Se possível fosse tornar concreta a bondade, seria a figura dele que a representaria. Era assim, simplesmente bom. Cuidava da família com carinho e nada deixava faltar. Trabalhava com honestidade, cultivava amizades e, no olhar, a bondade se manifestava. Estava sempre disposto a auxiliar e semeava o bem no dia a dia, com palavras, com sorrisos, com auxílio material ou, às vezes, com um simples aperto de mão. No entanto, por momentos, as fraquezas o dominavam. Quem não as tem?
Levantava cedo. Tomava um café gostoso junto à família. Ouvia-os, aconselhava, corrigia com carinho e seguia para o trabalho. O dever profissional o chamava. À noitinha, ao retornar, já exausto, às vezes, sentia-se como vítima, escravo da família e sentimentos de ressentimentos o conduziam direto ao bar da esquina, onde encontrava supostos amigos. Com eles envolvia-se e mergulhava numa felicidade regada pelo álcool. Esquecia o dever moral!
Era cristão. Crescera numa família muito religiosa e alimentava em si a fé em Deus. Era um leitor fervoroso e passou aos filhos este hábito que o tornava um homem com uma vasta cultura. No entanto, esquecia o sábio conselho de Jesus “Vigiai e orai!”, incidindo no erro. Deixava de ser quem era, quando o vício o dominava. Esse só surgia no momento em que permitia no pensamento revolta, ódio, orgulho. Ao mesmo tempo, ao deixar-se transformar pela bebida, era temido, uma vez que sem controle, em gritos, não media as palavras que expressava.
Nesses momentos, extravasava sentimentos como o egoísmo e o desamor, este último, por si mesmo e por aqueles a quem mais amava. No capítulo XVII, do Evangelho segundo o Espiritismo, no item O dever, assim diz: “O dever começa precisamente no ponto em que ameaçais a felicidade e a tranquilidade de vosso próximo;” Nesses momentos, havia tristeza e lágrimas. Todos sofriam, inclusive ele, que se descobria fraco diante dos desafios que a vida lhe impunha. Ali, envergonhava-se da covardia e, quando a sobriedade começava a surgir, a humildade falava mais alto e o pedido de perdão era expresso entre lágrimas e muito sofrimento.
Os olhos de bondade, as brincadeiras e a alegria que expressava na convivência familiar se sobressaíram a toda dor daqueles momentos em que se deixava dominar, porque era bondoso e, na consciência, tinha claramente o amor de nosso Pai o chamando para se superar aqui na Terra e cumprir o planejamento da reencarnação. Na velhice, acordou para o sentido da vida terrena e, nunca mais se deixou dominar. Até hoje, quando anoitece e uma luz se acende, dele lembramos e sua voz ressoa, como antigamente, em nossa memória: Boa noite! Dorme com Deus!