Era pequena e serena, dona de muita fé. Nenhuma palavra amarga expressava, mas, eventualmente, ouvia, e a dor em seu coração chegava a latejar. Preferia calar, porém ainda não aprendera a lidar com as mágoas que lhe causavam palavras ríspidas. Era suave com as pessoas, mesmo quando jovem. Tinha um olhar que expressava a bondade existente no coração. Rápida, fazia seu trabalho diário em casa com amor, jamais lamentava as obrigações a que se comprometera, mesmo as rotineiras. Era feliz no dia a dia, sem aspirar a grandes sonhos, aceitava a vida que tinha assim como era. Nisso, mostrava uma sabedoria significativa. De onde viria?
Lembramos de uma chuva torrencial, numa estrada descampada, com ventos, granizo e muita água que não permitia visualizar o caminho que percorríamos. Ela, na fé, entregava nas mãos de Deus e orava. Confiante, sem temer, seguia. Simplesmente tinha fé. Sempre observava o lado bom de todos com quem convivia. Às vezes, diante da doença, do sofrimento e de uma dor muito intensa, fraquejava e no seu choro, recorria à prece. Embora a dor continuasse, a sabedoria que a fé lhe dava, falava mais alto em si e, resignada, aceitava os desígnios de nosso Pai.
Não vacilava diante das dificuldades e, sempre que podia, a caridade em seu coração era externada de alguma forma, mas principalmente na prece. Tratava a todos com igualdade, ouvia com paciência e atenção, aconselhava sempre com as melhores palavras, amenizando as queixas e dores alheias. No entanto, não aprendera a lidar com as próprias dores morais. A mágoa permanecia no coração, era o que parecia. Não discutia, submetia-se sempre. E a dor latejava em seu peito e no seu pensamento. De vez em quando, manifestava essa dor a quem confiava. Ouvia conselhos para perdoar, e nada dizia, mas, de tempos em tempos, tornava a manifestar o que lhe doía no peito. No entanto, jamais negava um socorro, mesmo pra quem lhe havia magoado. Estava ali, era presente. A fé a fazia assim. No silêncio dela, recolhia em seu coração a dor sentida; no auxílio também silencioso, o perdão. Agora, compreendemos!
“Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si próprio; perdoar aos amigos é dar-lhes uma prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar-se melhor do que era.” (Evangelho segundo o Espiritismo, cap.X, item 15). Perdoar é um ato de amor. Ela, na fé, disso sabia. E perdoava! Mas a memória não a deixava esquecer! Uma lembrança apenas de dores sofridas que já estavam longínquas. Não latejavam mais. Quem a ouvia, talvez, ainda não conhecia verdadeiramente a grandiosidade do seu coração…
Sociedade Espírita Missionários da Luz