DESAFIO. Filhos e netos nem sempre dão conta de repassar o que sabem aos idosos
“Eu não sabia nem ligar a lanterna do celular. Queria apagar fotos e mensagens e não sabia como fazer. Às vezes, minha filha apagava para mim, mas era rápido demais, eu não conseguia entender como ela fazia”, o relato de Elisabet Teresinha Chagas, de 68 anos, serve para ilustrar as dificuldades enfrentadas por grande parte do público da terceira idade quando começa a utilizar ferramentas tecnologias como os smartphones. Quando filhos e netos não conseguem esclarecer as dúvidas dos idosos, a saída é buscar ajuda externa. O problema é que são poucas as ofertas de ensino para essa área.
Quando adquiriu seu primeiro smartphone, a aposentada Maria Odeth Flores Muller, 67, usava basicamente para efetuar e receber chamadas. Na sequência começou a se adaptar à troca de mensagens pelo WhatsApp. No auge da pandemia de Covid-19, para acompanhar as lives dos grupos dos quais ela faz parte, surgiu a necessidade de criar uma cota no Facebook. Para tudo isso ela contou com a ajuda da família.
“Levou bastante tempo até baixar o Facebook e depois o Instagram. Não é como quando compramos um aparelho que vem com instruções de uso, a gente vai aprendendo com pessoas da família. Para eles, é tão normal usar essas ferramentas, tentam nos mostrar como fazem, mas é muito rápido, depois a gente não sabe como fizeram”, comenta Odete.
Elisabet e Odete passaram longo período pedindo ajuda aos filhos e netos para demandas simples como, por exemplo, enviar um emoji e alterar a foto do perfil no WhatsApp e no Facebook. Até que souberam da oficina de Tecnologia – Uso do celular, promovido pelo Grupo Maturidade Ativa do Sesc, do qual ambas fazem parte. Agora se sentem mais independentes, mesmo assim, ainda não arriscam utilizar aplicativos de bancos.
Curso particular pode ser a saída a quem precisa de ajuda
O curso de Informática e Internet com Utilização de Aplicativos para a Maturidade, promovido pelo Senac em Montenegro, é uma alternativa ao público mais experiente que busca conhecimento para melhorar sua relação com a tecnologia. Em geral, é aberta uma turma por ano. As aulas iniciam entre os meses de abril e maio. As turmas são compostas por no máximo 15 alunos.
São 60 horas aulas com encontros uma vez por semana. Nas aulas são abordados conceitos de Windows, Word, Excel, Power Point, questões básicas como ligar e desligar um computador, como localizar programas e o próprio navegador de internet. “Muitos que se inscrevem no curso nunca mexeram no computador, por isso, o professor dá todo suporte de como manusear”, comenta Sílvia Guterres, diretora do Senac Montenegro.
O curso não é 100% voltado ao ensino do uso das ferramentas contidas nos dispositivos móveis, mas, no tópico que aborda conteúdos de Internet é repassado o básico que os idosos precisam saber para começar a usar os aplicativos do celular. “O professor ensina como acessar, encaminhar e-mail, abrir o WhatsApp, mas não ensina todas as funcionalidade do aplicativo”, explica Silvia.
Também são abordados os riscos que a rede oferece, como as feke news e golpes digitais, e como os idosos podem evitar tornarem-se vítimas. “É tratado sobre a importância do contato com a Internet e de ter atenção aquilo que está sendo visto”, acrescenta a diretora do Senac. As aulas são voltadas para pessoas a partir dos 50 anos, mas nada impede que algum aluno mais jovem participe. Interessados em saber mais sobre o curso do Senac podem procurar atendimento através do número 51 3649 3141 ou no site da entidade.
Aprendendo juntos
Conforme Denise Carvalho Machado, facilitadora do Grupo em Montenegro, a ideia da oficina surgiu em um Encontro Técnico dos Facilitadores do Maturidade Ativa. Ela e os colegas perceberam as dificuldades do público da melhor idade em lidar com seus aparelhos de comunicação e resolveram ajudar. “As dificuldades são inúmeras, desde deslizar o dedo sobre a tela do telefone, atender chamada de vídeo, responder mensagens no Whats, adicionar contato, ou até mesmo ligar a lanterna”, comenta.
A capacitação é gratuita e exclusiva aos integrantes do Maturidade. Os encontros ocorrem uma vez por semana, as quintas-feiras. Denise passa orientações de uso geral, que podem ser úteis a todos os alunos, e ao término da aula atende eles individualmente para sanar dúvidas particulares sobre o manuseio dos celulares.
Já quem não é membro do grupo Maturidade Ativa, continua encontrando dificuldade para melhorar a forma de comunicação através dos aparelhos eletrônicos. Conforme a assessora de comunicação da prefeitura, Montenegro não dispõe de curso gratuito específico para esta área e não há previsão da implementação deste tipo de capacitação. Questionada sobre a possibilidade do assunto ser pautado pela Câmara de Vereadores, a assessoria do órgão não deu retorno à reportagem.
Onde buscar informações sobre cursos em sua cidade
No Brasil, algumas cidades e instituições oferecem programas e cursos gratuitos voltados para a terceira idade, incluindo o uso de celulares e dispositivos móveis. Esses cursos costumam ser oferecidos por meio de iniciativas governamentais, ONGs, universidades, centros comunitários ou projetos sociais.
Uma maneira de descobrir se alguma cidade em particular oferece cursos gratuitos de uso de celulares para a terceira idade é entrar em contato com os órgãos governamentais locais, como as secretarias de Assistência Social ou de Educação. Além disso, pode ser verificado se existem projetos ou programas específicos para idosos em universidades, centros comunitários ou instituições de ensino.
É importante ressaltar que a disponibilidade desses cursos pode variar de acordo com a cidade e os recursos disponíveis.