Tenho um amigo com ótimo currículo, inclusive acadêmico, que ocupa cargo de confiança desde o início do Governo de Eduardo Leite. Logo que assumiu, integrou uma missão de estudos e observações a três países: Suécia, Israel e Estônia. É fácil entender a opção pelos dois primeiros. Mas perguntei a ele, e talvez também vocês perguntem: por que a Estônia, tão pequena e desconhecida da maioria de nós? Com apenas 1.325.000 habitantes, só em 1991 tornou-se independente da extinta União Soviética. E a resposta é surpreendente: trata-se do país mais digital do mundo. Mais de 2.500 serviços do Governo, ou 99 %, são acessados de forma digital. Apenas 03 necessitam da presença física dos cidadãos: transferência de imóvel, casamentos e divórcios.
Logo uma segunda pergunta me vem à cabeça. Como foi o processo de capacitação da população, especialmente dos idosos? E como fazer isto num país do tamanho, da diversidade e das limitações culturais e educacionais como o Brasil?
Peço licença para mais uma vez compartilhar experiências ou impressões pessoais do passado. Quando cursava o Ensino Médio, resolvi fazer um Curso de Datilografia. Era um enorme diferencial para qualquer emprego ou trabalho. Ao final do Curso, recebi um vistoso Diploma, que guardei por muitos anos. Foi minha primeira experiência em tecnologia, e que por muito tempo me foi útil.
Mas chegou um momento em que as “máquinas de escrever” foram desbancadas. Perderam seu charme e sua utilidade. Surgiram o computador e a internet. E um novo mundo se abriu. Seu desenvolvimento e disseminação foram muito rápidos. Não só na Estônia. Mas acredito que diferente de lá, entre nós, os de mais idade ainda estão pagando um preço muito alto. Menos pela culpa de serem mais lentos no aprendizado, mas muito mais por abandono e falta de políticas públicas para inseri-los cada vez mais, no mundo digital. Eis o motivo desta crônica. Quem tem um neto por perto ainda se defende, mas e quem não tem? Onde buscar uma capacitação? Ou ter um local em que possam sanar dúvidas práticas do seu cotidiano, no uso do computador ou do celular. Para usar melhor um recurso tão fundamental, mas, ao mesmo tempo, tão cheio de armadilhas. Que desperta tanto medo e insegurança em relação a fraudes e golpes digitais. Isto faz com que muitas vezes os mais idosos fujam do computador, como o diabo da Cruz. Isto é muito ruim.
Penso ser este um grande desafio: Governos Estadual e Municipais implementarem um maciço Programa de Capacitação Digital para Idosos. É urgente. Com aulas presenciais, ou cursos por internet ou TV, para uma orientação sistematizada e didática. Afinal, ter sido bom em datilografia no passado, já quase não serve para mais nada. Nem mesmo sei onde o meu vistoso Diploma de Datilografia foi parar. Para que pudesse ao menos enfeitar uma parede. Com a palavra, as autoridades competentes.
Grande abraço.