Os demônios

Rodrigo Dias
Professor

“Os Demônios” é um livro de Fiódor Dostoiévski e foi inspirado nos acontecimentos relativoa ao assassinato de um jovem estudante russo em 1869. Nele, o autor antecipa os ideários de Hitler e Stalin e demonstra como determinados percursos justificados por uma “grande causa” podem ser perigosos. Os demônios, de ontem e de hoje, têm sempre algo em comum: eles flertam e bailam com a violência e o autoritarismo.
Em seu livro “Direita e Esquerda”, Norberto Bobbio demonstra a atualidade de tal distinção política, apontando que a esquerda tende ao igualitarismo, exaltando mais o que deixa os homens iguais do que o que os faz desiguais. Ou seja, o direito à educação, o direito ao trabalho e o direito à saúde, são o que chama de “a razão igualitária”. Já a direita é aquela que defende que os homens são mais desiguais do que iguais e, no meu ponto de vista, é por isso que prefere o Estado mínimo, aquele que gasta o mínimo com a sociedade.
Entretanto, é necessário ter cuidado com as simplificações, pois o mundo político deve ser visto a partir de sua complexidade. Existem muitas direitas e esquerdas no “círculo cromático” das ideias políticas, inclusive é possível que direita e esquerda se toquem e partilhem de práticas comuns quando se tornam ditaduras sangrentas, como foi o caso dos regimes de Hitler (Alemanha) e Stalin (União Soviética).
A esquerda brasileira surgiu com os movimentos anarquistas trazidos pelos imigrantes italianos no início do século XX. Identificou-se ao socialismo Soviético a partir de 1922, com a fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), mas foi nas décadas de 70 e 80 que se renovou com o surgimento de um movimento que agregou em seu ideário a questão democrática e rompeu com o autoritarismo de Stalin. É necessário que se diga, ainda, que essa esquerda, durante o período em que esteve no governo, nunca deu um único passo para romper com a ordem democrática, atacando instituições como o STF e o Congresso Nacional, ou coibindo a imprensa.
Por sua vez, o atual governo brasileiro pode ser caracterizado como de extrema direita, porque sempre que pode ameaça com o fim da normalidade democrática, elogia torturadores, ataca imprensa, jornalistas e prega o uso da violência como solução aos problemas sociais. Mas também defende a desigualdade, pois prega o Estado mínimo, e quando se depara com uma crise social, como o coronavírus, prefere preservar a economia à vida. O atual governo nunca falou em combater a fome e agora combate o isolamento social em nome dela, porque, na verdade, precisa garantir privilégios acima de tudo. Por sorte, o Congresso Nacional, tão fustigado pelo governo, encaminhou a proposta de renda mínima para os mais pobres, a fim de amenizar a atual crise do COVID-19, por sinal, uma ação nada liberal.
Os movimentos autoritários geralmente não medem esforços para alcançar a “grande causa” e usam quaisquer recursos disponíveis: a censura, a tortura e, inclusive, a morte. É por isso que o atual governo relativiza as perdas causadas pelo vírus. Os demônios de ontem e de hoje não se importam com os meios, pois os fins os justificam. Neste caso, a vida vale menos que os resultados econômicos. Sinto muito, mas extrema direita é isso, ou pior!

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