Negócio. Mel de pureza certificada é um produto da Agricultura Familiar
O momento é de crescimento no setor de criação de abelhas para produção de mel, com a apicultura sendo profissionalizada em padrões de excelência que ultrapassam o antigo “vidro de nescafé”. A organização deste setor é visível no Vale do Caí, e em Montenegro o mais novo expoente é Roberto Carlos Machado, de 55 anos, que ingressou no ramo há um ano e meio, e já conquistou prêmio nacional.
Após uma vida dedicada à indústria, em especial a cervejaria Ambev, há 4 anos passou a trabalhar em lote de terra da família na localidade de Potreiro Grande. Criar abelhas se tornou espécie de hobby, haja vista facilidade que tinha para pegar na natureza enxames de ‘abelhas africanizadas’, que são as que têm ferrão (APIS). “Em uma temporada aqui cheguei a pegar 20 enxames”, revela. Todavia, não tem explicação definitiva a respeito da grande presença de enxames naquela região do município.
Sua decisão era de repassar as colméias para produtores rurais que tinham consciência da importância que o inseto tem à polinização das lavouras. Mas logo Machado percebeu o
nicho comercial que tinha ao dispor, e passou a criar as abelhas. Essa decisão pediu aperfeiçoamento, especialmente para se enquadrar em regras do Ministério da Agricultura, o que conseguiu através de assistência do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), com a técnica de campo Márcia de Lima Knapp; e do Sebrae RS, com a consultora Aline Dalazen.
Hoje a família Machado alcançou excelência em termos de produtividade e qualidade, sobretudo em pureza, do mel que comercializa. Na última colheita retirou 1.400 quilos, mas com limitação total de até 2.000 kg (duas ao ano). O Apiário Amanhã possui 120 colméias: 15 na propriedade; 45 na área de preservação ambiental da Cooperativa Ecocitrus (pomares de citros sem veneno), ambos em Potreiro Grande; e 60 em fazenda de gado em Capela de Santana (apenas flores silvestres).
Cuidados e delicadeza com as colméias
Machado aprendeu, primeiramente, a ter controle da produtividade de mel. Para tanto, a primeira etapa é na pré-safra, quando as abelhas precisam ser alimentadas com massa protéica (farelo soja e amido de milho, diluído em mel até formar uma pasta). Esse processo garante uma superlotação na colméia. “Quanto mais abelha tem, mais elas produzem”, explica.
O alimento é importante no Inverno (sem florada), especialmente para a rainha, em substituição do pólen; garantindo que realize a “postura” com ovos. Inclusive, o apicultor revela mais um problema consequência do desequilíbrio da natureza no Brasil nestes meses, pois o excesso de chuva “lavou” o pólen das flores, obrigando a manter essa alimentação ainda no começo do Verão.
Apiário Amanhã está no mercado
Através do Senar o apicultor montenegrino também aprendeu a respeito de controle de processos, custos e lucros. Aprendeu ainda a importância de manter limpo o entorno das caixas para evitar predadores, como formigas, e facilitar o vôo das ‘operárias’. Outro fator é instalar as colméias perto de fonte de água natural e pura, se possível corrente. “Abelhas tomam muita água”, revela.
A etapa seguinte à retirada do mel é a extração dos favos, que devem estar maturados, fechados em, no mínimo, 90%. Um favo verde ainda tem muita água e menos açúcar. Machado usa caixas padrões, manuseadas em maquinário específico, feito em aço inoxidável e higienizadas após cada processo. O armazenamento que evita contaminação é em tambores plásticos (podem ser de metal) de 70 quilos.
Estes são mandados para envase em potes de 500 ml, processo autorizado apenas após exame laboratorial de pureza. Porém, essa etapa final é realizada na “Tchê Mel”, empresa coletiva mantida pela Associação dos Apicultores do Vale do Caí, em Bom Princípio. Dali o produto já sai com o rótulo Mel Apiário do Amanhã, marca e identidade visual criada pela família Machado, também com consultoria do Senar.
Prêmio que certifica o bom trabalho
Em dezembro, o apicultor Roberto Carlos Machado recebeu “Prêmio CNA Agro Brasil 2023” em qualidade e aprendizado. Ele é conferido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)/ Senar, em reconhecimento ao desempenho de seguimentos do agro. O trunfo do montenegrino foi alcançar uma retirada de 1.400 quilos de mel por ano, com duas colméias em Montenegro e uma em Capela de Santana. “Penso que ganhamos esse prêmio, com um ano e meio, por conta de incluirmos toda a família no processo”, avalia.
O mel Apiário Amanhã pode ser encontrado em pequenos estabelecimentos de Montenegro – mercados Didi, Luiza, Menor Preço (todos no bairro Senai), Mercado Emanuele e Planeta Ecológico (Centro). Em Pareci Novo, está sendo comercializado na Fruteira Pittem (ao lado da praça central). O contato pelo Instagram não é usado para venda e-commerce. Apesar da excelência do produto, neste momento Machado não vê vantagem na exportação, que hoje paga R$ 7,00 por quilo, ante um custo de produção de R$ 10,50.