Montenegro completa nesta sexta-feira 150 anos. Boa parte da história do Município foi acompanhada pela moradora Bruny Lottermann Walter, que no próximo dia 27 completa 100 anos de vida. Nascida na localidade de Vapor Velho, ela conta quem mora desde os 20 anos na rua Ramiro Barcelos, no Centro da cidade.
O casamento de dona Bruny foi celebrado na antiga Igreja Matriz, onde hoje fica localizada a praça Ivo Bühler, em frente a Catedral São João Batista. “Eu vim de cavalo em uma charrete lá da Esquina da Sorte, em Pinheiros, onde morava na época”, conta a moradora. Foi após o casamento que ela e o marido adquiriram um terreno com uma casa de madeira na rua Ramiro Barcelos, local que ainda reside.
Filha de dona Bruny, Clari Walter dos Santos, 78, conta que as lembranças da infância na principal rua da cidade são muitas. “A rua era pavimentada com paralelepípedo, não tinha asfalto. Os postes eram no meio da rua e as calçadas eram muito mais estreitas”, comenta. Ela lembra que haviam muitos terrenos baldios, e nenhum prédio, como existe hoje. “Aqui, bem perto de casa, tinha o Salão Floresta Aurora, onde a gente acompanhou muitas festas. Atrás da nossa casa tinha um terreno que a gente podia abrir o portão e sair lá na João Pessoa”, lembra Clari.
A antiga casa de madeira da família foi substituída por uma nova construção de alvenaria na década de 1950. Dona Bruny sempre foi conhecida por contribuir nas festas da igreja com cucas, bolos e outros doces produzidos em casa. “As pessoas que frequentavam as festas pediam para ela fazer os doces para casamento e aniversários. Passou, então, a trabalhar como doceira”, conta a filha.
A fama dos doces preparados por dona Bruny ultrapassou os limites de Montenegro. Ela lembra de uma festa de casamento na cidade de Portão, na qual preparou uma torta que teve que ser levada em uma carroça. “Eu media a torta e era maior que a carroça, foi muito difícil para levar”, conta.
Outro momento que ficou marcado na memória da moradora centenária do município foi a festa dos 100 anos de Montenegro, no Parque Centenário. Dona Bruny lembra que foi um momento histórico, com a inauguração do parque, que contou a participação de muitas famílias. “Eu fui com o marido e os filhos, estava muito bonito. A festa foi parecida com uma quermesse, tinham muitas crianças e brinquedos e as pessoas todas com roupas prontas”, afirma.
Ações sociais também foram realizadas pela moradora
A participação na Igreja e a experiência em costurar para a família também levou a centenária a realizar outras ações sociais, como a produção de roupas para crianças recém nascidas de famílias em vulnerabilidade e para o Lar do Menor. Quando o marido faleceu, dona Bruny transformou uma antiga oficina em um ateliê, no qual produzia as peças com a ajuda de voluntárias da igreja. “O pessoal vinha costurar e fazer tricô, que eram doados. Por esse trabalho a mãe foi reconhecida pela Efica como uma mulher que prestou serviços relevantes a comunidade, em 2014”, afirma a filha, Clari.]
Hoje a rua Ramiro Barcelos está muito diferente de quando dona Bruny chegou para morar, há 80 anos atrás. O terreno é rodeado por prédios comerciais e residenciais, mas ela faz questão de manter o ar interiorano e cultiva diversas árvores frutíferas no quintal. Mesmo com as mudanças, ela afirma gostar de onde vive. “Eu acho ótima a cidade, aqui conheço muita gente e não tem perturbação. Morei durante quase toda a minha vida aqui na Ramiro Barcelos e sou muito feliz aqui”, conclui.