VIVÊNCIA de fuga a cavalo durante a cheia marca espetáculo
Nesta sexta-feira, 30, e sábado, 31, a ExpoInter 2024 será palco de um espetáculo onde a força e a resiliência do povo gaúcho, personificadas pelo domador Paulo Augusto Petry e seus cavalos, ganharão vida em uma apresentação artística emocionante. Encomendado pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), o espetáculo não só celebrará a robustez do cavalo crioulo, mas também contará uma história de sobrevivência e superação diante daa catástrofe que devastou partes do Rio Grande do Sul em maio deste ano.
Uma experiência traumática vivenciada por Guto Petry e sua família se transformou na base do espetáculo que já foi apresentado na abertura do Freio de Ouro, uma das principais competições da raça crioula. Inicialmente, o espetáculo deveria focar apenas na adaptação do cavalo crioulo aos diferentes biomas brasileiros. No entanto, após as enchentes de maio, o tema foi ampliado para incluir a história de resiliência do povo gaúcho.
Escrito por Petry em uma única noite, o roteiro do espetáculo mistura elementos de sua própria história com a celebração da raça crioula. A narrativa destaca a adaptação do cavalo crioulo a ambientes diversos, como a Caatinga, o Cerrado, o Pantanal, a Mata Atlântica e o Pampa. “Essa raça é um símbolo de resistência, assim como o povo gaúcho, que tem se reerguido após cada adversidade”, afirma.
O resgate improvável e a solidariedade
Paulo Augusto Petry e sua família foram surpreendidos pela enchente devastadora que inundou sua propriedade, em Capela de Santana. O que começou como uma noite comum, com a água ainda distante dos campos, rapidamente se transformou em um pesadelo quando, ao amanhecer, eles se depararam com a água já batendo na porteira. Com as estradas submersas e sem possibilidade de saída por meios convencionais, Petry teve que confiar nos cavalos crioulos que ele treinava.
“Foi uma epopeia”, relembra Guto. Colocando sua esposa Daiane, grávida de cinco meses, e sua filha, de apenas um ano e meio sobre um dos cavalos, ele liderou a fuga por dentro das águas, montado em outro cavalo. “A situação era crítica e não tínhamos outra escolha a não ser confiar na coragem e resistência dos nossos cavalos para nos salvar”, conta.
Petry enfatiza que a escolha de cavalos crioulos não foi por acaso. Conhecidos por sua rusticidade e bravura, esses animais foram moldados ao longo de 400 anos de seleção natural em ambientes desafiadores, como o deserto da Patagônia e os Pampas sul-americanos. Essa herança genética fez toda a diferença durante a fuga. “O cavalo crioulo é valente, tem sangue quente. Tem uma força inata para enfrentar adversidades”, explica.
Em meio à fuga, ao atravessar a correnteza, Petry avistou um cachorro preso em uma cerca, lutando para não ser levado pela água. Montado em seu cavalo crioulo Dom, Petry retornou contra a correnteza para salvar o animal, reforçando ainda mais o vínculo de confiança e lealdade que ele estabeleceu com seus cavalos através de uma prática de doma respeitosa e coerente.
A enchente causou grandes danos à propriedade de Petry, submergindo sua casa e galpão e destruindo todos os móveis e bens materiais da família. Apesar das perdas, ele não se deixou abater. Através de uma campanha de solidariedade mobilizada pelas redes sociais, Petry conseguiu arrecadar quase R$ 40 mil, que foram utilizados para comprar móveis para as famílias afetadas da região de Paquete, onde tem sua moradia. “Foi uma corrente de solidariedade impressionante. Conseguimos ajudar cerca de 50 famílias, distribuindo móveis e outros itens essenciais”, relata.