O advogado acusado de racismo em denúncia feita na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) na última terça-feira, 21, nega que tenha cometido crime. A reportagem tentou contato com o denunciado durante a tarde de terça-feira passada, através de ligação telefônica e mensagens pelo WhatsApp e Messenger. No final da noite, às 23h41, pelo Messenger, ele retornou, mas aí não foi mais possível incluir a manifestação na edição impressa de quarta-feira. Sobre as postagens, o advogado disse que “foi um questionamento feito… e esperei o resultado da opinião de cada um”. Afirmou ainda que: “foi uma opinião particular, de um caso jurídico específico, de uma pessoa negra, com diversas ocorrências policiais, mas não tem conotação racista”.
Em sua página no Facebook, o advogado também escreveu: “eu só ajudei o povo, independente da cor, branco ou preto. Foi postado um caso jurídico julgado, mas não tem conotação racista. Nunca fui racista”. Destacou que, devido à repercussão das postagens, esclarece que se trata de um processo jurídico criminal de duas pessoas, uma negra e outra branca. “Não se trata de racismo. São casos reais julgados e colocados junto ao público para opinião. Não ofendi ninguém e nem coloquei nomes”, postou o advogado, que depois retirou de sua página as postagens que geraram a denúncia.
Para o advogado, que não tem o nome divulgado porque o caso está sob investigação pela Polícia Civil, “sempre é bom questionar e ver a posição do público”. Ele levanta questões como: “o que é racismo? qual o efeito do racismo junto à sociedade e entre os poderes”. Nas postagens, explica que fez um paralelo entre os dois casos. “É um assunto muito complexo, que precisa ser discutido”, entende, defendendo uma discussão de forma sadia sobre racismo e preconceito.
Advogado fez contato com Fabrícia
Ontem, quinta-feira, em entrevista ao programa Estúdio Ibiá, a assessora parlamentar Fabrícia de Souza, falou mais uma vez sobre a denúncia. Lembrou que em 11 de abril do ano passado, quando era suplente de vereadora e chegou a assumir na Câmara como primeira vereadora negra de Montenegro, já tinha enfrentado uma situação de racismo. “Nada foi resolvido”, lembra. Sobre as postagens de agora, entende que também houve crime e, em contato com o grupo da Sociedade Floresta Montenegrina, presidido por Letícia Silva dos Santos, decidiu registrar a denúncia na DPPA.
Fabrícia diz que após a repercussão, o advogado fez contato com ela na última quarta-feira. “Ele me procurou e mandou mensagem dizendo que está arrependido e que não é racista. Não adianta dizer que não era a intenção. Algo tem que ser feito. Vai ter que se retratar com a população”, entende.
Nas postagens em rede social, o advogado fez comparações que deixaram Fabrícia revoltada. “Ele chamou mulheres negras e gordas, com ofensas e menções racistas”, declarou. “Vamos entrar com representação contra ele na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). É um caso muito sério. É racismo e gordofobia. Não podemos aceitar isso”, completa Luis Eduardo Conceição, que acompanhou Fabrícia na DPPA. Para a advogada Fátima Braga, se trata de um caso de racismo, pois ofende a coletividade. Ela entende que além deste crime e denúncia na OAB, cabe pedido de retratação.
O presidente da subseção da OAB Montenegro, João Pedro Ferreira da Silva Filho, disse que o presidente da Comissão da Igualdade Racial da OAB local, Leonardo Franco, foi contatado sobre o fato. E também foi informada a Comissão de Fiscalização do Exercício Profissional, para a tomada de providências. “A princípio, os denunciantes irão encaminhar representação perante a OAB, mas isto é feito de forma online, por um sistema específico. E a tramitação deste tipo de procedimento na OAB é feita sob sigilo”, informa. (GB)