A resistência dos homens com a saúde
A resistência dos homens em procurar atendimento médico é um dos maiores desafios para a prevenção do câncer de próstata. Lívia reconhece que, apesar dos avanços na conscientização, muitos homens ainda não buscam ajuda médica até que os sintomas se tornem incontroláveis. A pressão social e cultural em torno da masculinidade, que valoriza a força e a independência, muitas vezes impede os homens de cuidarem da sua saúde.

“Normalmente, os homens só vão ao médico quando são “arrastados” pela esposa ou pela mãe”, comenta Lívia. Ela enfatiza que, aos poucos, essa realidade tem mudado, especialmente com as gerações mais jovens, que estão mais abertas à busca por cuidados preventivos. No entanto, a urologista ainda observa resistência, particularmente em homens mais velhos, que têm um estigma mais forte em relação ao cuidado com a saúde.

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