ENTENDA o processo de ciclo da água até chegar nas residências
A enchente histórica que atingiu Montenegro em maio deste ano evidenciou a necessidade de alternativas para o fornecimento de energia elétrica em períodos de cheias, para que a Corsan possa cumprir seu papel de captar, tratar e distribuir água potável à população.
Responsáveis por esse processo afirmam que medidas já estão sendo analisadas e deverão ser colocadas em prática, embora, ainda não haja data definida para isso.
Iuri Pacico, gestor regional da Corsan nos Vales do Caí e Taquari, destaca que o evento de 2024 foi um fato atípico, com o rio atingindo níveis que afetaram diretamente o sistema de captação de água. Segundo Pacico, em enchentes menos severas, a operação não foi prejudicada pelos alagamentos, mas pela necessidade de desligar a energia elétrica, o que interrompia o bombeamento dos motores. “Teoricamente, o problema não era nosso. Nessa última enchente, foi uma catástrofe, acabou mesmo alagando os nossos recalques”, explica.
Iuri, destaca que a enchente recente foi um evento histórico, mencionando que o projeto original das casas de bombas, feito na década de 1970, não previa elevações tão altas do nível do rio. Pacico explica que, na época, a infraestrutura era adequada para as condições então existentes, mas a situação atual exige revisões e adaptações.
Visando encontrar alternativas para a questão, a Corsan contratou a empresa Engevix Engenharia e Projetos para elaborar um projeto de concepção que traga soluções para a nova realidade das enchentes na região. Embora o estudo ainda esteja sendo elaborado, Iuri acredita que entre as possíveis alternativas deva estar a instalação de geradores e a criação de uma linha independente de energia elétrica, em parceria com a RGE, para evitar interrupções no fornecimento. O objetivo é garantir que, mesmo durante as cheias, a população tenha acesso à água potável.
O gestor diz que encontrar uma solução significa evitar os prejuízos enfrentados pela empresa e pela população. Em relação aos pontos de captação de água serem localizados próximos do rio, ele ressalta que não há outra opção para o posicionamento do recalque, que deve permanecer próximo do manancial de onde a água é retirada. Segundo ele, o mesmo ocorre em praticamente todas as cidades, exceto onde o sistema de abastecimento é feito através de poços artesianos.
“Atitudes vão ser tomadas. Não posso afirmar em quanto tempo isso vai ser implementado, mas a gente sabe que tem que ser feito porque é um prejuízo imenso para a empresa. Não só o fato das pessoas ficarem sem água, mas é todo um transtorno. Fizemos uma força-tarefa gigante para conseguir reestabelecer o abastecimento no Rio Grande do Sul, a empresa não quer passar por isso novamente, contratamos essa empresa para tentar mitigar problemas”, concluiu Iuri.
Processo para retomada do fornecimento de água é complexo
Iuri Pacico e Daiana da Silva Moreira, responsável química da unidade da Corsan em Montenegro, explicaram por que o abastecimento de água pode demorar a ser reestabelecido à população, durante períodos de cheias.
Ambos explicaram o processo prático: após a enchente baixar, o local que comporta os equipamentos que puxam a água precisa ser limpo. Os quadros energizados e os componentes elétricos cobertos de lodo também passam por limpeza e revisão de seus funcionamentos. As condições dos motores são verificadas, esses são limpos e secos. Se necessário, ainda podem passar por reparos ou substituições. As bombas reservas, que geralmente são utilizadas, também ficam submersas e precisaram ser higienizadas.
Daiane conta que, o primeiro passo dado, em caso de enchente, é esvaziar o recalque. Chegar ao local para realizar o procedimento exige uso de barco, devido à correnteza. Técnicos analisam a situação, pegam os materiais necessários e iniciam o processo de esgotamento. Só então é possível verificar os motores, abrir, secar, trocar rolamentos, reinstalar e secar os quadros elétricos. Somente após esses procedimentos, começa-se a bombear água para tratamento, encher os reservatórios e iniciar a distribuição, o que inclui a retirada de todo o ar da rede.
O retorno do abastecimento é gradativo. O processo de produção e distribuição de água é mais demorado, pois é necessário preencher gradualmente o encanamento até chegar às residências. Durante esse período, o uso da água por alguns moradores pode atrasar o abastecimento em outras áreas. Pacico destaca que, em situações de caos, é comum que muitas pessoas utilizem água para lavar carros e calçadas, sem considerar que outras podem estar sem abastecimento. Além disso, o sistema por gravidade pode criar bolsões de ar na rede, o que, junto com vazamentos e transientes hidráulicos, dificulta o processo de repressurização e distribuição de água.
Iuri lembra que a situação de falta de água, ocasionada pelas enchentes, não atingiu exclusivamente Montenegro: São Sebastião do Caí, Taquari, Lajeado e Bom Retiro, estão entre as diversas cidades afetadas no Estado.
Funcionamento dos recalques e tratamento de água em Montenegro
Montenegro possui dois recalques para o sistema de abastecimento de água. O primeiro está localizado na rua Apolinário de Moraes e envia água para a Estação de Tratamento de Água (ETA) número um, situada na mesma via. A estação tem capacidade de produção de 60 litros de água por segundo. A segunda, e responsável pela captação e tratamento de 75% da água distribuída na cidade, está localizada na ERS-124 próxima as pontes na entrada da cidade.
Em ambas as ETAs, o processo começa com a captação de água bruta do Rio Caí, que é encaminhada para a estação de tratamento, onde passa por etapas de tratamento como coagulação, filtragem, decantação, mistura rápida, cloração e aplicação de flúor.
Processo de tratamento de água
Na Estação de Tratamento, a água captada do Rio Caí passa por um processo de purificação que inclui a adição de diversos produtos químicos, ajustados conforme as características da água bruta. Clorogás é utilizado para pré-desinfecção, carvão é empregado para remover cor, gosto e odor, e cal é adicionada para corrigir o pH e aumentar a alcalinidade.Durante a coagulação, o sulfato de alumínio é introduzido para formar flocos, que ajudam a remover impurezas.
Ao contrário de muitas empresas que padronizam o processo de acordo com a matéria-prima, a Corsan adapta o tratamento às condições da água que chega, com verificações realizadas a cada hora para ajustar o processo de purificação.
A água entra na calha parshall, onde o volume é medido e a vazão é controlada. No ponto de maior agitação, é adicionado o coagulante. A água é então dividida em dois blocos, passando por tanques onde os coágulos se formam em flocos. Após essa etapa, a água segue para a decantação.
A Corsan de Montenegro possui quatro decantadores, que são lavados mensalmente. Em seguida, a água passa por camadas de carvão, areia e brita, sendo filtrada antes de entrar na caixa de mistura, onde ocorre a desinfecção e fluoretação. A partir daí, a água é bombeada para o reservatório enterrado e distribuída para a cidade.
Durante a recente enchente, o recalque localizado junto à faixa, ficou submerso, o que levou a interrupções das operações. A outra ETA continuou a operar, mas com capacidade limitada a 25% do necessário para a cidade. Nesse período, o abastecimento foi priorizado para serviços essenciais, com registros abertos para hospitais e distribuição de água por caminhões-pipa para casas de repouso.
A Corsan utiliza tecnologia avançada para monitorar suas operações. O sistema supervisório é monitorado 24 horas pelo Centro de Operações Integradas em Porto Alegre. Caso haja uma redução no nível de algum reservatório, o centro aciona o gestor da unidade local para investigar e resolver o problema.
Como se organizar para evitar e enfrentar desabastecimento
A Corsan e a população têm um papel ativo na prevenção do desabastecimento de água. É fundamental ter reserva de emergência. A Prefeitura exige a instalação de caixas de água nas novas construções para garantir um mínimo de reserva, mas mesmo assim, muitas residências não contam com esse sistema. Embora a capacidade de uma caixa de água de 500 litros geralmente seja suficiente para uma família de quatro pessoas, em casos excepcionais, como enchentes prolongadas, essa reserva pode não atender à demanda.
A Corsan afirma que vem investido na substituição de canos antigos, especialmente em áreas críticas como a rua Apolinário de Moraes e parte da Fernando Ferrari. A utilização de materiais modernos nas adutoras principais reduz a frequência de rompimentos que podem deixar até 50% da cidade sem água. Quando ocorrem vazamentos, eles são geralmente em redes menores, afetando bairros específicos. O novo material permite um conserto mais ágil, mitigando o impacto do problema.
A colaboração entre Corsan e Prefeitura é essencial. A comunicação sobre obras, como asfaltamento de ruas, é importante para que a Corsan possa avaliar a necessidade de trocar a tubulação, evitando futuros rompimentos. Intervenções de terceiros, como a instalação de postes, podem danificar a rede de água. Frequentemente, esses danos não são reportados, resultando em sujeira na água distribuída. A Corsan pede para que a população informe vazamentos por meio do aplicativo ou WhatsApp, gerando ordens de serviço instantaneamente.
É importante que os consumidores mantenham seus cadastros atualizados e usem o aplicativo da Corsan para monitorar a situação do abastecimento de água em tempo real. Além disso, a Corsan envia mensagens SMS informando sobre interrupções de serviço. Com essas medidas, a população pode se preparar e reduzir os impactos do desabastecimento.