Aleitamento materno previne doenças e fortalece vínculo entre mãe e bebê

Desde 1990, o dia 29 de julho é reservado para celebrar a Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM). A data foi definida em um encontro da organização Mundial de Saúde (OMS) com a Unicef. Um ano depois, foi fundada a Aliança Mundial de Ação Pró-Amamentação (WABA é a sigla em inglês). Em 1992, a WABA criou a Semana e a partir daí, todos os anos define um tema a ser tratado, lançando materiais que são traduzidos em 14 idiomas com a participação de cerca de 120 países.

Neste ano, a SMAM se concentrará no fortalecimento da capacidade dos atores de proteger, promover e apoiar o aleitamento materno em todos os níveis da sociedade, tendo como público alvo governos, sistemas de saúde, locais de trabalho e comunidades. São dias de intensas atividades que buscam promover o aleitamento exclusivo até o sexto mês de vida, se estendendo até os dois anos ou mais de idade. A SMAM está focada na sobrevivência, proteção e desenvolvimento da criança, sendo considerada um veículo de promoção do aleitamento.

A amamentação é um dos momentos mais importantes para aumentar o laço afetivo entre mãe e filho, com grandes vantagens para ambos. Amamentar os bebês imediatamente após o nascimento pode reduzir a mortalidade neonatal, que é aquela que acontece até o 28º dia de vida. O aleitamento materno na primeira hora de vida é importante tanto para o bebê quanto para a mãe, pois auxilia nas contrações uterinas, diminuindo o risco de hemorragia. O leite materno dado ao bebê após o parto faz o útero voltar ao tamanho normal mais rápido e diminui o sangramento.

Laiala Pithan, nutricionista especialista em crianças e gestantes. Foto: arquivo pessoal

Segundo Laiala Pithan, nutricionista especialista em crianças e gestantes, para a mãe, o aleitamento materno auxilia na perda de peso, reduz o risco de câncer de mama, ovário e endométrio e traz menor probabilidade de depressão pós parto, menores taxas de doenças cardiovasculares, respiratórias e gastrointestinais.

Já para a criança, o leite materno é inigualável por possuir todos os nutrientes necessários para a primeira fase da vida. Além de ajudar na proteção imunológica, traz ao bebê menor risco de doenças intestinais e respiratórias, menor risco de desnutrição, sobrepeso, obesidade e diabetes tipo dois, riqueza de anticorpos e, ainda, auxilia no desenvolvimento dentário. Também pode prevenir alergias, além de promover menor prevalência de doenças infecciosas como otite, pneumonia e gastroenterite. Sendo amamentado até, pelo menos, os seis meses de vida, o bebê também tem sua digestão melhorada, com minimização de cólicas.

Augusta Luize Harff, pediatra e responsável técnica da UTI neonatal do Hospital Unimed de Montenegro. Foto: arquivo pessoal

Augusta Luize Harff, pediatra e responsável técnica da UTI neonatal do Hospital Unimed Vale do Caí, explica que a amamentação também aumenta o vínculo entre a mãe e o bebê, ou seja, auxilia diretamente no desenvolvimento e crescimento da criança. “A distância que o bebê fica da mãe ao mamar é perfeita para a sua visão, que ainda está em desenvolvimento. Já o cheiro e o calor do colo da mãe são capazes de deixar o bebê mais seguro”, pontua. Segundo ela, no ato da amamentação é o momento em que a mãe e o bebê se olham e se apaixonam, fortalecendo o laço que nasce desde a concepção. “O aleitamento, inclusive, diminui a ansiedade das mães e dos bebês, faz com que chorem menos e desenvolvam um sentimento de confiança na mãe”, destaca.

Amamentar exige paciência
Mesmo com todos os benefícios, algumas vezes amamentar não é uma tarefa tão simples e prazerosa e podem surgir obstáculos que dificultam ou até interrompam esse processo. As causas dessas dificuldades podem ser inúmeras, de ordem fisiológica (como a mastite ou fissuras no seio, por exemplo), social ou emocional. Agitação, cansaço, estresse ou até mesmo um ambiente não favorável também podem atrapalhar a amamentação. Desta forma, é fundamental que a mulher conte com uma rede de apoio, feita de profissionais de saúde, familiares, empregadores, colegas de trabalho e outros atores possíveis, para dar suporte ao aleitamento materno e favorecer a amamentação.

A pediatra Augusta destaca que, durante o processo, a mãe precisa ter paciência, mas também persistência e principalmente apoio e ajuda. Segundo ela, atualmente existem consultoras de amamentação para auxiliar, o que faz muita diferença. “Algumas vezes o bebê necessita de estímulo para se adequar a mamada, pode necessitar auxílio para a pega correta, inclusive evitando que machuque a mama. Algumas crianças necessitam apenas ajuste na posição que são colocados para mamar”, acrescenta. Os desafios e dúvidas podem ser os mais variados. Buscar um profissional nestes casos é essencial.

Nem tudo são flores
Nathani Aparecida Angreghetto é mãe da pequena Elisa Andreghetto Ingracio, de apenas quatro meses. Sua primeira filha é a Helena, que hoje, com três anos e dois meses, foi amamentada até pouco mais de um ano. Nathani, agora amamentando Elisa, explica que os primeiros dias são os mais tensos e exaustivos. “Essa parte é pouco mencionada. É dolorido, fica febril, abre fissuras e há sangramentos. Mas, após alguns dias, a pele vai curando, começa a ficar mais fácil e menos dolorido o processo”, destaca. A mamãe ressalta que, mesmo sabendo que há algumas dificuldades, não tem reclamações. “Eu confesso que eu não posso me queixar de nenhuma das vezes que amamentei. Meu processo está sendo, de certa forma, tranquilo. Tenho conseguido conciliar com minha rotina e com muito amor. Eu amo amamentar”, diz.

A mamãe relembra que nem tudo são flores. “Na primeira vez, eu tive que cuidar alguns alimentos que eu consumia, pois notava uma certa irritação no intestino da Helena, como a pimenta, por exemplo”, salienta. Nathani conta que, desta vez, não está restringindo alimentos ou condimentos, mas alerta para que as mães saibam que cada gestação e cada bebê é único e tem reações diferentes.

Para Nathani, a amamentação exclusiva, quando possível, traz inúmeros benefícios para mãe e bebê. “Como qualquer produto industrializado, eu acredito que sempre o melhor é o natural, neste caso o leite materno. O vejo além de um remédio natural para praticamente tudo, como um calmante, um aconchego para o bebê, que ajuda muito principalmente na parte digestiva”, aponta. Ela ainda relembra que o vínculo com as pequenas sempre melhorou após amamentação. “É um elo que não tem explicação. É uma troca de olhares, de afeto, de carinho e de amor”, conclui.

Ela pretende amamentar Elisa entre um ano e quatro meses, o período de amamentação da primeira filha. “Após a introdução alimentar, a amamentação começa ser o complemento, diminuindo as frequências entre as mamadas”. Nathani ainda relembra que sempre teve o desejo de amamentar, mas sabia que a penas a intenção não é o suficiente. “Amamentar não depende apenas de querer, mas sim de cada organismo. Acredito que o psicológico também influencia bastante”, finaliza.

Apoio da família no processo de amamentação é fundamental para a mãe do bebê

Rede de apoio é indispensável para a mãe
“Amamentar não pode ser um sofrimento para a mãe”, ressalta Augusta. Mesmo com auxílio, algumas mães podem não conseguir realizar o processo de amamentação. “Isso não é o fim do mundo”. Ela destaca as fórmulas lácteas para recém-nascidos, claro, se assim for recomendado pelo médico. “Estudos mostraram que mães que não amamentam, mas tratam seus bebês com carinho e aconchego também possuem um aumento no vínculo. As mães que não amamentam exclusivamente não são menos mães por isso”, aponta. Augusta relembra que todas as mães que estão tentando o processo de amamentação estão dando seu melhor e pensando no bem do bebê, e é isso que vale.

Laiala destaca que quando o leite é escasso e não atende a demanda do bebê, é necessário seguir algumas recomendações do nutricionista a fim de auxiliar essa produção. “Alimentos adequados para uma boa energia, chá e suplementos para este período auxiliam positivamente nesses casos”, afirma. Já quando a mãe não produz nenhum leite, a recomendação, e sem qualquer perda de valor nutricional ou prejuízo no desenvolvimento, são as fórmulas infantis. “Pode ficar tranquila”, afirma a nutricionista. “Neste caso, a orientação de um profissional habilitado trará segurança e tranquilidade necessárias”, diz.

Tanto a pediatra quanto a nutricionista salientam que um dos pontos fundamentais para uma amamentação de sucesso é ter uma boa rede de apoio. “Como um pai que ajuda nas tarefas da casa para a mãe poder descansar nos intervalos das mamadas, uma família prestativa e que não fique julgando essa mãe com suas dificuldades e dúvidas, pessoas próximas que fazem com que essa mãe se sinta acolhida num dos momentos mais difíceis”, elenca Augusta. Todos os envolvidos com a maternidade devem lembrar que a mãe tem dúvidas, medos, incertezas e inseguranças, por isso o apoio é indispensável em todos os momentos. “Procure ajuda, não passe por este momento sozinha. Existem muitos profissionais para te ajudar”, aconselha Augusta.

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