Em 24 anos, Bombeiros Voluntários já atenderam 28mil ocorrências

Amor ao próximo. Corporação com 44 pessoas dedica a vida a cuidar dos outros

Os Bombeiros Voluntários de São Sebastião do Caí já atenderam 28 mil ocorrências ao longo de sua história. A Corporação completa 24 anos no próximo dia 1º de maio e conta com 44 bombeiros voluntários, sendo 15 mulheres e 29 homens. Além disso, iniciou no dia 30 de março, um curso de formação com 12 alunos.

Ao todo, a instituição possui 15 unidades operacionais, entre elas, três caminhões de combate a incêndios, quatro ambulâncias de resgate e uma embarcação aquática. Os socorristas são capacitados para atender todo tipo de fato, como acidentes de trânsito e incêndios de grandes proporções, salvamento em altura, emergências químicas, entre outros. A instituição também tem equipe de mergulho e resgate aquático.

Até 2010, como não havia Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) no município, todo socorro era prestado pelos voluntários. Hoje em dia, eles fazem em média 40 atendimentos por mês.

Entidade conquistou, ao longo dos anos, uma estrutura completa com 15 unidades móveis disponíveis, e voluntários capacitados para todo tipo de salvamento

O comandante Operacional dos Bombeiros Voluntários de São Sebastião do Caí, Anderson Jociel da Rosa, 30 anos, tem uma história com a Corporação desde menino. “Iniciei no projeto bombeiro mirim, lançado em 2001 e vim mesmo pela curiosidade, para saber como era a atividade bombeiril. A gente sabe que hoje é uma das profissões mais admiradas por crianças. Acabei gostando, ficando e hoje já são quase 18 anos de atividade”, comenta, orgulhoso.

Muita gente tem o mesmo sonho de Anderson. Após a publicação do último edital para o curso de formação de bombeiros voluntários, foram 80 inscrições. “O curso é dividido em módulos que vão desde o básico até o avançado e também especialidades. O curso é todo ministrado na instituição por profissionais amplamente qualificados, muitos deles com experiência internacional, o que garante a excelência do treinamento e, consequentemente, do atendimento prestado à comunidade”, frisa. A capacitação ocorre aos finais de semana e é gratuita.

O comandante ressalta ter vivido inúmeros momentos tensos, nos quais a adrenalina subiu nas alturas. Contudo, alguns atendimentos específicos ficam mais latentes na memória. “Geralmente, atendimentos de acidentes de trânsito que envolvem vítimas presas às ferragens são os que mais marcam, pois exigem bastante de nós técnica e psicologicamente. Com certeza, quando a gente consegue salvar uma vida, é algo que não existe valor no mundo que possa pagar”.

Anderson sente orgulho da estrutura conquistada. A instituição tem convênio com a Prefeitura do Caí com a Empresa Gaúcha de Rodoviais (EGR), somando cerca de R$ 20.000,00 mensais. Mas grande parte dos valores para manter as atividades vem através da parceria com a comunidade, como pela realização de eventos beneficentes. Empresas também são parceiras, exemplo disso é o fato de cada dia da semana um restaurante diferente doar o almoço para os voluntários e, todas as noites, é o Restaurante Di Variane que doa há 24 anos.

Além das unidades operacionais, o Voluntários têm uma ampla sede localizada na Avenida Osvaldo Aranha, 1020, Vila Rica. Com 600 m² de área construída, o local abriga refeitório, alojamento masculino e feminino. “A nossa estrutura é considerada uma das melhores do Vale do Caí, até mesmo do Estado, principalmente se fizermos um comparativo com o tamanho da cidade. Atendemos uma cidade com cerca de 24 mil habitantes com 15 unidades. A nossa Corporação não perde para nenhuma outra, seja voluntária ou militar.”

Eduardo Jair Fritsch, na fase final do curso de formação, decidiu entrar para os Bombeiros Voluntários após precisar de socorro especializado e não ter conseguido. Ele era motorista de caminhão e sofreu um acidente no município de Soledade. “Um dia eu precisei de ajuda e não tive, então resolvi entrar para ajudar ao próximo”, frisa. “Não me machuquei, mas tive dificuldades de sair da cabine do caminhão, então outros motoristas pararam e me ajudaram”, completa.

Ele está empolgado com a atividade desenvolvida. “Tudo é bacana, incentivador, sempre uma coisa a mais, um aprendizado. Estou sempre aprendendo, sempre na luta”, afirma.

Pai e filho socorridos elogiam trabalho
A madrugada de 3 de abril de 2015 estará para sempre na memória de Jackson Flores, 25 anos. Ele caminhava com cerca de oito amigos pelo acostamento de uma estrada no limite entre o Caí e Harmonia quando foi atingido por um veículo em alta velocidade. Com o impacto, ele foi arremessado a uma distância de mais de oito metros e caiu em um barranco.

Voluntário Eduardo Jair Fritsch

Em estado de semiconsciência, com fratura exposta na perna direita e duas na esquerda, ele recebeu os primeiros socorros dos Bombeiros Voluntários do Caí, até a chegada do Samu, que o transferiu para o Hospital Montenegro.

Cerca de duas semanas depois, infelizmente, devido a uma infecção, ele precisou ter a perna direita amputada acima do joelho.
O carro também atingiu outras duas pessoas, mas sem gravidade, apenas um dos retrovisores atingiu seus braços. O motorista fugiu sem prestar socorro.

Comandante Anderson Jociel da Rosa

O pai dele, José Osmar Flores, já falecido, também tem uma história marcante com quem dedica a vida a salvar os outros. Hipertenso, ele era motorista da empresa de transporte Caiense e, quando se deslocava até o trabalho de carro, se sentiu mal, perdeu o controle em uma estrada de chão e colidiu contra um barranco. “Eu me lembro que meu pai fez muitos elogios, que o atendimento foi muito bom, tranquilizaram bem ele, fizeram a remoção para o hospital. E para mim foi a mesma coisa”, comenta o lojista.

Voluntário atesta a evolução
O corretor de seguros Cleber Schäffer, 39 anos, ingressou nos Bombeiros Voluntários aos 17. Na época, a sede ficava em um galpão no Parque Centenário de São Sebastião do Caí. Quando o espaço foi desativado, passou para um local atrás do ginásio. “Tivemos bastante dificuldade no começo da Corporação. Nas demandas e principalmente nas questões de estruturação da entidade. Tínhamos precariedade do espaço que foi destinado na época, era um galpão velho, de viatura, de material para atendimento. A partir dali, fomos tentando construir, melhorar”, lembra.

Schäffer credita a evolução da instituição ao fato do respeito adquirido perante a comunidade e ao poder público. “Talvez lá atrás não se tivesse a ideia do tamanho da importância de ter os bombeiros dentro do município”, ressalta.

Ele também ressalta o amor e dedicação dos colegas de farda. Não raro, eles botaram a mão no bolso para comprar equipamentos ou produtos de limpeza, por exemplo. “A Corporação teve uma época falta de efetivo, mas os bombeiros se revezavam mais para garantir o atendimento”, conta.
Em um episódio, Schäffer estava sozinho no plantão quando ocorreu um incêndio em residência. Do caminhão, pensando em como prestar o atendimento, por rádio, falou com companheiros. Ao chegar ao local, inúmeros já estavam lá para ajudar.

O história dele com os bombeiros voluntários começou com um episódio pessoal. “Teve um incêndio na loja da minha mãe há muitos anos atrás e eles atenderam. A gente já tinha bastante amigo em comum ali tirando plantão e, a partir daquilo, criou uma admiração maior ainda pela entidade e acabei me colocando a disposição deles”, revela.

Ações sociais
Além de todo tipo de atendimento, os Bombeiros Voluntários também organizam uma série de ações sociais. Visitas e atividades em asilos, em escolas com o Coelho da Páscoa, desfile da Natal com caminhão iluminado e distribuição de balas, desfile no Dia das Crianças e chegada do Papai Noel na Praça Municipal estão entre as atividades. A instituição conta com um grupo Amigos dos Bombeiros Voluntários (GABV), são pessoas da comunidade que auxiliam nesses eventos.

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