Agricultura ecológica muito além do pomar

Os benefícios dos alimentos orgânicos à Saúde são bem conhecidos. Agora é hora de falar como seu cultivo, sem veneno e adubo químico, afeta positivamente o Meio Ambiente nativo em torno e, por consequência, tem relação direta com o bem estar das pessoas. O conhecimento a respeito foi colhido na propriedade de Willian Rada e Maria Helena da Rocha, que por 27 anos se dedicam a este tipo de produção na comunidade de Coqueiral, interior de Pareci Novo.

fábrica de doces e geleias Novo Citrus na cidade de Pareci Novo TS com produção orgânica
Willian garante eficácia do sistema de tratamento da água por zona de raízes

Das frutas saudáveis, os agricultores produzem geleias e sucos da marca Novo Citrus; também usam maçã e uva produzidos na Serra Gaúcha; e maracujá, abacaxi e goiaba do Litoral. “Só compramos de produtores orgânicos certificados”, explica a esposa, que é técnica em Química, Gestora Ambiental com pós em Educação Ambiental e Sustentabilidade.

Ela ressalta a existência da lei nacional que regra o setor, com definições e determinações quanto a manejo, plantio, aplicações e proteção ambiental. Seu esposo, técnico em Mecânica, mas com conhecimento empírico de agricultura e longa experiência em “perrengues climáticos”, faz questão de assinalar que existe um leque de conceitos produtivos sob o mesmo ‘guarda-chuva’, sensíveis diferenças entre si: Ecológica, Orgânica, Biodinâmica, Biológica e Agroecológica.

“Na legislação é tudo igual. Mas quando fala em produção ecológica há toda uma filosofia”, explica Willian. Ele se refere à geração de energia limpa, como solar ou Eólica; destinação e reciclagem de resíduos; tratamento de efluentes e preservação de mata nativa. Uma teoria que a família Rocha pode demonstrar na prática, pois todo o descarte de produção da Novo Citrus passa pelo sistema “tratamento de água por zona de raízes”.

Este é um sistema no qual o dejeto líquido dos maquinários, formado basicamente de bagaço das frutas, cai no decantador e depois penetra pelo solo cruzando um canteiro de bananeiras que filtram, absorvem e evaporam o líquido. O pouco restante passa por mais dois tanques, um com plantas aquáticas, até estar limpo para retornar ao Arroio Maratá; pronto para consumo humano ou animal, e garantindo a vida de micro ecossistemas aquáticos.

Veneno fica no ar, na água na terra

Ao falar sobre o impacto ambiental, Maria Helena é enfática: “Quando se termina com a vida vegetal, se mata a vida animal”. Nesta frase da agricultora cabe também o “bicho homem”, ao menos em termos de qualidade de vida. O casal fala com expertise dos efeitos danosos dos venenos, onde são aplicados e em áreas distantes transportados pelo vento e pela chuva, conquistando credibilidade ao citar estes princípios ativos.

Maria Helena da Rocha - de Pareci Novo - 2023 - produção orgânica
“Quando se termina com a vida vegetal, se mata a vida animal”. Da Rocha; Maria Helena.

“Se fizer uma análise, todas as águas aqui na região vão apresentar algum nível de contaminação de Glifosato”, alerta Willian. Este herbicida é aplicado no solo para matar o capim, mas seu excesso chega às cidades através dos cursos d’água. Segundo o agricultor, na Argentina a presença dete veneno já foi detectada também no lençol freático, que sempre foi mais exposto aos adubos químicos, como o “Nitrogenado”.

Outra certeza é a de que os venenos suspensos no ar afetam também as árvores nativas, alterando seu ciclo reprodutivo e sua função de Fotossíntese (sequestro de carbono). Mata preservada é corredor verde para animais silvestres e garantia de habitat de pássaros e insetos, todos agentes polinizadores naturais, seja de plantas alimentícias ou árvores de sombra.

Agroindústrias orgânicas ganham selo próprio

A Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) lança na 46ª Expointer o selo “Sabor Gaúcho Orgânico”; derivação daquele concedido a agroindústrias. A nova certificação vai fomentar as iniciativas no Programa Estadual de Agroindústria Familiar (Peaf) dedicadas ao cultivo sem veneno; além de promover segurança alimentar e nutricional.

Mas para a adesão, o agricultor já precisa ter Certificação de Orgânico pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). “E já somos obrigados a ter o selo de orgânico no rótulo”, aponta Maria Helena, diretora da Novo Citrus. Ela observa que há diversas regras a respeito de informações que precisam estar na embalagem, sendo que assim restaria pouco espaço para mais um selo, enquanto o selo Produto Orgânico Brasil é insubstituível.

Todavia, Maria Helena acredita que muitos empreendedores irão gostar de agregar mais um cetificador ao seu produto, e isso não é nenhum demérito. Um fator qualificativo ao selo Sabor Gaúcho Orgânico é a identificação de alimento produzido no Rio Grande do Sul.

Novo Citrus - gelerias e sucos - produção orgânica - cidade de Pareci Novo / Rio Grande do Sul
Alimentos sem veneno certificados já recebem um selo federal e obrigatório

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