A flor, como sempre, lá estava. No para-brisa do carro. Ali ficava até ser vista pelo destino por ele escolhido. Na flor, murcha pelo tempo longo, um dizer em cada pétala: gosto de ti! E ao cumprir a missão que lhe havia sido dada, curvava-se e perdia a vitalidade. Ausência de água. Partia em paz! O recado havia sido entregue. A missão, cumprida! Assim, ele se foi. Ausentou-se longo tempo. Às vezes, um aceno longínquo, um cumprimento rápido. No entanto, a afinidade resistia. Talvez, de milhares de anos. Foi quando soubemos da repentina e implacável partida. Em silêncio, submeteu-se à dor, ao sofrimento do corpo físico, lentamente, o desligamento da matéria. Retornou à pátria espiritual! Muitas vezes, o olhar expressava tristeza. O sorriso surgia sem entusiasmo. As brincadeiras, às vezes, magoavam quem o rodeava, mas revelavam a carência afetiva que trazia dentro de si. Quem o conhecia superficialmente, nada observava, apenas o julgavam (com que direito?) inconveniente; porém sabíamos que nas atitudes havia um pedido de socorro e na flor deixada, o apelo: gosta, por favor, de mim!
E se foi pra vida espiritual. Fomos cegos, enquanto conosco conviveu? Olhávamos para ele como nosso irmão, filho de Deus, tentando auxiliá-lo nas dificuldades? Ou simplesmente, mergulhados em egoísmo e orgulho, julgávamos mais sábios e superiores a ele? Exatamente em atitudes como essa que encontramos o que chamamos de infelicidade. Embora não percebamos, o nosso agir, principalmente aquele de omissão, nos guia pelo caminho da melancolia e da dor, levando-nos a “mergulhar de repente na agonia da verdadeira infelicidade, daquela que surpreende a alma enfraquecida pela indiferença e pelo egoísmo” (Evangelho segundo o Espiritismo, cap.V, item 24).
Quando abrimos o coração a Deus, simultaneamente os olhos se abrem aos nossos irmãos. Olhar atento! Passamos a observar mais e a perceber que, na maioria das vezes, quando nos deparamos com respostas indelicadas, com atitudes que nos trazem ou pretendem trazer prejuízo material ou moral, com brincadeiras cuja pretensão é fazer rir muitas vezes sobre a dor de alguém, descobrimos que por trás de cada palavra, gesto ou atitude, há um irmão que por alguma razão sofre, seja por ausência de amor, de sentido pra vida terrena e de grande solidão. É um pedido de socorro!
A flor cumpriu a missão. Trazia a sensação da felicidade, de sermos amados e lembrados. O egoísmo nos cegava. Na flor, o amor que nos dedicava. A alegria que gostaria que tivéssemos. O apoio de um verdadeiro amigo. Um dar sem receber! Nas indevidas brincadeiras, a dor da solidão que havia em si na vida terrena; e a nossa ausência em amor! Na partida, o cessar da carência, a compreensão da mesma e a compensação na vida espiritual.