Morro São João

Rodrigo Dias
Professor

Dizem que os filósofos Kant, Rousseau e Nietzsche eram grandes caminhadores. Suas caminhadas eram o momento para a organização de suas ideias. Quando vim para Montenegro, há 17 anos, logo me identifiquei com o Morro São João, com suas borboletas azuis, seus tucanos e graxains em meio a uma floresta com fortes traços de Mata Atlântica, e tudo isso exatamente no meio da cidade. Muitas vezes, fiz caminhadas no morro com meus filhos e, mais tarde, incluí-o em minhas corridas; assim, tomei o hábito de aproveitar a natureza para, ao longo de minhas atividades físicas, organizar, projetar, pensar e até inspirar-me para a escrita de textos.
Numa dessas corridas, veio-me a ideia de escrever sobre o próprio morro São João. Numa pesquisa rápida na internet, vi que existem muitas reclamações acerca do acesso, em função de seu mau estado e nenhuma manutenção. Para mim, que corro e faço caminhadas no morro, nada disso afeta e os percalços são até bons para o exercício. Observo que o morro é constituído por uma floresta bastante densa e só está ali porque o relevo íngreme não permite a instalação de edificações. Mesmo assim, em qualquer brecha dada pelas elevações, lá está o ser humano, e o resultado é sempre o desmatamento.
Seguindo em minha corrida, percorrendo o longo túnel verde que acompanha a estrada que serpenteia o morro, lembrei-me do projeto da Diretoria de Turismo da Prefeitura que pretende revitalizá-lo. Acho curioso que, na apresentação do projeto, não tenham citado o Conselho Municipal do Meio Ambiente, tampouco biólogos, geólogos, geógrafos, entre outros especialistas. Certamente há muito que fazer, no entanto, atitudes unilaterais não ajudam muito, pois é preciso um diálogo amplo com a sociedade civil na perspectiva da preservação ambiental em primeiro lugar. Por exemplo, transformar o morro numa Área de Proteção Ambiental (APA) e aplicar um Plano de Manejo parece-me a preocupação mais relevante e condizente com o futuro da cidade.
Segundo o filósofo Aristóteles, em “A política”, o que define as formas boas e más de governo é o fato de que as primeiras desenvolvem políticas em prol do bem comum; e as segundas, em benefício do bem privado. Preservar o Morro São João é garantir um patrimônio ambiental extremamente importante para as futuras gerações e, sobretudo, para todos usufruírem. Transformar o complexo do Gigante de Pedra (morros da Pedreira, São João, Formiga e mais o banhado até o rio) em uma APA só trará benefícios para Montenegro, inclusive em termos de investimentos, na área de turismo, por exemplo.
Caminhadas e corridas levam à reflexão. Por quê? Talvez porque pensamento seja movimento, podendo abrir, assim, caminho para contemplar o mundo na forma complexa que ele tem. Um projeto para o morro precisa dialogar com seus aspectos históricos, sociais, biológicos, geológicos, paisagísticos, etc. O turismo é importante, mas, sem preservação, ele não existe. Até porque, para contemplar a natureza, basta tê-la!

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