A maior enchente dos últimos 80 anos

Rio Caí ultrapassou os 9 metros em Montenegro e deixou muitos desabrigados

Moradores do bairro Industrial, dona Izolete e o marido saíram pela quinta vez de casa neste ano devido às cheias do rio Caí. “Essa foi à maior de todas. Perdemos tudo e saímos com a água acima da cintura”, declara. O casal estava entre as cerca de 170 pessoas que foram encaminhadas para o ginásio Domingos dos Santos, o “Domingão” do Parque Centenário, e para o Recreo. Ainda sem previsão de retorno para casa, disseram que estavam sendo bem atendidos.

O número de resgates feito pelos Bombeiros e Defesa Civil foi bem maior, tendo retirado das residências 569 pessoas até o início da semana. Isso sem contar os que foram resgatados por populares, utilizando seus próprios barcos. Muitos flagelados acabaram indo para a casa de familiares ou amigos. E nenhum deles tinha passado por uma enchente tão grande. “Essa foi maior que a enchente de junho. Estragou tudo dentro de casa. Fiquei sem nada”, lamentou Tatiane, residente no bairro Ferroviário, que também foi levada para o ginásio Domingão, junto com mais três filhos. “Quero voltar para casa o quanto antes”, completou, enquanto estava na fila do café.

Pela régua da CPRM, o rio Caí atingiu 9 metros e 1 centímetro ao meio-dia de domingo, dia 19, quando estabilizou e começou a baixar lentamente. Até a tarde de ontem, segunda-feira, 20, tinha baixado cerca de um metro. Foi à maior enchente registrada nos últimos 82 anos, ficando atrás da grande cheia de 1941, de 9m20cm, que também chegou ao centro da cidade, mas quando a população do município era bem menor e por isso o número de desabrigados não foi tão grande. Chama também a atenção que foi a décima vez, em questão de quatro meses, que Montenegro chegou à cota de inundação. Nunca ocorreram tantas enchentes em um mesmo ano, sendo que a do ciclone de junho chegou a 8m70cm, pegando muitos moradores da zona ribeirinha de surpresa. Desta vez a inundação foi ainda maior, mas estavam todos avisados. Entretanto, para cuidar de seus bens, muitas pessoas preferiram não sair de casa. Quando viram a casa já estava com água pela janela e até alcançando o telhado, sendo obrigadas a pedir por socorro. A sorte foi que os bombeiros receberam o apoio de voluntários, Brigada Militar e militares de exército e felizmente todos foram salvos.

Na localidade de Matiel, em Pareci Novo, o trânsito também foi bloqueado

Além dos bairros, como Industrial, Ferroviário, Olaria, Municipal e Tanac, desta vez a enchente chegou ao centro de Montenegro. Na Rua Ramiro Barcelos ultrapassou a chamada “esquina dos bancos”, chegando a inundar a calçada em frente ao Banco do Brasil. Aliás, alguns bancos ficaram alagados. Na Rua Capitão Cruz chegou atrás da Praça Rui Barbosa, em frente ao Clube do Comércio. Isso no centro. Alcançou também outros pontos que nunca tinha afetado. E os montenegrinos ainda sofreram com outros problemas, já que até ontem de tarde, segunda-feira, grande parte da cidade ainda estava sem água potável fornecida pela Corsan. E algumas áreas ainda permaneciam sem energia elétrica. Além disso, as aulas foram suspensas nas escolas municipais, devendo retornar nesta terça-feira, com exceção da EMEI Tio Riba do bairro Ferroviário.

Outro problema é que a cidade ficou praticamente “ilhada”. Além das diversas ruas e estradas que ficaram alagadas, logo foi interrompida a RS-124 na ligação com São Sebastião do Caí e a Serra. No domingo foi bloqueada também a ERS-240, em Capela de Santana, próximo das pontes da antiga fábrica da Antarctica, que foi liberada ontem após o rio começar a baixar. Ainda na segunda-feira parte da pista da BR-386, perto do pedágio e da divisa de Montenegro com Nova Santa Rita, começou a ficar alagada.

Na localidade de Matiel, em Pareci Novo, o trânsito também foi bloqueado

1.234 resgates e 268 levados para abrigo
O coordenador da Defesa Civil, Clóvis Pereira, diz que 1.234 pessoas foram resgatadas, sendo que destas 268 foram para abrigo público e demais para residências de parentes. Ainda não se tem previsão de quando os flagelados poderão retornar para suas casas, já que existe previsão de mais chuva para esta semana, o que causa grande preocupação.
Ontem os Bombeiros e a Defesa Civil faziam novos resgates, já que o rio Caí estava inundando localidades como Porto Garibaldi e Volta do Anacleto, perto da BR 386.

População pode ajudar com doações
Os montenegrinos podem mais uma vez ajudar com doações para as famílias necessitadas. A secretaria municipal de habitação, desenvolvimento social e cidadania, Josi Paz, coordenou o atendimento dos desabrigados no ginásio Domingão, onde a quadra ficou lotada. “Quase não temos espaço mais para colocar colchões”, mostrou. Toda uma estrutura foi montada, incluindo até um pula-pula para as crianças poderem brincar. E são muitas crianças, grande parte delas bem pequenas, tendo uma até com apenas dois meses de idade.

A comunidade pode auxiliar com doações. Cada família está recebendo um kit higiene, com sabonete, pasta e escova de dente, papel higiênico. Mas os desabrigados estão precisando principalmente de roupas de cama, como lençol e coberta, além de colchões e travesseiros. Também podem ser doados produtos de limpeza. “As casas ficaram inundadas e molhou tudo”, destaca Josi. Ela informa que as doações podem ser encaminhadas para a Rua La Sale, 09, atrás do Lar do Menor.

Também está sendo distribuído hipoclorito de sódio na Rua Coronel Antônio Inácio, 92, de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e 13h30 às 16h30. O produto deve ser adicionado à água para consumo humano e preparação de alimentos, pois sua fórmula elimina os microrganismos causadores de doenças.

O Ginásio Domingão, no Parque Centenário, recebeu os desalojados de Montenegro

Prefeitos pedem ajuda ao governador
No início da tarde de ontem, segunda-feira, o governador Eduardo Leite chegou de helicóptero a São Sebastião do Caí, município mais afetado pela enchente na região e onde o nível do rio Caí alcançou 16 metros, na maior inundação já ocorrida na cidade. Os prefeitos da região aproveitaram para encaminhar pedidos ao governador, que prometeu agilizar a liberação de verbas. “Inicialmente serão repassados 400 mil reais para os municípios em estado de emergência e R$ 600 mil para quem está em situação de calamidade pública”, informou. Logo depois os prefeitos se reuniram com representantes da Defesa Civil do Estado para buscar orientações sobre o encaminhamento da documentação. “Mostramos ao governador que os municípios não vão conseguir se reconstruir sozinhos”, disse Zanatta.

Atestados para afetados pela enchente
Os atestados para as pessoas que tiveram de faltar ao trabalho por causa da enchente estão sendo emitidos na Secretaria Municipal Desenvolvimento Econômico, na Rua Capitão Porfírio, 2013, ao lado do estacionamento do Imec. Os que necessitam do documento devem se dirigir ao local com RG, CPF e comprovante de endereço.

A emissão, a cargo da Defesa Civil, seguirá até quinta-feira, no horário entre 7h e 12h e das 13h30 até 16h30. Qualquer dúvida pode ser esclarecida pelo telefone 3632-3040.

Situação de emergência é decretada
O prefeito Gustavo Zanatta assinou o decreto número 9.461, declarando Situação de Emergência nas áreas do Município afetadas pelas inundações. A decisão levou em conta os estragos provocados pela enchente decorrente das fortes chuvas que atingiram a região.

De acordo com medições feitas pela CPRM, as chuvas somaram de 80 a 150 milímetros em pouco mais de 24 horas, volume maior do que costuma ser registrado, historicamente, em todo o mês de outubro. O decreto autoriza uma série de ações de socorro, já em execução, e permite a convocação de voluntários para reforçar as atividades de resposta ao desastre. Além disso, fica autorizada a entrada nas casas, para prestar socorro ou para determinar a pronta evacuação.

“É a maior enchente da nossa história e, além do socorro e do atendimento aos desabrigados, certamente a água deixará um rastro de destruição”, ressalta o prefeito. O decreto permite uma ação mais rápida do poder público ante as necessidades da população, ao reduzir os prazos e a burocracia das obras e serviços de caráter emergencial.

 

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