Neste mês de maio, Montenegro celebra seus 150 anos de emancipação política. O município está em festa, tomado por eventos artísticos e culturais que prometem deixar boas recordações na memória de seu povo, assim como ocorreu em seu centenário. O ano de 1973 não foi especial somente para os governantes da época ou para quem fez parte da comissão organizadora dos festejos. A ocasião marcou a vida de muita gente, que guarda boas recordações de um período considerado inesquecível.
“Foi o melhor ano da minha vida”, afirma Ilsene Wallauer, rainha da festa dos 100 anos de Montenegro. A afirmação de Ilsene não se dá somente pelo fato de ter sido escolhida, entre mais de 20 candidatas de vários distritos, para representar a cidade durante as comemorações do centenário. Ela participou de eventos levando o convite da festa do centenário para diversas autoridades, concedeu entrevistas e teve a oportunidade de conhecer o presidente da república na época, Emílio Garrastazu Médici.
Contudo, o ano de 73 proporcionou outras emoções à rainha. No mês de novembro, mais precisamente no dia 10, Insene foi conduzida ao altar para dizer “sim” e unir-se em matrimônio com Astor Luiz Wallauer, o companheiro que escolheu para a vida.
Enquanto Montenegro comemora seus 150 anos, Ilsene e Astor celebram 50 anos de união. Atualmente o casal reside no município de Cachoeira do Sul, mas o aniversário de Montenegro não é esquecido, pois a história desta cidade se confunde com a deles. “Nosso casamento aconteceu em um momento em que o centenário da cidade ainda era algo muito vivo na comunidade”, comenta Ilsene.
O entrosamento criado durante os festejos foi tão grande que levou a rainha da festa a convidar suas princesas para serem aias de casamento. Mara Leoni Gauer, Marília Helena Fritch, Sonia Terezinha Enick e Vera Maria Noll estiveram no altar ao lado de Ilsene.
Marcelo Petry Cardona, na época com 10 anos de idade, filho de Roberto Athayde Cardona, então prefeito, e de dona Therezinha Petry Cardona, teve papel importante na cerimônia matrimonial como pajem.
“Apesar da pouca idade na época, tenho muitas recordações”, afirma Marcelo Cardona
Para o empresário Marcelo Cardona, o centenário de Montenegro foi marcante devido à visibilidade, em esfera nacional, que deu ao Município. A visita de autoridades políticas do Rio Grande do Sul e, pela primeira vez, de um presidente da república, voltaram os holofotes para a cidade. “Foi um fato tão marcante que as pessoas até hoje lembram do centenário com muito carinho, por tudo que foi feito naquela oportunidade”, avalia Marcelo.
“Apesar de ter pouca idade na época, tenho muitas recordações”, afirma o empresário. Entre as lembranças surge o desfile de carros alegóricos, no qual Marcelo participou fantasiado de livro, representando a Biblioteca Pública Municipal. “Recordo isso como um fato tão presente porque marcou muito a minha infância”, diz ele. “Foi um momento muito próspero e de destaque que a gente sempre relembra com muita saudade e carinho, por tudo que Montenegro viveu.”
Outro momento lembrado com carinho pelo empresário é o casamento de Ilsene. “Fui aio de casamento dela”, fala, empolgado. Junto às memórias afetivas, Marcelo guarda objetos que ajudam manter vivas as recordações da época.
Passados 50 anos, Marcelo ainda tem e carrega em seu carro uma faca que ganhou de brinde nas comemorações ao centenário da cidade. “Guardo com muito carinho, ela anda sempre comigo. Tenho também o programa das atividades dos 100 anos de Montenegro, que consta toda a programação feita”, ambos com aparência tão preservada que parecem novos.
“É sempre bom quando algo mobiliza a comunidade e desperta o sentimento de pertencimento. Espero que os 150 anos de Montenegro tragam de volta o espírito de comunidade que com o tempo foi se perdendo”, acrescenta Marcelo.
“Era época da Ditadura Militar, mas a cidade comemorou seus 100 anos parecendo não ter reflexos”
Therezinha Petry Cardona era primeira-dama de Montenegro quando o município completou seu centenário. “Os 100 anos foram um período muito marcante para Montenegro, especialmente para mim, por ser esposa do prefeito da época. Também pela movimentação que trouxe à nossa cidade”, explica dona Therezinha. “Era época da Ditadura Militar, no entanto, a cidade comemorou seus 100 anos parecendo que não tinha reflexos, mas a gente sabe que tinha. Contudo, naquela euforia toda, não parecia”.
O Parque Centenário, construído como presente de aniversário para o Município, recebeu grande parte das atividades alusivas aos 100 anos. A inauguração do local está entre as lembranças da viúva do ex-prefeito Roberto Athayde Cardona. “Lembro quando chegamos ao Centenário, Cardona e eu. Todas as crianças estavam com bandeirinhas, acenando e gritando. Foi marcante para mim”, recorda.
Entusiasta das artes, Therezinha destaca entre as atrações da época a apresentação da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. “Foram várias atrações, vieram artistas nacionais para a festa de coroação da rainha. Foi uma vibração geral.”
Após o evento de inauguração do Parque Centenário, a primeira-dama e o prefeito participaram de um almoço com o presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, o governador do Estado Euclides Triches, suas esposas, e demais políticos da época. A recepção ocorreu no restaurante do Clube Riograndense, com toda a pompa que a ocasião pedia.
“Recordo que havia tortas frias com desenho da bandeira nacional. A assessoria do presidente da república informou que não poderia registrar (fotografar) símbolos patriotas”, conta Therezinha. A participação de João Figueiredo – que mais tarde se tornou o último presidente da Ditadura Militar – também se faz presente nas recordações sobre o almoço.
A ex-primeira-dama conta que logo após a refeição foram servidas frutas típicas da região. Entre elas bergamotas, símbolo de Montenegro. A forma de agir do então chefe do gabinete militar do presidente chamou a atenção de dona Therezinha. “Eu estava sentada ao lado do Figueiredo. Todos estavam usando garfo e faca para comer as frutas. Ele disse para mim que não ia usar os talheres. Começou a descascar nas mãos e comeu, foi muito interessante”.
Depois do almoço, o presidente Médici foi até a sacada do Clube Riograndese para cumprimentar as pessoas que o aguardavam em frente ao local. “Foram situações bem marcantes para Montenegro. Passei a gostar ainda mais da cidade onde nasci. Me senti honrada em poder viver este momento”, pontua dona Therezinha.
Planejamento e participação popular
A comissão executiva dos festejos do centenário de Montenegro teve como presidente de honra Adolfo Schüller Netto. Francisco Luiz Aigner foi o presidente, Carlos Gustavo Jahn Filho atuou como vice-presidente da festa e João Carlos Mottin foi diretor financeiro. Esses e outros importantes nomes da história de Montenegro dedicaram-se ao planejamento da festa, considerada como uma das maiores do município.
A montenegrina Celiza Metz acompanhou os preparativos da festa por outro ângulo. Amiga de Francisco Aigner, a pianista presenciou a “correria” dos bastidores. “Francisco era padrinho do meu filho. Estávamos sempre na casa dele e ouvíamos, nos bastidores, todo o planejamento”, ratifica Celiza.
Além da dedicação da equipe promotora dos festejos, chamava à atenção o envolvimento da comunidade. “Toda a cidade se mobilizou. As escolas estavam motivadas, fizeram trabalhos sobre Montenegro, tivemos desfile das soberanas da festa no Centro. Foi maravilhoso!”, diz Celiza.
A artista acompanhou outros momentos importantes da história da cidade. Filha do ex-prefeito Hélio Alves de Oliveira, no ano de 1957, ela viu o pai ir a Brasília, em nome de Montenegro, receber pela primeira vez, das mãos do presidente Juscelino Kubitschek, o título de cidade mais progressista do País. “Montenegro festejou muito. Por dois anos consecutivos Montenegro recebeu esse título”, conta.
Celiza viaja com frequência para os Estados Unidos e países da Europa, mas afirma que nunca pensou em deixar Montenegro para viver fora. “Não troco Montenegro por nenhum lugar. Para mim, Montenegro é perfeito. Temos belezas naturais como o Morro São João e o Rio Caí. A cidade tem tudo que gosto. Meus pais nasceram aqui, minhas raízes, frutos e história foram feitos em Montenegro”, conclui Celiza.