Surpreendidos. Todos relatam que informações lhe deixaram tranquilos
Ontem iniciou a limpeza da vias e passeios públicos, e a Secretaria de Educação e Cultura de Montenegro realizou levantamento dos estragos em escolas. Em quatro ocorreram danos no telhado e infiltrações. As maiores dificuldades são na Escola Infantil Tio Riba, do bairro Ferroviário, que foi invadida pela água.
Pelas ruas, equipes recolhiam centenas de móveis destruídos que cidadãos descartaram. Um flagelo sentido por Marcos Cabral Silva, 46 anos, surpreendido pela água dentro de sua casa, na esquina entre Menino Deus e Olavo Bilac, Ferroviário. A filha Amanda, 29, estava no trabalho, e sozinho com a esposa Daiane, que é cadeirante, conseguiu salvar apenas fogão e geladeira. “Era para ser de pequeno ou médio porte, no fim foi a maior de todos os tempos, que pegou todo mundo de surpresa”, afirmou. Silva está entre aqueles aponta falha das autoridades. “Se tivesse sido anunciado pelo menos às 6 ou 7 horas da tarde, teria dado tempo para levantar alguns móveis e programado para tirar minha esposa”.
Família levou mobília para área de enchente
O caso de Odilson Soares, 45, é ainda mais desolador. Ela alugou uma casa na rua Osvaldo Aranha há cerca de dois meses, enquanto reforma a sua própria, fora da área de enchente. Na moradia temporária estava tudo o que Odilson, a esposa e os dois filhos, de seis e 11 anos, têm. “É uma pena, porque estávamos muito felizes com a casa nova”, lamenta. Ele diz que a situação de pavor foi diferente de tudo que já passou. “As crianças em cima da cama enquanto a gente levantava os móveis e via a água entrar tão rapidamente”, descreve.
Morador veio a pé para salvar algo
Edson Renato Atkinson, 64, estava em Alfama quando foi avisado que a enchente entraria em sua casa, na rua Osvaldo Aranha. Sem recursos financeiros, o homem conta que se locomoveu a pé até Montenegro. Assustado e correndo, demorou apenas 30 minutos para chegar, e ainda salvou algumas coisas.
Ele afirma que em 50 anos morando no local, nunca viu uma enchente desta proporção. “Quando eu cheguei a água estava entrando no portão. O carro do meu irmão que estava aqui a gente ergueu com quatro macacos, então conseguimos salvar”, conta. Segundo Edson, a proporção da enchente foi mal informada.
Neuza se baseou pela previsão oficiais
Em outro ponto do Ferroviário, Neuza Terezinha da Costa, 60, aproveitava o sol para limpar e contabilizar os prejuízos. “A gente mora há 42 anos aqui (rua Próspero Mottin) e nunca tínhamos perdido nada, porque sempre cuidamos. Mas dessa vez foi diferente”. Ela também foi surpreendida na madrugada de sábado, 17, com água entrando em casa.
“A gente vai pela previsão… Dessa vez falaram que não iria dar água, que iria ser uma enchente de pequena a média, então não chegamos a erguer nada”, reclama. Os prejuízos só não foram maiores porque a moradora conseguiu levantar parte dos móveis. “Teve dois armários que eu não tinha como levantar, esses eu perdi”, diz.
Dois automóveis perdidos para as águas
No bairro Industrial os prejuízos também foram muito grandes. Morador da Avenida Ivan Jacob Zimmer, Carlos Ferreira, 30 anos, é outro impressionado com a força da enchente. “Eu moro aqui há 30 anos, é a primeira vez que eu vejo a água chegar as casas mais altas. Na minha, deu mais de um metro”, comenta.
Além de perder praticamente todos os móveis, Ferreira teve dois carros invadidos pela água. “Eu deixei os carros na casa de uma vizinha, que é um pouco mais alta e nunca tinha entrado água. Não deu para salvar!”, relata. Ele também se admira da velocidade. “Às 22 horas a gente veio na rua e a água estava na esquina, quando foi 23h15min já estava entrando no pátio. Quando começamos a levantar as coisas, estava entrando em casa”, conta o cidadão, que espera receber ajuda.
Brochier registrou maiores danos no Centro
Ainda na noite de quinta-feira, 15, as águas do arroio Brochier começaram a subir até que saíram do leito, invadindo ruas do Centro e causando, mais uma vez, a destruição da praça de Linha Pinheiro Machado, no interior. Comércios e residências foram atingidos, causando prejuízos e deixando pessoas ilhadas ou forçando a sua saída. O alto nível das águas na área central da cidade surpreendeu a muitos.
Há mais de uma década com um comércio na rua Irmãos Brochier, o baerbeiro Marcelo Pereira Andrade estimou que a água havia chegado a 50 centímetros dentro do seu comércio. “A gente se preparou e levantou muitas coisas, mas ela (cheia) veio tão alta que pegou todo mundo de surpresa”, afirmou. Segundo ele, muitos comerciantes passaram a noite de quinta-feira, 15, e a madrugada de sexta-feira, 16, acordados para ficar de olho no avanço das águas.
A coordenadora da Defesa Civil de Brochier, Priscila Kleber Viacava, destacou que após o meio-dia de sexta-feira, dia 16, o arroio já havia baixado. Segundo Priscila, a região atingida no Centro possui poucas residências, sendo a maioria das construções prédios comerciais. “Das residências atingidas, poucas famílias saíram de casa no momento da enchente e a maioria retornou para casa na sexta-feira de tarde”, ressaltou. Na manhã de segunda-feira, dia 19, a Defesa Civil, junto com outros órgãos do Município, realizava visitas aos atingidos para levantamento de dados.
Houve, ainda, obstrução de algumas estradas do interior por conta da queda de árvores ou deslizamentos, bem como pelas águas de córregos. Também foi registrada a falta de energia elétrica em diversos pontos do Município. Nessa segunda-feira, 19, foi assinado Decreto de Emergência.
Estradas ficaram bloqueadas em São José do Sul
Em São José do Sul, muitas estradas ficaram bloqueadas por conta dos danos causados pelo ciclone extratropical. Os bloqueios foram causados tanto por deslizamentos quanto por enchentes. As situações mais graves ocorreram na estrada Linha Lerner e no Morro IBGE, onde o asfalto cedeu e tornou a passagem pelo local perigosa.
De acordo com a prefeita Juliane Maria Bender, serão chamados técnicos e empresas para ver qual a solução para os problemas nesses dois locais. Os danos em estradas municipais foi tamanho que ainda na segunda-feira equipes trabalhavam na limpeza de vias.
A chefe do Executivo ressaltou que mais de 30 famílias ficaram ilhadas por conta da força das águas. “E tivemos quatro famílias desabrigadas, que foram alojadas na casa de parentes”, destacou. Ela salientou, ainda, que não houve falta de luz no Município. “Somente três moradores ficaram sem energia elétrica devido a um curto”, explicou.
“Nosso maior prejuízo está nas estradas municipais e nos dois trechos de asfalto que estão comprometidos, fora as quatro casas onde se perdeu tudo”, enfatizou Juliane. Na segunda-feira, dia 19, um decreto de situação de emergência estava em elaboração.
Maratá: Colégio Paulo Chaves sofreu grandes danos
Em Maratá, chamou à atenção os danos sofridos pelo Colégio Estadual Engenheiro Paulo Chaves. Todos os cômodos da instituição de ensino foram invadidos pelas águas do arroio Maratá, deixando um rastro de lama, destruição e muitos prejuízos. Os computadores do laboratório de informática, por exemplo, ficaram completamente abaixo de água.
Por conta dos extensos danos, o colégio não terá aulas presenciais durante esta semana. Os estudos ocorrerão de maneira remota. A diretora Mirtes Maria Sost, salientou que no sábado, 17, foi realizado um mutirão de limpeza. A ação de limpeza seguirá durante os demais dias da semana. “Todas as salas foram atingidas. Muitos documentos foram perdidos”, lamentou a diretora. “Conseguimos salvar apenas televisores e Chromebooks. Vamos receber um engenheiro da 2ª Coordenadoria Regional de Educação e já acionamos o seguro. Perdemos a maior parte das coisas na escola”, afirmou.
Além disso, levantamento da Prefeitura de Maratá apontou para 80 famílias e 30 estabelecimentos comerciais atingidos. Por conta da extensão dos danos em todo o Município, a prefeita Gisele Adriana Schenider assinou, ainda na sexta-feira, 16, decreto de situação de emergência por conta da enxurrada. Acessos a propriedades rurais foram comprometidos, pontes, trecho da ciclovia e calçadas. Foram registrados deslizamentos de terra, queda de árvores, interrupção do abastecimento de energia elétrica, água e internet.
A prefeita destacou que o Município está realizando uma campanha para arrecadar itens como colchões, cobertores e utensílios domésticos. Interessados em ajudar podem contatar o Centro de Referência em Assistência Social (Cras) pelo telefone (51) 9 9654-7939. As famílias atingidas pela enchente que precisam de roupas poderão retirar no turno da tarde desta terça-feira, dia 20, e desta quarta-feira, dia 21, na sala externa da Igreja Adventista, localizada na entrada de Vila Nova.
Gisele salientou, ainda, que a energia já havia sido restabelecida na cidade. No entanto, na manhã de segunda-feira, dia 19, a água potável ainda não havia chego em todas as casas novamente. “Tivemos que trocar uma bomba, que queimou, e durante a manhã (desta segunda-feira) acredito que todas as famílias estarão recebendo água”, esclareceu. Segundo ela, a situação atingiu mais especificamente a localidade de Pinhal.
Cheia do Rio Caí afetou Pareci
Em Pareci Novo, o maior prejuízo foi causado pela cheia do Rio Caí. Diversas áreas do Município ficaram abaixo de água. Na área central, além de residências e comércios, o estádio municipal e a Praça dos Imigrantes foram inundados. A ERS-124, na altura de Matiel, ficou interditada do fim da manhã de sexta-feira, dia 16, até o meio-dia de domingo, dia 18.
De acordo com o vice-prefeito e coordenador da Defesa Civil em Pareci Novo, Fábio Schneider, a cheia atingiu mais o Centro da cidade do que outras regiões, algo que não era comum. Ele destacou que a enchente ficou apenas meio metro abaixo de cheias históricas, como a de 2009. Por conta do alto nível da água, uma família foi alojada no Ginásio Municipal e outras se abrigaram em casas de familiares e amigos.
Além disso, os fortes ventos e chuvas excessivas causados pelo ciclone extratropical geraram diversos problemas no território de Pareci Novo, como queda de árvores e barreiras, atingido a rede elétrica. A maior parte dessas situações já havia sido resolvida até o meio-dia de segunda-feira, dia 19.
Ainda na sexta-feira, com o aviso de que haveria enchente, a prefeitura começou a distribuir caixas para os moradores da áreas alagadiças erguerem móveis e eletrodomésticos. Nessa segunda-feira, 19, as caixas foram recolhidas a começaram a ser distribuídos kits de limpeza aos moradores.
*Colaboraram: Reinaldo Ew, Andressa Kaliberda, André Rafael Herzer, Mateus Friedrich, Clarice Almeida, Isadora Ferreira, Wellington Marques e Guilherme Baptista.