Ansiedade: respire fundo e compreenda os sinais

Todo mundo já teve a sensação de que algo ruim pode acontecer, muitas vezes acompanhada por “batedeira no peito”, suor ou “embrulho no estômago”. Os sintomas da ansiedade são similares ao medo, estado que possui uma função importantíssima para a sobrevivência e adaptação ao ambiente. Lorena Caleffi, psiquiatra do Hospital Moinhos de Vento, explica que a ansiedade é um sentimento que percebemos como reação à percepção de alguma ameaça à integridade física ou até mesmo a sobrevivência. “Essa ameaça pode ser de origem externa ou interna. É um sentimento que faz parte do nosso funcionamento emocional e, quando adequada, tem uma função adaptativa e de proteção”, explica.

Em pesquisa divulgada pela Organização Mundial da Saúde em junho de 2023, dados apontam que 26,8% dos brasileiros receberam diagnóstico médico de ansiedade. Um terço (31,6%) da população mais jovem, de 18 a 24 anos, é ansiosa — os maiores índices de ansiedade, líder dentre todas as faixas etárias no Brasil. As prevalências são maiores no Centro-Oeste (32,2%) e entre as mulheres (34,2%).

Além de motivos concretos para se preocupar, como assaltos, trânsito caótico, desemprego e doenças, cada indivíduo tem suas ameaças pessoais, ou “encanações”, que podem até não fazer muito sentido quando analisadas à luz da razão, por exemplo, se o filho não come verdura, não significa que vai adoecer. Algumas pessoas ainda chegam a passar mal, ou reagem de forma “desadaptativa”, a situações ou objetos que os outros consideram comuns ou até divertidos, como shoppings lotados, eventos sociais, aviões ou pontes.

Lorena assinala que crises de ansiedade são reações não-adaptativas, que é quando o indivíduo apresenta uma reação além da adequada para o estímulo percebido. “Temos uma reação fisiológica de descarga de neurotransmissores e de cortisol no nosso organismo, que está vinculada ao sentimento de ansiedade”, pontua. De acordo com a psiquiatra, os gatilhos habitualmente estão nos pensamentos catastróficos que a pessoa, com ansiedade patológica, não consegue controlar. “Uma crise de ansiedade se caracteriza por sentimento intenso de ansiedade, associado a diferentes sintomas somáticos, que vão desde taquicardia e falta de ar, até a sensação iminente de morte por infarto, como nas crises de pânico”, alerta.

Lorena destaca que quando a pessoa já sabe que é portadora deste tipo de problema, fica mais fácil de lidar, pois já sabe que não está em risco de vida, e pode controlar sua respiração e seus pensamentos. “Quando ainda não possui o diagnóstico, a sensação física pode ser desagradável a ponto do indivíduo acreditar que é necessário atendimento de urgência”, explica. Já os familiares tem papel imprescindível para auxílio de quem sofre com este transtorno. Segundo a profissional, podem ajudar ficando junto, orientando a respiração mais profunda e prolongada. Evitando, por exemplo, expressões de desvalorização dos sintomas ou apenas dizendo para “se acalmar”. “As crises de ansiedade não ocorrem de propósito, acontecem além da força de vontade do indivíduo”, relembra.

Fotos: freepik

Vale destacar que assim como outros problemas emocionais que ainda sofrem preconceito, quem apresenta crises de ansiedade pode ter dificuldade nesse sentido. “Quando o preconceito é da própria pessoa, ocorre uma situação que atrasa o diagnóstico e o início do tratamento, pois o indivíduo não concorda em buscar auxílio, acreditando que vai dar conta sozinho do problema”, assinala Lorena.

Medo X ansiedade
O medo é uma reação natural do organismo diante de situações ou objetos específicos, que possam representar algum tipo de ameaça para a pessoa. A ansiedade, por outro lado, surge como um sentimento de antecipação ao futuro, gerando tensão. As duas sensações são naturais e funcionam como uma alerta ao corpo e a mente diante do desconhecido. No entanto, elas podem prejudicar a rotina de um indivíduo quando se tornam reações excessivas. Quando isso acontece, pode ser um indicativo de que existe um transtorno e é necessário buscar um profissional para o diagnóstico e tratamento adequado.

A ansiedade dá sinais
Um dos sintomas da ansiedade é a inquietação constante, pois quem sofre com o problema parece apresentar uma mente mais acelerada, com excesso de preocupações e pensamentos. O indivíduo tem dificuldade em ficar parado, focar em uma tarefa e até mesmo relaxar. A alteração no sono também é comum, como a insônia e dificuldade para dormir. A desregulação de apetite também pode ser um sintoma. Quando ansiosa, a pessoa tende a comer mais rápido, sem prestar atenção nos sabores e na mastigação. Além disso, algumas pessoas podem até mesmo desenvolver compulsão alimentar, tendo a comida como uma válvula de escape para as sensações que não consegue controlar.

A tensão muscular também é muito comum. As preocupações, nervosismo e angústia causam diferentes reações no corpo, por isso, a tensão é um dos principais exemplos do que a ansiedade pode causar no corpo. Como reflexo dessa falta de relaxamento, os músculos permanecem contraídos, gerando tensão em pontos distintos, como nos ombros, na nuca e nas costas, por exemplo. Esse processo transfere as tensões para essas áreas e trava os músculos, podendo gerar dor e desconforto.

O excesso de preocupações também é muito comum. Pessoas ansiosas tendem a apresentar uma preocupação excessiva com o futuro, o que pode ampliar os sintomas do transtorno. Quando as preocupações deixam de ser pontuais e passam a ser frequentes, trazendo angústias incontroláveis em relação a temas corriqueiros, elas podem afetar a eficiência de atividades diárias e, com isso, se tornam um problema. Além dos sintomas psicológicos, esse excesso também pode ter impactos físicos, como dores de cabeça constantes, problemas digestivos e dores musculares.

Os medos irracionais, já citados anteriormente, também são sinais. É onde a pessoa enxerga perigo em todas as situações do dia a dia. As mudanças repentinas e humor também podem indicar ansiedade. O volume de emoções pode levar a mudanças bruscas de humor ao longo do dia. A pessoa pode estar eufórica em um momento e logo em seguida ter uma crise de choro, por exemplo.

Diagnóstico e tratamento
A psiquiatra Lorena define que o diagnóstico é feito pela avaliação psiquiátrica da história clínica. Ainda não existem exames laboratoriais ou de imagem que sejam solicitados para esse fim. “É importante descartar outras doenças, que às vezes se apresentam com sintomas que podem confundir, para indicar o tratamento adequado”, alerta. Já o tratamento dos quadros de ansiedade se dá com medicamentos do grupo dos antidepressivos. Isso porque, conforme a profissional, essas medicações estabilizam os neurotransmissores e a função neuronal se reequilibra, o que leva ao controle dos sintomas. “Deve-se evitar o uso crônico de benzodiazepínicos, por uma série de consequências a médio/longo prazo”. Com tratamento adequado, é possível alcançar controle completo das crises de ansiedade.

Woman’s hand pours the medicine pills out of the bottle

Sintomas físicos
– boca seca;
– braços dormentes;
– náuseas e diarreia;
– problemas digestivos;
– calafrios, suor e tremores;
– taquicardia e dores no peito;
– respiração acelerada e falta de ar.

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