Uma grande operação, com cerca de cem policiais militares, foi realizada na tarde deste sábado, 6, para desocupação de uma área do Centro de Treinamento de Agricultores de Montenegro (Cetam), no bairro Zootecnia, próximo do campus da Unisc. Além do efetivo da Brigada Militar, incluindo o 5º BPM e Pelotões de Choque de Caxias do Sul e Porto Alegre, também participaram da ação o Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Samu e Conselho Tutelar.
Um grupo de cerca de 60 indígenas Kaingangs ocuparam o local no início da manhã de sábado, por volta de 6h, montando barracas e trazendo diversos pertences. Eles teriam vindo de tribos de cidades como Capela de Santana, para onde foram quando deixaram o bairro Centenário, em Montenegro. Outras famílias seriam de Nonoai, Tenente Portela, Iraí, Três Palmeiras e demais cidades.
O cacique Marcos da Silva alegou que foi uma retomada pacífica devido a um acordo em que teriam livre acesso nas áreas do Estado, mas lamenta que a Emater chamou a Brigada Militar para a retirada das famílias dos indígenas. “Temos crianças, deficientes e idosos. Atiraram e assustaram as crianças. Levaram nossas comidas e pertences”, protestou, após o grupo deixar o Cetam e ficar em uma estrada lateral. “Estamos lutando pelos nossos direitos”, completa.
Para o comandante do 5º BPM, tenente-coronel José Luis Krauze, a ação das forças policiais foi legítima, ressaltando que não houve nenhum disparo de munição letal. Diz que só foi utilizada uma granada fumígena, usada para dispersar a aglomeração e direcionada para posição sem risco de atingir pessoas. “Foram alertados por cerca de três horas para saírem da região, mas resistiram, tendo na semana passada já o pedido de retomada para a Emater. Houve uma insistência, durante toda a semana, com tentativas de invasão. Foi feita uma realocação de efetivo para que retornassem para sua tribo de origem. A Brigada Militar cumpriu a ordem de reintegração de posse a pedido da Secretaria Estadual da Agricultura e da Emater”, esclareceu. Citou ainda que foi oferecido transporte, com ônibus, para que voltassem para suas tribos, mas isso foi negado. Saíram então caminhando pela estrada, monitorados pela BM. O efetivo da corporação continuou nas proximidades, já que de acordo com o comando da Brigada os indígenas teriam manifestado a intenção de voltar a ocupar a área. “Se isso ocorrer teremos que novamente realocar espaços para impedir essa situação”, concluiu.
O Cetam, na área da antiga Estação Experimental e Posto Zootecnico, sedia cursos de treinamento para agricultores, ministrados pela Emater. Parte da área já foi ocupada, cerca de trinta anos atrás, por integrantes do movimento dos colonos sem terra (MST). Em 2021, um grupo de Kaingangs que tinha ocupado uma área do Estado próximo ao Parque Centenário de Montenegro, deixou o local e se transferiu para o antigo Centro de Treinamento da Mecanização da Lavoura (CTML) em Capela de Santana, também pertencente ao governo estadual. E agora parte das famílias deste grupo de Capela integrava os que estavam ocupando o Cetam em Montenegro.
Nota do Governo do Estado
”A área ocupada por um grupo de indígenas na manhã deste sábado (7/12), no município de Montenegro, pertence à Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), que utiliza o local para ações direcionadas aos agricultores, assistência técnica e capacitações, em parceria com a Emater. Ao perceber a fase de ocupação do local, acionou as forças de segurança para que fossem tomadas as medidas cabíveis para o zelo do patrimônio público.
Ao ser acionada, a Brigada Militar agiu conforme os procedimentos de intervenção para este tipo de situação, não tendo qualquer episódio de violência. Após a negociação com os indígenas, os mesmos se retiraram do local de forma pacífica.”