Integrada à casa, pitangueira atravessa gerações

No morro Bela Vista, a árvore faz parte da família e é exemplo de sustentabilidade

Ultimamente, muito se tem falado em arquitetura integrada à natureza, um conceito que busca equilibrar a relação entre o meio construído e o ambiente natural. Longe do Centro de Montenegro e de toda sofisticação que envolve o conceito arquitetônico, é no morro Bela Vista que uma pequena residência, integrada à uma pitangueira, se tornou exemplo de sustentabilidade e consciência ambiental.

Quem passa na frente da casa do pedreiro José Adair da Silva Sarmento, 58, não imagina a linda história que ele e toda a sua família têm com a árvore que enfeita a fachada do local. Quando se trata da pitangueira, seu Adair não economiza esforços e fala da relação de amor e respeito que tem pela natureza. “Quando eu vim morar aqui, há 28 anos, ela já estava ali e permanece até hoje porque é especial, eu jamais teria coragem de tirar algo que faz parte disso tudo”, disse o pedreiro. “Além de trazer sombra, proteção e muitas frutinhas, durante a manhã é a coisa mais linda de ver a quantidade de passarinhos que ela atrai”, completa.

Para Maria Lenira Sarmento, tomar seu chimarrão diariamente à sombra da árvore é quase um ritual

De modo geral, antes de iniciar uma construção civil, é comum a realização da limpeza do terreno, o que envolve, muitas vezes, a retiradas de árvores e de toda a vegetação presente no local a ser construído. Predominante no cenário urbano – independente dos contrastes sociais–, essa realidade transforma gradativamente ambientes verdes em extensas paredes de concreto. Foi exatamente na contramão dessa lógica que seu Adair escolheu construir sua humilde residência.

“Eu mesmo construí esse canto onde criei meus filhos. Como não queria cortar a pitangueira, tive que adaptar toda a frente da casa e, apesar de ela sujar bastante o teto e dificultar a entrada da garagem, eu troco as telhas e tomo mais cuidado com o carro, mas não tiro ela, que já faz parte da história da nossa família” reforça o pedreiro. “Essa árvore acompanhou a minha vida ao lado da minha esposa, depois com os filhos e agora com os netinhos. Ou seja, são várias gerações que ela está sempre presente.”

No Bela Vista, as condições de moradia e necessidades básicas são um pouco mais complexas, assim como acontece em grande parte dos bairros mais carentes em qualquer lugar do Brasil. A dona de casa Maria Lenira Sarmento, 58, revela que, mesmo diante das dificuldades presentes na comunidade, a ideia de respeitar a natureza e viver em harmonia com o ambiente natural faz parte dos princípios norteadores dela e de sua família.

“A gente não tem muita coisa, mas o pouco que temos, conquistamos com muito sacrifício e dignidade. Por isso, tudo que possuímos representa muito para nós, assim como as plantas e arvores frutíferas que cultivamos no nosso terreno ”, salienta Lenira, esposa do seu Adair. “Temos uma relação muito forte com a natureza”, completa.

Amor para além da pitangueira
O carinho da família Sarmento não se restringe somente à pitangueira e aos passarinhos que cantam nela. No pequeno terreno no Bela Vista, também há espaço para diferentes tipos de árvores frutíferas, hortaliças, temperos e chás.

“Temos, no fundo do quintal, o nosso canteiro de onde tiramos quase tudo que precisamos, além das frutas, é claro”, destaca Maria Lenira.“Temos jabuticabeira, bergamoteira e bananeira, mas é a amoreira que as crianças gostam mais, geralmente comem com um pouco de açúcar, e, quando adoecem, é da horta que eu tiro o chá que elas precisam” acrescenta a dona de casa.

Sem planos para cortar a árvore
Apesar de residir no morro Bela Vista há quase 30 anos, de acordo com seu José Adair da Silva Sarmento, a pitangueira que ele e a família cuidam possui mais de 50 anos. “Eu não tenho planos de cortar essa árvore”, enfatiza seu Adair. “Quando eu morrer, espero que os filhos e netos cuidem dela por mim para que ela possa continuar dando frutos”, completa o pedreiro, enquanto olha para um dos filhos.

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