Na manhã desta sexta-feira (23), a psicóloga e psicanalista Christiane Ganzo ministrou uma palestra no Teatro Roberto Atayde Cardona. A atividade integrou a programação da Semana Municipal de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes, evento promovido pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, através do Comitê Intersetorial de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, com apoio do Sesc.
Com rodas de conversa, intervenções públicas, palestras e apresentações teatrais, a programação iniciou na segunda-feira, 19, e se estende até a noite desta sexta-feira (23). Logo no início de sua apresentação, Chris Ganzo afirmou que a violência é a coisa mais constante em nossas vidas.
“Por que eu digo que a violência é a coisa mais constante? Porque desde cedo o bebê não é tratado como gostaria. O bebê gostaria de uma mãe à disposição o tempo todo. E não é o que acontece. Então, desde o início nós somos enfrentados com um mundo muito diferente do que a gente gostaria. Quando criança, então, a gente quer fazer coisas sem parar, não importa o que seja. E aí, os adultos vão nos cerceando. Então, nós percebemos o mundo desde muito cedo com muita violência”, declarou.
Ela pontua que as pessoas têm o costume de idealizar uma infância que não ‘existiu’, referindo-se à família ideal, à mãe ideal e ao pai ideal. “Isso não aconteceu. Eles (pais) foram muito bons. Se não, a gente não estava aqui, porque a gente não teria sobrevivido. Mas eles nunca foram como nós gostaríamos que eles tivessem sido. Nem nós nunca fomos quem eles gostariam que nós tivéssemos sido. A idealização é a marca da nossa sociedade”, salientou.
A violência sexual infantojuvenil é uma realidade alarmante. De acordo com dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, o Rio Grande do Sul registrou mais de 3.800 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes somente no ano de 2023. “A violência sexual tem camadas profundas e diversas, envolve sofrimento psíquico, social e relacional. É necessário compreender todo o cenário, a vítima, o agressor, o contexto familiar e social”, enfatiza Chris.
Em um quadro, ela trouxe – na cor vermelha – alguns sinônimos para violência/abuso: silêncio, medo, ameaça, culpa, vergonha, coerção, manipulação, desproteção, trauma, impunidade, negligência, violação, poder, controle, invasão, paralisia e sofrimento.
No mesmo quadro, a palestrante apresentou – na cor verde – alguns sinônimos para proteção/respeito: escuta, acolhimento, confiança, denúncia, segurança, dignidade, autonomia, liberdade, apoio, empatia, saúde, justiça, potência, fronteira, limite, consentimento, fato e cuidado emocional. De acordo com ela, são palavras que devem ser “buscadas” pela comunidade.