DOAÇÕES ajudam famílias a retomarem rotina depois de cheia histórica
A grande enchente que atingiu o Vale do Caí no último final de semana teve proporções inéditas em Pareci Novo. Áreas antes nunca alagadas ficaram abaixo de água, deixando um cenário de desolação. De acordo com a Prefeitura, foram 300 casas invadidas pelo Rio Caí, resultado em dezenas de desabrigados durante a cheia. Além disso, há danos ainda não contabilizados na produção primária. O cenário fez com que, na segunda-feira, o prefeito Paulo Alexandre Barth assinasse decreto de situação de emergência.
“Foi uma situação bem complicada, nunca vista por nós”, assegura o vice-prefeito e coordenador da Defesa Civil em Pareci Novo, Fábio Schneider. Segundo ele, o rio atingiu seu maior nível na cidade em 150 anos de registros, chegando aos 16 metros. “O município foi muito atingido, foi uma cheia que ninguém esperava”, comenta. Fábio salienta que o trabalho da Defesa Civil iniciou ainda no sábado pela manhã, com distribuição de caixas para moradores levantarem móveis e seguiu com apoio de demais órgãos e voluntários com a remoção de moradores e, desde segunda-feira, na limpeza da cidade.
Um exemplo da dimensão da enchente dado por Fábio é o caso de moradores antigos que fizeram suas casas em altura elava tendo como base cheias passadas e que, desta vez, tiveram suas residências atingidas. Outra situação que chamou atenção foi às margens da ERS-124, onde casas ficaram submersas quase até o telhado.
Tais acontecimentos levaram famílias a perderem tudo o que possuíam em suas residências. “Sobrou só a casa. Então, são muitos móveis e bens que o pessoal batalhou para conseguir que agora vão para o lixo. É muito triste, é lamentável”, relata Fábio. “São situações que eu nunca imaginei que veria um dia no nosso município”, ressalta o vice-prefeito.
Diante de todo o cenário, Fábio agradece o apoio de voluntários, funcionários da Prefeitura e também de bombeiros que auxiliaram tanto na remoção de famílias quanto na limpeza da cidade e distribuição de donativos. O vice-prefeito e coordenador da Defesa Civil reforça, ainda, o pedido por doação de móveis e outros itens. “O pessoal, agora, para retomar as suas residências está precisando de camas, colchões, móveis no geral”, informa. Segundo ele, há a possibilidade de a Prefeitura buscar as doações. “É só entrar em contato que ficaremos muito gratos”, reforça.
EMISSÃO DE ATESTADOS NA PREFEITURA
A Defesa Civil de Pareci Novo está emitindo atestados para a comprovação de falta ao trabalho para moradores que tiveram suas casas atingidas pela enchente. A emissão do documento está sendo feita na sede da Prefeitura. Para emiti-lo é necessário apresentar RG, CPF, comprovante de residência e fotos ou vídeo da casa no momento da enchente.
Para facilitar, os documentos podem ser enviados por WhatsApp pelo telefone (51) 9 9802-2955. O mesmo número também pode ser utilizado para sanar eventuais dúvidas.
O relato de quem enfrentou a fúria do Rio Caí
Nascido e criado na rua da Praia, em Pareci Novo, Maclovi Klein, 47 anos, também escolheu o local para morar. Sua residência fica do lado da barranca do Rio Caí, de frente para a casa de sua mãe, que fica do outro lado da rua. Nessas quase cinco décadas de vida, ele nunca havia presenciado tamanha fúria por parte do rio que banha a região.
Ribeirinhos, Maclovi e os vizinhos estão acostumados a ver a água subir e invadir a rua. No entanto, ela nunca havia atingido um nível ao ponto de entrar nas residências. “Minha mãe tem 74 anos e nunca tinha entrado na casa dela”, conta. Na manhã de quinta-feira, dia 23, a frente da casa da mãe de Maclovi estava tomada por móveis e outros objetivos que foram molhados pela cheia na esperança de algum ainda ser salvo. O mesmo se repetia em casas vizinhas. Havia também pilhas de itens para descarte – uma vez que não poderiam mais ser utilizados após sofreram danos causados pelo Rio Caí.
E as perdas ocorreram mesmo com os moradores se precavendo. Maclovi conta que utilizou caixas para erguer móveis e eletrodomésticos, mas foi em vão. Diante do avanço das águas, ele ajudou na remoção da sua mãe e de seu padrasto. No entanto retornou para, junto da mulher, cuidar dos animais da família.
Enquanto sua mulher ficava na janela da casa com os gatos, Maclovi foi até um terreno vizinho à residência de sua mãe. O local foi aterrado por ele e projetado para nunca ficar abaixo da água. Foi ali que ele resgatou seus cachorros e cães de vizinhos, colocando eles em cima da caçamba de um caminhão, e também prendeu suas mais de 20 cabeças de gado – e foi surpreendido pelo nível do Rio Caí.
A água chegou até a barriga dos animais. Como os bois ficavam agitados com a passagem de galhos e outros entulhos que eram carregados pelo rio, o ribeirinho se viu obrigado a ficar com sua criação para acalmá-la. Seu trabalho era acalmar os animais, mas a sua própria calma se esvaia por vezes.
“Foi uma dor muito grande, um medo… nem se fala. O medo maior foi quando todo mundo foi embora e a gente ficou sozinho… sem luz”, relata, emocionando-se. Assim, da noite de sábado até a madrugada de segunda-feira, Maclovi e a mulher ficaram isolados sem comida, água ou luz e enfrentando a fúria das águas do Rio Caí. “Hoje a gente olha isso tudo e é uma tristeza só, mas estamos vivos e estamos bem. Não foi fácil. Foi uma luta grande para não perder os animais e nossa vida”, afirma.
Saiba como ajudar os atingidos
Após enfrentar a maior enchente de sua história, a comunidade de Pareci Novo se une e conta com a solidariedade para ajudar aqueles que tiveram grandes perdas por conta da elevação histórica do Rio Caí. Aqueles com possibilidade podem auxiliar de diferentes maneiras.
Uma delas é através da colaboração em dinheiro através da chave Pix de telefone número (51) 9 9646-3873, da Prefeitura de Pareci Novo. A disponibilização se deu por conta de pedidos. Os valores arrecadados serão destinados à aquisição de materiais essenciais, como produtos de limpeza, itens de higiene, alimentos, colchões e outros itens necessários para ajudar aqueles afetados pela enchente.
Quem tiver esses itens disponíveis e quiser doá-los também pode levá-los diretamente ao Centro de Referência em Assistência Social (Cras) Amor Perfeito, localizado ao lado da Prefeitura. De momento, a maior necessidade é de colchões e camas, cobertores, toalhas de banho e de rosto, fronhas e lençóis.
Outro pedido é o de móveis, que serão destinados para famílias afetadas pela enchente. Aqueles que possuem móveis e não têm condições de fazer a entrega podem contatar a Administração Municipal de Pareci Novo pelo telefone (51) 9 9678-2918 para se ver a possibilidade de o poder público buscar os móveis para realizar a doação.